Arquidiocese de Braga -

4 janeiro 2008

Um espaço Evangelizador

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D. Jorge Ortiga

Reabertura do Centro Apostólico

\nNa abertura das instalações do Centro Apostólico, gostaria de partilhar três ideias como pretexto duma permanente reflexão. Por temperamento e por consciência eclesial, penso que as obras da Igreja caminham ao ritmo da história e estão sempre a provocar um reequacionamento na fidelidade à missão da Igreja e aos objectivos para que nasceram. Esta atitude, em dia de festa, permite-me louvar a Deus pelas economias e trabalhos dispendidos, encarados com muita dedicação eclesial por parte da Comissão Addministrativa, mas, sobretudo, falar, com coração aberto sobre assuntos que considero pertinentes.
1 – Turismo Religioso – Experiência nova a repensar
Já não consideramos novidade falar de Turismo Religioso. Ele impõe-se por si. Só que urge ter a coragem de o interpretar na sua verdadeira identidade e de o situar no âmbito da missão da Igreja.
Houve um tempo em que se falava exclusivamente de peregrinação. Hoje, sem desconsiderar esta realidade, começamos a falar de Turismo Religioso correndo o risco de cair em diversas ambiguidades. Na verdade, para muitos ou alguns, começam a ser palavras sinónimas no esforço de modernizar fórmulas antigas através de linguagens novas.
Depois do Concílio Ecuménico, a Igreja teve o cuidado de apresentar um Directório para a pastoral do Turismo Religioso, «Peregrinans in terra», onde podemos encontrar o pensamento da Igreja sobre o assunto. Aí se afirma que a Igreja deve «cuidar e valorizar o turismo religioso assegurando a componente espiritual e tutelando o carácter sagrado das festas tradicionais» (Roma, 30 de Abril de 1969, n.º 24). Surgiram outros documentos. Nunca sendo exaustivo, relembro a Carta às Conferências Episcopais, «Igreja e mobilidade humana», Pastoral do turismo, de 27 de Maio de 1978. Aí se diz com clareza «o turismo chamado religioso realiza-se com os mesmos meios do turismo moderno, tornando possível a um crescente número de pessoas frequentar santuários ou de efectuar visitas de oração a lugares marcados pela piedade cristã». O facto deste documento usar o objectivo do «chamado» turismo religioso, está a lançar alertas. Ele é uma actividade humana com manifestações inéditas e inovadoras, com uma caracterização «mista», o que requer que os operadores leigos ou eclesiais sejam capazes de orientar e dar outro nível e qualidade às ofertas que fazem, dotando-as duma carga operativa cultural, mas que nunca esqueça o religioso e eclesial como suporte. Sem este cuidado podemos copiar iniciativas profanas e, em certos casos concretos, «secularizar» a peregrinação, chegando a uma espécie de sincretismo religioso amorfo ou, o que seria pior, a rondar um «mercado selvagem» do sagrado.
Torna-se, por isso, necessário ultrapassar um conceito de Turismo Religioso atípico que apresente alguns «esquemas» justapostos que torna possível olhar mais ao viver em comum que à experiência religiosa, ao divertimento que à reflexão, ao prazer de ver que à «contemplação visível». São realidades homogéneas e conciliáveis que, no tempo e no espaço, geram uma experiência que permite o acolhimento do «sagrado» e «do profano» mas que pode levar, para o quotidiano secular, o perigo dum dualismo entre turismo e religião. É possível harmonizar o desejo de conhecer, o prazer da cultura, o silêncio dos lugares místicos, a maravilha duma paisagem harmoniosa, a companhia, o repouso sereno, o gosto por uma boa cozinha, a comunicação com comunidades acolhedoras, a permuta intercultural e religiosa.
Este é o trabalho que urge descobrir, ou seja, o turismo religioso representa uma ocasião para crescer em humanidade e em religiosidade mesmo que não enverede pelas características duma autêntica peregrinação.
2 – Evangelizar para unir
Este desafio conduz-me a uma segunda observação. Haverá algo que «ligue» e permita esta simbiose, consciente da natureza bipolar deste fenómeno, mostrando congruência entre religião e turismo?
Os Santuários, no seu dinamismo interno e nas suas estruturas, devem «falar» claro sobre o seu significado e pregar, através das pessoas e das cerimónias religiosas, a beleza de Deus mesmo sem usar o Seu nome, se for esse o caso. Fazer Turismo religioso significa procurar o que a Igreja tem para dar. Outrora, perguntaram a Jesus, onde morava. Respondeu «Vinde e vede». O “vir” é fácil; o “ver” é uma responsabilidade que se não for proporcionada vai trair expectativas. A capacidade de mostrar Deus está nas cerimónias e nos espaços envolventes e, também, naquilo que se propõe.
Vejo este Centro Pastoral nesta perspectiva. Nasceu, como uma «Universidade para leigos». Esta é a sua identidade e ele será útil à Igreja se for fiel às suas raízes que muitos conhecem e reconhecem como necessidade para a Igreja em Braga e em Portugal.
A Arquidiocese sabe que pode dispor de condições adequadas para reflectir, rezar, conviver. Quem viver por turismo nunca deverá encontrar só uma qualidade hoteleira, ao lado de tantas outras. Pode ter as mesmas ou melhores condições materiais. Com elas, devem «respirar» algo de diferente. Isto numa vida quotidiana. Mas, será inadequado esperar que actividades evangelizadoras sejam oferecidas e organizadas? Deus está presente em tudo e nada do que é humano é estranho à Igreja. Se o tempo livre cresce e se o turismo é uma expressão duma humanidade em mobilidade que procura encontrar-se com tesouros, a luz do evangelho nunca pode ocultar-se. O actual tempo litúrgico mostra-nos Reis peregrinos que se deixavam conduzir por uma estrela. Não será paradigmático? Para mim, como Arcebispo, é: ou evangelizamos como prioridade condicionante ou enveredamos por um sincretismo religioso que pode ser comparado ao relativismo reinante e fruto duma globalização que destrói valores e vai nivelando a humanidade pelos mínimos sem critérios e valores de perenidade.
3 – Integrar-se numa unidade operativa
Resumindo, terei de afirmar que o Apostólico está antes da Albergaria e que esta não só não prejudicará aquele mas que dele receberá a razão de ser desta restauração. Continuamos a pretender formar homens e mulheres numa referência a Cristo e à Sua Palavra, servindo a todos com a solicitude maternal duma Casa de Nazaré.
Outro conceito que sublinho, nesta hora, é a necessidade de integração deste projecto noutras estruturas eclesiais. Não existimos isoladamente nem em concorrência. Privilegiamos a unidade e só esta testemunha Deus. Na unidade, os diferentes articulam-se e conjugam espaços para mostrar a beleza duma família diocesana. A Arquidiocese, por si ou pelas suas Instituições, dispõe dum conjunto de estruturas que importa unir para servir a todos segundo as suas exigências. Nunca nos podemos deixar motivar por critérios pessoais. Sentimo-nos filhos da única mãe e acolhidos sob o seu manto para gerar Igreja. Centro Apostólico Mater Eclesiae. Assim foi baptizado este Centro. Maria, Mãe da Igreja, na arte de ser discípula do Seu Filho, crescendo na formação cristã e na coragem de ser apóstolo partindo daqui para levar esperança a todo os sectores da vida humana.
Hoje é dia de Festa. Os corações agradecem à Senhora do Sameiro por quantos trabalharam e continuarão a trabalhar. Braga será mais conhecida por quantos nos procuram e nós saberemos acolher para que a esperança renasça e o mundo acredite no amor materno da Igreja.
Centro Apostólico, 04-01-08
† D. Jorge Ortiga, A.P.