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29 Mar 2020
Celebrar Cristo, nossa Páscoa e nossa Paz
Carta aos sacerdotes para viver a Páscoa em tempo da pandemia Covid-19
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Tendo presente a preocupação pelo bem estar de todas as pessoas que vivem no território da Arquidiocese de Braga, aproveito a oportunidade da Páscoa para vos dirigir a vós, sacerdotes, uma mensagem. Através de vós estou próximo de todos.

Para vós sou, nesta saudação, a pessoa mais agradecida: grato mil vezes por tudo o que estais a fazer, sobretudo neste tempo de pandemia, em favor dos irmãos e irmãs no Senhor Jesus. Espero que vos sintais bem, tal como todas as pessoas que servis nas comunidades e os vossos familiares. A vossa saúde e alegria dão-me coragem; são força, também para mim. Na graça do Espírito Santo, estejam convosco o Pai e o Filho.

Aproximam-se as solenidades da Semana Santa e do Tríduo Pascal. Vamos comemorá-las como deve ser, isto é, naquele espírito e verdade a que o Senhor nos convida. Como sabeis, foram publicados vários Comunicados e Decretos, da autoria de várias instituições eclesiais. Todos eles já foram enviados. Recomendo a sua leitura com o intuito de colocar em prática tudo o que é determinado. Estes documentos remetem para os ordinários dos lugares a forma de concretizar o que nesses documentos se dispõe. Eis porque vos escrevo. Mas antes de entrar em detalhes, ou sugestões, quero manifestar-vos o ânimo com que vo-las apresento. Assim vos abro o meu coração de pastor, numa linguagem muito coloquial e afectuosa.

 

1. Gestos que são uma fala de cura

Os gestos têm sempre um significado muito especial, eles são a fala dos amigos. Mesmo simples, ninguém os diminuirá. Sim, faz com que eles se tornem o suporte das tuas palavras. Neles comungámos o viver do mundo, uma vida com emoções, ferida como agora, ou na cicatriz que já não dói. No caminho que subimos para Jerusalém, com Jesus e por Ele, há pessoas caídas (cf. Lc 10,25-37). Façamo-nos próximos delas, sem desviar o olhar, nem as mãos, nem o coração. Seja para elas o nosso cuidado aprendido de Jesus, que, “ainda hoje, como bom samaritano, vem ao encontro de todos os homens atribulados no corpo ou no espírito e derrama sobre as suas feridas o óleo da consolação e o vinho da esperança” (Prefácio comum VIII). 

Por isso, ao celebrarmos o memorial da sua Páscoa, pedimos ao Pai: “Tornai-nos atentos e generosos para com as necessidades dos irmãos, de modo que, participando nas suas dores e angústias, alegrias e esperanças, lhes levemos fielmente a boa nova da salvação e sigamos, juntamente com eles, o caminho do vosso reino” (Oração Eucarística v/c; cf. Gaudium et spes, n.1). Este é o tempo que nos é dado: o tempo de redobrar a atenção, o tempo da medida larga em generosidade, o tempo de nos compartilharmos na hora da paixão. No dom de Jesus aprendemos a doarmo-nos, a repartir a luz à noite da dor. Daí a nossa gratidão a Deus, como quando rezamos antes de cantar o Santo: “Por este dom da vossa graça, também a noite da dor se abre à luz pascal do vosso Filho crucificado e ressuscitado” (Prefácio comum VIII). Nunca nos podemos afastar de um povo que vive momentos dramáticos. A nossa vida é sempre para eles. Revestimo-nos de todos os cuidados e somos escrupulosos no cumprimento de todas as orientações civis. 

 

2. Comunidades em Páscoa de páscoas

A vida das comunidades paroquiais tem expressões que jamais poderão ser suspensas. Os gestos e as palavras (cf. Constituição Dei Verbum, 1), com que Jesus concretizou o plano de salvação, colocam-nos dentro da “vontade” de Deus (cf. Ef 1,9). Esta é a pastoral que nos cura as feridas. A epidemia do covid-19 não pode afogar a torrente do dom. Mesmo que o cansaço e a dúvida nos batam à porta, procuremos ser perseverantes, no amor, àquela Palavra que entra pelas casas dentro e salva os irmãos na fé. Com Ele e por Ele daremos outra consistência à nossa fé. 

Diz, ó pastor, uma palavra e a ovelha te reconhecerá próximo. Alegrar-se-á na tua voz. A tua pronúncia não será esquecida, nem na única palavra que escrevas. Ela é o testemunho da tua bênção, o peso e a graça da tua piedade, do teu pensamento. A tua oração seja constante e muito concreta. Encontra-te com cada pessoa invocando o seu nome e expressando solidariedade cristã. Com o realismo que a situação exige, o povo deve saber e experimentar o quanto o amamos com gestos muito concretos. Celebramos sozinhos, sem a presença física das pessoas, mas encontramos outros gestos gratuitos que aproximam, identificam e unificam as nossas vidas. Há mensagens, contactos telefónicos, saudações pela internet. Tudo deve seguir o que a fantasia da caridade sugere. E digo mais uma vez: acrescenta-lhe a melodia dos gestos, como possas e quanto o amor te ditar. O teu gesto diz: Estou a teu lado, à tua frente, a teu lado, no teu meio, atrás de ti.

Eis porque vos peço, amados colaboradores de todos os dias, palavras e gestos alimentados no exercício do sacerdócio de Jesus, o Sumo Sacerdote que nos convém (cf. Heb, 7,26-28), nossa Páscoa. Assim celebraremos a Páscoa de Jesus, através de outras pequenas páscoas, pois ajudaremos a fazer a passagem do medo para a confiança, da divisão para a unidade. A dor não nos é retirada, mas a Páscoa deve acontecer. Quem sabe, uma mensagem dirigida a cada família, explicando a Páscoa como passagem do temor à serenidade, do medo à esperança, possa ser o verdadeiro “compasso” ou visita pascal a mostrar a força da fé para todos os momentos, mas particularmente para os conturbados. A Páscoa acontecerá através de pequenas páscoas presentes em gestos que mostram vida. Neles, o Ressuscitado está presente. 

 

3. Indicações pastorais para a Semana Santa e Tríduo Pascal

Como sabemos, “a semana Santa destina-se a comemorar a Paixão de Cristo desde a sua entrada messiânica em Jerusalém” (I.G.M.R., n.31). Tendo em conta tudo o que acima escrevi, estimulo todos os padres, e os diáconos no seu respectivo ministério, a celebrarem a Liturgia das Horas e a Eucaristia, em todos os dias previstos, pelo povo das comunidades onde servem. Será o mais compassivo gesto que teremos para com o Povo de Deus. Não será o único, mas será o mais belo do pastor. Cada um de vós estará autorizado a celebrá-las, sempre sem povo e nas condições que a máxima segurança da saúde pública o exija. Quanto à Semana Santa, seguiremos as indicações fornecidas pelo Comunicado pela Conferência Episcopal Portuguesa «Semana Santa e Tríduo Pascal em tempo de Covid-19», que já vos foi enviado. Para além das celebrações do Arcebispo, que serão transmitidas pela internet, poderão ser realizadas outras nas igrejas paroquiais e capelas das comunidades onde seja possível. Porque sem povo, importa colocar espírito e, para isso, deixo alguns pensamentos.

 

Domingo de Ramos na Paixão do Senhor

Na impossibilidade de o fazer exteriormente, somos convidados a agitar os ramos da nossa alegria interior, para comemorar a provocadora entrada messiânica de Jesus em Jerusalém. É Ele que alteia os pórticos antigos do nosso coração e rasga o véu que nos separava do encontro com Deus. Celebramos a eucaristia, na Sé Primaz, às 11h30.

 

Tríduo Pascal

Os acontecimentos comemorados, de forma expressiva, no Domingo de Ramos, são celebrados nos três dias do Tríduo Pascal, numa atenção especial a cada momento da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Tríduo que, note-se, começa apenas na tarde de Quinta-feira Santa, com a missa vespertina da Ceia do Senhor. Não temos Missa Crismal e Bênção dos Santos Óleos. Espero que a possamos celebrar no dia 19 de Junho, Solenidade do Sagrado Coração de Jesus e Jornada de Santificação do Clero. Como seria bom e agradável que todos os padres, na eucaristia da tarde, renovassem as suas promessas, feitas no dia da ordenação, e todo o povo rezasse por eles e por mim, para que sejamos abundantemente embebidos nas bênçãos de Deus, “na fidelidade a Cristo Sacerdote, Bom Pastor, Mestre e Servo de todos”. Peço, se possível, que utilizem a estola branca por mim oferecida. Com a imagem de Santa Maria de Braga e o logótipo da Arquidiocese de Braga, será, para todos nós, um sinal de unidade e de consolo recíproco.

Permiti-me um conselho como pai na fé e preocupado com o vosso bem-estar. As concelebrações apenas devem existir no caso das comunidades sacerdotais, isto é, em situações onde vivem na mesma casa e estejam em período de recolhimento ou quarentena. Juntarem-se, vindos de comunidades distintas, para celebrarem ou, noutras circunstâncias, fazerem reuniões é acrescentar um perigo desnecessário, sobretudo num período em que se prevê ser o pico da pandemia.

 

Quinta-feira Santa

Durante a tarde, celebra-se a Missa Vespertina da Ceia do Senhor. É verdade que o Missal Romano regista: “segundo uma antiquíssima tradição, são proibidas neste dia todas as missas sem participação do povo” (M.R. 245). Os sacerdotes celebrem a eucaristia sem a presença de qualquer pessoa. Os fiéis, infelizmente, porque impedidos pelas circunstâncias de todos conhecidas, procurem associar-se, através da participação espiritual e das transmissões pela internet, rádio e televisão, à celebração desta missa comemorativa da instituição do Sacramento da Eucaristia. Na impossibilidade de comungarem o pão e o vinho, em dia tão significativo, façam-no no modo espiritual. Quanto ao lava-pés, não o podendo eu fazer, sugiro que vos prepareis para esta missa, (como é hábito fazer-se no rito bracarense), ou então no final, realizando um gesto que manifeste a alegria do serviço familiar recíproco. Permanecemos a meditar na pergunta que Ele fez: “Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-me «o Mestre» e «o Senhor», e dizeis bem, porque o sou. Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também” (Jo 13,13-15). A eucaristia por mim presidida, na Sé Primaz, será às 16h.

 

Sexta-feira Santa

Neste dia, por volta das três horas da tarde, faz-se a celebração da Paixão do Senhor. Mergulhemos espiritualmente em todas as suas partes, desde logo no silêncio inicial durante a prostração. Na Liturgia da Palavra, estaremos atentos a todas as leituras, nomeadamente ao Evangelho, até porque nos fazem bem as narrativas longas. No final, exerçamos bem o nosso sacerdócio baptismal, ao rezarmos a oração universal por todo o mundo, acrescentando uma outra intenção por aquela que é hoje uma grave necessidade pública. Na adoração da cruz, adoremos uma única cruz, exposta em lugar digno, em silêncio e sem a beijarmos. Observemos, como convém, o jejum até à Vigília Pascal. A celebração será, na Sé Primaz, às 15h.

 

Sábado Santo e Domingo de Páscoa

Caída a noite, no Sábado Santo, celebra-se aquela que é, nas palavras de Santo Agostinho, “a mãe de todas as vigílias” (Sto. Agostinho, Sermo 219). Procuremos vivê-la de forma mais intensa, não obstante o esplendor que, noutras circunstâncias, ela poderia ter em formas exteriores: liturgia do fogo até ao extraordinário canto do Precónio Pascal; Liturgia da Palavra, neste dia mais abundante em leituras; Liturgia Baptismal, com a bênção da água e os sacramentos da iniciação cristã, e a cerimónia do “Accendite”, como se faz na Sé Primaz; Liturgia Eucarística, com a procissão da ressurreição, como se faz habitualmente na catedral. Recordemos que, como se menciona no Missal Romano: “esta é uma noite de vigília em nome do Senhor (Êx 12,42), noite que os fiéis celebram, segundo a recomendação do Evangelho (Lc 12,35ss.), de lâmpadas acesas na mão, à semelhança dos servos que esperam o Senhor, para que, quando Ele vier, os encontre vigilantes e os faça sentar à sua mesa” (MR 281). Lembremos, ainda, que, com esta vigília, celebramos o “Domingo de Páscoa da ressurreição do Senhor”. Não obstante a sua duração, e porque estamos até libertos de fazer a visita ou compasso pascal, vivamos intensamente estes momentos, tendo no coração todo o Povo de Deus, e celebremos com o esplendor espiritual possível a celebração da missa do dia, no Domingo. E que este clima de “plenitude da alegria” (Prefácios do Tempo Pascal), seja vivido até à Solenidade do Pentecostes. 

Para exteriorizar estes momentos de fé, peço às famílias que na noite de Sábado para Domingo coloquem na janela uma ou mais velas. Recordar-nos-ão o baptismo e convidar-nos-ão a ser luz no mundo. Durante o Domingo de Páscoa, os sinos devem tocar festivamente. A criatividade pastoral pode e deve ser usada para inventar outros sinais que manifestem a alegria pascal, nomeadamente um almoço festivo, com muitas ou poucas coisas, antecedido de um momento de oração, que poderá ser feito como o Cardeal Farrell sugere: “Fazer isto é simples: podemos reunir-nos todos numa sala, recitar um salmo de louvor, pedir perdão uns aos outros com uma palavra ou gesto entre esposos e entre pais e filhos, lendo o Evangelho do Domingo, expressar um pensamento sobre aquilo que a Palavra provoca em cada um, formular uma oração pelas necessidades da família, daqueles que amamos, da Igreja e do mundo. E, por fim, confiar ao cuidado de Maria a nossa família e cada família que conhecemos”.

A celebração no Sábado será às 21h e no Domingo às 11h30, ambas na Sé Primaz.

 

Conclusão

Tudo aquilo que vos peço a mim o imponho. É um jugo suave. Estou profundamente persuadido que encontrareis formas de concretizar em gestos, também sacramentais, a caridade pastoral (cf. Pastores dabo vobis, nn.21-23). Quando é que o Espírito nos faltou à imaginação da caridade e a discernir os dons? Alguma vez o Senhor Jesus nos abandonou, nos deixou órfãos? Confiemos! De novo o repito: Confiemos! Sim, naquela confiança que dá que fazer. Este é o abraço que vos proponho: o abraço entre o dom e a tarefa, a alegria de experimentar quanto Deus nos ama e a responsabilidade de O anunciar alegremente como Vivo e Ressuscitado.

Permiti que vos diga, assim tão simplesmente: A minha gratidão por vós é incomensurável. Agradecido a todos, permuto convosco ainda a minha saudação pascal, na bênção de Deus. Santa Páscoa. Aleluia. Aleluia. 

 

“Quando vão caindo as sombras da noite,
sei que desejais pedir como os discípulos de Emaús:
Senhor, o dia já está no ocaso, fica connosco (cf. Lc, 24, 29).

Fica para esclarecer as nossas dúvidas e temores.

Fica para fortificarmos a nossa luz com tua.

Fica para nos ajudar a sermos solidários e generosos.

Fica para que num mundo com pouca fé e esperança,
nos encorajemo-nos uns aos outros e semeemos fé e esperança.

Fica, para que também nós aprendamos de Ti
a ser luz para os outros e para o mundo”.
(João Paulo II, Abertura do Jubileu dos Jovens, Roma 1986).

 

 † Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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