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Comissão Justiça e Paz | 28 Fev 2023
Uma Quaresma com sobriedade digital e discernimento tecnológico
Texto quaresmal da Comissão Justiça e Paz
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  © Marvin Meyer - Unsplash

A crise climática e ecológica que tem afectado severamente o planeta torna particularmente recomendável a sobriedade digital e o discernimento tecnológico.

O que fazemos on-line pode, a muitos, parecer irrelevante, mas coisas tão rotineiras como o envio de um e-mail, a colocação de um “gosto” numa rede social, uma pesquisa num motor de busca ou o visionamento de um vídeo são acções poluentes.

Embora os comportamentos individuais adequados não sejam suficientes para combater a crise climática, não são, de modo algum, desprezíveis. O somatório dos nossos consumos digitais acaba por ter um impacto ambiental significativo, mesmo que disso, tantas vezes, não tenhamos cabal consciência.

O rasto de informações sobre tudo o que fazemos on-line – susceptível, aliás, de ser usado perversamente – é a nossa pegada digital e é, simultaneamente, uma parte relevante da nossa pegada de carbono e do volume total de gases com efeito de estufa que geramos.

Um simples e-mail não circula etereamente e a “nuvem” em que fica armazenado é um dos muitos enormes blocos que são constantemente edificados para guardar os dados das nossas interacções digitais. Esses espaços físicos funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana, e requerem imensos consumos de energia, desde logo, por ser necessário refrigerar potentíssimos computadores.

Embora os cálculos exactos sejam difíceis de fazer porque os e-mails podem demorar mais ou menos tempo a escrever e a ler ou podem conter anexos mais ou menos pesados, sabe-se ao certo que eles são poluentes. Os e-mails, em 2019, foram responsáveis pela emissão de cerca de 150 milhões de toneladas de CO2 no mundo, correspondentes a 0,3% da pegada carbónica global. 1E, em matéria de poluição digital, os seus efeitos são menos nocivos do que o visionamento de vídeos on-line2. Assistir durante um mês aos 10 maiores sucessos globais da TV da Netflix tem uma pegada carbónica que equivaleria a ir de automóvel até Saturno3 . Em nome do ambiente, é, pois, recomendável a adopção de alguma sobriedade digital.

Pequenos gestos – como, por exemplo, desligar os dispositivos tecnológicos, particularmente os smartphones – têm consequências, mas a parte mais significativa da poluição provocada pelos nossos aparelhos com ecrãs é expelida durante o processo de fabricação.

A necessidade de extracção de grandes quantidades de metais, que precisam de ser tratados para uso no fabrico de smartphones, computadores e televisores é gigantesca e muito problemática, desencadeando ou agravando conflitos armados, por exemplo4.

Esta razão deveria ser bastante para poupar e aumentar o tempo de vida útil dos nossos aparelhos. Quando isso não sucede, surge outra consequência nefasta: o nosso lixo electrónico vai contaminar vastas áreas em lugares mais ou menos recônditos do planeta para prejuízo da saúde dos residentes.

A sobriedade digital e o discernimento tecnológico oferecem benefícios variados, de natureza global e pessoal. A Quaresma proporciona uma boa oportunidade para, reflectindo sobre o que têm sido as nossas prioridades de vida, olharmos para a nossa relação com a tecnologia.

As tecnologias são instrumentos, não são finalidades. Daí a importância de defender uma espécie de soberania digital que, como a designação sugere, permitirá a cada um ter o poder de usar os dispositivos tecnológicos utilmente, em vez de ser por eles seduzido e escravizado.

“A liberdade humana só o é propriamente quando responde à sedução da técnica com decisões que sejam fruto da responsabilidade moral. Daqui a urgência de uma formação para a responsabilidade ética no uso da técnica”, escreveu o Papa Bento XVI em A Caridade na Verdade (70)5.

A sobriedade, designadamente a digital, permite prestar atenção ao que é mais relevante. Em vez de uma imponderada submissão perante as tecnologias, importa dar prioridade ao estabelecimento de vínculos com as pessoas.

Impõe-se que o relacionamento pessoal presencial tenha a primazia sobre as relações virtuais. Os dispositivos tecnológicos não devem empobrecer as relações humanas, as quais não frutificam quando se acantonam tribalmente, privando-se assim da diversidade frutuosa que o encontro gratuito com o inesperado é capaz de oferecer.

“A espiritualidade cristã propõe um crescimento na sobriedade e uma capacidade de se alegrar com pouco. É um regresso à simplicidade que nos permite saborear as pequenas coisas, agradecer as possibilidades que a vida oferece sem nos apegarmos ao que temos nem nos entristecermos por causa do que não possuímos”, defendeu o Papa Francisco em Laudato Si’. Sobre o cuidado da casa comum (222)6.

Olhemos menos para os ecrãs – tenhamo-los desligados durante um período diário.

Olhemos mais para o que está à nossa volta.

Prestemos mais atenção uns aos outros.

 

Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Braga

Fevereiro de 2023

 

 
 
1 https://carbonliteracy.com/the-carbon-cost-of-an-email/
2 https://theshiftproject.org/wp-content/uploads/2019/07/2019-01.pdf
3 https://www.theguardian.com/tv-and-radio/2021/oct/29/streamings-dirty-secret-how-viewing-netflix-top-10-creates-vast-quantity-of-co2
4 https://www.futura-sciences.com/planete/actualites/environnement-guerre-metaux-rares-deja-commence-interview-guillaume-pitron-92866/
5 https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20090629_caritas-in-veritate.html
6 https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20201003_enciclica-fratelli-tutti.html
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