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ANO PASTORAL
"Juntos no caminho de Páscoa"

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D. Nuno Almeida | 23 Fev 2023
Convertei-vos!
Homilia do Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Braga, D. Nuno Almeida, na celebração da Quarta-feira de Cinzas
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  © Avelino Lima

1. Ressoa, em toda a Igreja, um clamor por penitência, no seu sentido mais genuíno, isto é, por conversão, por mudança da mente, do coração, da rota da nossa vida.

Cada um de nós deverá fazer a sua parte. Mas todos precisamos de fazer penitência, porque somos todos membros de um só Corpo, com muitos membros, e este Corpo está ferido. Somos todos chamados a abraçar a Cruz, unidos a Cristo; só agarrados a Ele viveremos!

2. No contexto dos dias roxos que vivemos, é ainda mais importante caminharmos juntos, com aqueles que o Senhor colocou ao nosso lado, como companheiros de viagem, rompendo com a mediocridade e as vaidades – como nos recorda o Papa Francisco na sua mensagem para esta Quaresma. Aconselhando-nos a não perder de vista a meta, que é alcançar a nossa transformação pessoal e eclesial na Páscoa do Senhor. Caminhemos juntos. Abraçados à Cruz de Cristo, alcançaremos o presente da Páscoa. Apesar de tantas facetas de mal! No início da Quaresma, está diante de nós a realidade do mal natural, nos terramotos da Turquia e Síria. Continuamos a viver, com sobressalto, a tragédia da guerra na Ucrânia. Sentimos vergonha e dor por causa dos abusos sexuais que aconteceram na Igreja. Enfrentamos tantas faces de mal, conscientes de que o mal é sempre destruição. Mas agarrados, abraçados a Jesus Cristo e à Sua Cruz, dizemos sim à conversão sincera para renasceremos com a graça e a força da Sua Ressurreição!

3. O primeiro e mais difícil passo da conversão: converter-me à necessidade de conversão! Daí o apelo radical: “Convertei-vos”! É de sempre e para todos, a começar por mim! Aqui e agora!

“Convertei-vos a mim, de todo o coração!” (Joel 2,12). Eis o grito, que soa, aos nossos ouvidos, como sinal de alarme, e ressoa, no nosso coração, como um toque de trombeta, que nos arrebata, por dentro, e nos sacode, para fora de nós mesmos! Eis uma urgência inadiável, uma mudança, que é uma questão de vida ou de morte! E sabemo-lo bem: «Deus não quer a morte do pecador, antes quer que se converta e viva» (Ez.33,11). Este é o tempo favorável. Este é o tempo da salvação. 

«Convertei-vos, a Mim”», diz o Senhor! Mas o que é afinal esta conversão de que tanto se fala?! Antes de mais, conversão significa e implica um «regresso a Deus», um «retorno à Casa do Pai» (Lc.15,17). Conversão implica, pois, sair de si mesmo, como centro do mundo, renunciar a viver de si e para si, para se deixar guiar e transformar por Deus!

A conversão consiste essencialmente, na decisão de renunciar a fazer-se pelas próprias mãos, para deixar Deus criar e a recriar a nossa vida! Trata-se, no fundo, de renunciarmos aos ídolos, às coisas que nos ocupam inteiramente a vida e abusivamente o coração, para nos convertermos ao Deus vivo e verdadeiro (cf. Act.14,15; I Tes.1,9)!

4. “E teu Pai que vê o oculto te dará a recompensa!” Jesus di-lo hoje três vezes (cf. Mt.6,4.6.18) para que não o esqueçamos, em todo o tempo! As boas obras, da esmola,

da oração e do jejum, não podem ser, nesta Quaresma, uma espécie de encenação pública da nossa piedade envergonhada, à espera do aplauso, no final do espetáculo religioso! Não. Jesus chama a atenção para o que está oculto, para aquilo que se tece e acontece, no coração da nossa relação com Deus, nessa aliança silenciosa de amor, que Deus quer viver com todos e com cada um dos seus filhos!

5. No fundo, Jesus aponta para a dimensão interior, mais cordial e espiritual, da nossa vida cristã! O «mundo oculto», que os olhos do mundo não podem captar, esse terreno mais fundo, lá no mais íntimo do nosso coração, é verdadeiramente um lugar a cuidar, porque é aí que se escondem os tesouros mais ricos da nossa vida! Por isso, a chamada de atenção, para a prática das boas obras, não se reduz a prestar atenção às necessidades físicas e materiais do próximo, meu irmão. É preciso ir bem mais longe, é preciso ver o oculto, ver não só a pobreza material escondida, mas também a riqueza espiritual oculta e singular, que há a cuidar e a estimular, no coração da vida de cada um!

6. “Convertei-vos”. A conversão, como regresso a Deus e à graça da sua vida, iniciada em nós, pelo Baptismo, não pode desligar-se do compromisso concreto! No Evangelho proclamado é o próprio Jesus a lembrar-nos algumas práticas facilitadoras da nossa conversão: «a esmola, a oração e o jejum» (cf. Mt.6,1-6.16-18)! Tais práticas,

porém, destinam-se a um único fim: dar a primazia a Deus! Por exemplo:

a) Jejuar serve para despertar na alma a fome espiritual da Palavra de Deus e sentir na pele a fome real dos irmãos. Menos para mim, mais para os outros, tudo para Deus.

b) Partilhar é uma atitude preventiva e curativa, para que o dinheiro não se nos apegue, e não chegue a ocupar o lugar de Deus; antes sirva, para ir ao encontro do próximo!

c) Rezar, com tempo, na escuta da Palavra, pois quem disser que não tem tempo para rezar, já se deixou alienar pelas coisas e renega a Deus o seu lugar primeiro!

7. Procuremos elaborar um pequeno projeto, para esta Quaresma, em quatro pontos simples:

1º Fixar, com realismo, um tempo de oração diária. Quando e como? Escolha um tempo curto e um lugar certo!

2º Definir uma forma concreta de partilha, de tempo, seja de tempo, de serviço ou de dinheiro ou de tudo isto. Escolha quanto, quando e a quem!

3º Ver com humildade o aspeto da minha vida pessoal, que mais reclama mudança ou melhoria? Se a minha vida «está mais ou menos», então tenho de ver qual é esse «menos», em que preciso de mudar «mais».

4º Celebremos com alegria o Sacramento do Perdão e da Reconciliação, Sacramento do abraço de Deus. Só quem é abraçado pode ser transformado. Se calhar, já não o fazemos há muito tempo! Voltemos!

Diz-nos o Papa Francisco na sua mensagem para a Quaresma deste ano: “A Jesus, seguimo-Lo juntos; e juntos, como Igreja peregrina no tempo, vivemos o Ano Litúrgico e, nele, a Quaresma, caminhando com aqueles que o Senhor colocou ao nosso lado como companheiros de viagem. À semelhança da subida de Jesus e dos discípulos ao Monte Tabor, podemos dizer que o nosso caminho quaresmal é «sinodal», porque o percorremos juntos pelo mesmo caminho, discípulos do único Mestre.

Mais ainda, sabemos que Ele próprio é o Caminho e, por conseguinte, tanto no itinerário litúrgico como no do Sínodo, a Igreja não faz outra coisa senão entrar cada vez mais profunda e plenamente no mistério de Cristo Salvador.”

Não te contentes
em receber a cinza na cabeça.
Lembra-te que és pó.

Não te contentes
em arrepender-te.
Acredita no Evangelho.

Não te contentes
em converter os outros.
Converte-te.

Não te contentes
em mudar a cor das coisas.
Muda as coisas.

Não te contentes
em ser feliz.
Faz feliz alguém.

Não te contentes
em esperar a Terra Prometida.
Aceita o Reino que já chegou.

Não te contentes
em ler (ouvir) este poema de boas intenções.
Faz o teu de realidades.

 

 

Nuno Almeida
Bispo Auxiliar de Braga

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