Arquidiocese de Braga -

2 dezembro 2024

CARTA PASTORAL

JUNTOS, PEREGRINOS DE ESPERANÇA, NO CAMINHO DE PÁSCOA

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CARTA PASTORAL

JUNTOS, PEREGRINOS DE ESPERANÇA,

NO CAMINHO DE PÁSCOA

LEVAR JESUS A TODOS

 

Pax!

Irmão e Irmã, que a Esperança te encha o coração!

O Caminho de Páscoa que juntos estamos a percorrer tem como horizonte temporal o ano jubilar de 2033, a celebração dos 2000 anos da Páscoa de Jesus Cristo, abrindo-se, «assim, diante de nós um percurso marcado por grandes etapas, nas quais a graça de Deus precede e acompanha o povo que caminha zeloso na fé, diligente na caridade e perseverante na esperança (cf. 1Ts 1,3)» (Spes non confundit, 6).

Esta viagem interior é feita em lógica pascal, de morte e ressurreição,  que  leva  à  transformação.  Neste  movimento de renovação há algumas etapas intermédias que são muito oportunas e evangelizadoras, como a graça de dois anos jubilares: o Jubileu do nascimento de Jesus Cristo em 2025 e o Ano Santo Compostelano em 2027. Jesus Cristo é o Jubileu de todos os dias.

A peregrinação é vista, por alguns, como algo divertido e uma ocasião para conhecer mais pessoas, mas a peregrinação tem um enorme impulso evangelizador que permite levar Jesus a todos: pelo autoconhecimento, pela hospitalidade, pela comunhão com os outros, pela comunicação e pelo significado da fé e da cultura desta preciosa herança tão antiga e sempre nova.

As linhas pastorais que já traçamos são, para nós, um alento de esperança a «viver a doce e reconfortante alegria de evangelizar» (Evangelii Nuntiandi, 80). Foram bastantes e todos importantes os contributos recebidos, pelo que não podemos deixar de expressar - a todas e a cada uma das pessoas envolvidas neste processo sinodal missionário - a nossa mais profunda gratidão.

 

  1. 1.Conversão ao Evangelho, oração e vida espiritual

A oração em geral é uma coordenada necessária para reconhe- cer onde bate a esperança. «Se já ninguém me ouve, Deus continua a ouvir-me. Se já não posso falar a ninguém, se já não posso invocar nin- guém, a Deus posso sempre falar» (Spe salvi, 32).

A oração, temperada com aquela atitude gratuita que é a adora- ção, revela a qualidade esperançosa de uma alma e de uma comunida- de. A oração torna-se um sinal precioso, mas também uma prática que alimenta a própria esperança.

Prosseguimos com os dois trilhos do caminho sinodal de Páscoa: conversão ao Evangelho e oração e vida espiritual. Ser cristão é estar permanentemente a caminho, isto é, ser peregrino. «Viver é a infinita paciência de recomeçar» (E. Ronchi). Peregrinar é uma atitude de esperança para recomeçar cada dia no dom pascal do Espírito Santo, que sugere caminhos a percorrer.

Na realidade, como nos recorda o Papa Francisco: «não existe espiritualidade cristã que não esteja enraizada na celebração dos santos mistérios. (...) A liturgia é ação que fundamenta toda a vida cristã e, consequentemente, também a oração. (...) Um cristianismo sem liturgia é um cristianismo sem Cristo. Sem Cristo total» (Audiência Geral, 3 de fevereiro de 2021).

Por isso, a Igreja é o Povo de Deus em caminho, sendo a «assembleia daqueles que olham com fé para Jesus, como autor da salvação e princípio da unidade e da paz, (...) a fim de ser, para todos e cada um, sacramento visível desta unidade portadora de salvação» (Lumen Gentium, 9).

Sem oração não há missão. Ou melhor, sem liturgia não há missão e vice-versa. Contudo, «a Liturgia é uma coisa viva, mas frágil; morre nas mãos de quem não a sabe tratar. A Liturgia é uma coisa viva, mas só se é dinâmica, voltada para o futuro, com a advertência que o seu dinamismo está entre dois polos: o mistério de salvação realizado por Cristo e o mesmo mistério de salvação a realizar-se em nós» (S. Marsili). A celebração litúrgica é escola permanente de formação em Jesus Cristo ressuscitado, onde a Igreja aprende a «saborear como o Senhor é bom» (Sl 34,9; 1 Pd 2,3) e a alimentar a esperança até chegar à medida plena do próprio Jesus Cristo (cf. Ef 4,13). A Liturgia é adoração silenciosa. A Liturgia é, por si mesma, pastoral.

Efetivamente, o Ano Litúrgico é uma verdadeira mistagogia, ou seja, uma autêntica introdução no mistério de Cristo por meio da celebração e da catequese litúrgica, «partindo do visível para o invisível, do sinal para o significado, dos “sacramentos” para os “mistérios”» (Catecismo da Igreja Católica, 1074).

Como bem avisou São João Paulo II: «Não haja ilusões! Sem esta caminhada espiritual, de pouco servirão os instrumentos exteriores da comunhão. Revelar-se-iam mais como estruturas sem alma, máscaras de comunhão, do que como vias para a sua expressão e crescimento». 

  1. 2. Caminhar juntos com Jesus Cristo

Posso perguntar-me: «O que é que tem a ver aquilo que estou a fazer ou a dizer com a evangelização?» (C. M. Martini). Então, como posso transformar a realidade à luz do Evangelho?

Para uma Igreja sinodal ao serviço da missão, estamos desafiados à essencialidade do Evangelho. Viver na busca do essencial é essencial. Mas, o que é essencial? O Papa Francisco lembra-nos: «o que para nós é essencial, mais belo, mais atraente e ao mesmo tempo mais necessário é a fé em Cristo Jesus».

Como sublinha o documento final da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, na segunda sessão de 2 a 27 de outubro de 2024, no número 115: «o nosso compromisso, sustentado pelo Espírito, é fazer com que a Igreja seja sentida como uma casa acolhedora, um sacramento de encontro e de salvação, uma escola de comunhão para todos os filhos e as filhas de Deus. A Igreja é também Povo de Deus em caminho com Cristo, no qual cada um é chamado a ser peregrino de esperança. Disto mesmo é sinal a prática tradicional das peregrinações. A piedade popular é um dos lugares de uma Igreja sinodal missionária».

O evangelizador anuncia, escuta, espera e acompanha, confiando na ação do Espírito Santo que tem os seus ritmos. Dizemos não ao proselitismo, que força as pessoas. A conversão começa por mim, por ti.

Sonhamos comunidades cheias de discípulos missionários. Todavia, «a quem enviaremos? Eis-me aqui, podeis enviar-me» (Is 6, 8). É falso dizer: «o homem dos nossos dias não é religioso». Pode até parecer um paradoxo, mas pode-se evangelizar nas feridas de hoje. Há que combinar o anúncio do Querigma com a denúncia profética. Evitar as autocríticas complexadas e o autocancelamento.

Temos de cuidar da fé, pois ela não é um ato intelectual, mas uma renovação que transforma a vida numa relação viva com Jesus e com a comunidade. Por isso, «como costumam cantar os caminhantes: canta e caminha; cantando, alivia a fadiga, mas não te dês à preguiça; canta e caminha. Que quer dizer: “caminha”? Avança, progride no bem. Há alguns, como diz o Apóstolo, que progridem no mal. Tu, se progrides, caminhas. Mas progride no bem, progride na verdadeira fé, progride na vida santa. Canta e caminha» (Santo Agostinho, Sermão 256).

A Igreja é peregrina de esperança. A esperança é sempre peregrina. «A peregrinação a pé favorece muito a redescoberta do valor do silêncio, do esforço, da essencialidade» (Spes non confundit, 5). A alegria da esperança é não esperar para ter alegria, mas esperar por ter alegria. Viver em “santa Esperança”!

A peregrinação leva-nos a ir mais em profundidade. Por isso, «o peregrino – ao contrário do turista – não se põe a caminho com o objetivo principal de conhecer países estrangeiros, mas para, depois de se ter distanciado do que é seu, acabar por descobrir o valor e o mistério da sua própria casa» (T. Halík). A renovação sinodal missionária da Igreja é este caminho de espiritualidade em Jesus Cristo para experienciar o sentido da vida.

3. Renovar

O que é que está a acontecer na Igreja? Sentimos a mudança do paradigma cultural e o fim da cristandade? Como estamos a gerir o declínio e o abandono em algumas comunidades no pós-pandemia? O que é que está a mudar na Igreja? Que métodos do primeiro anúncio estão a ser implementados? Qual a proposta da Igreja? Evangelizar é a missão da Igreja, nada é mais importante que evangelizar. 

Nos passados dias 19 e 20 de outubro, no Auditório Vita, vimos acontecer o primeiro passo de um percurso para acompanhar a concretização dos trilhos do Caminho de Páscoa. Sob o lema: Renovar. Levar Jesus a todos, aqueles dias mostraram um entusiasmo arquidiocesano que já está a ter desenvolvimento e vai continuar ao longo do ano pastoral, noutros momentos de sinodalidade, com mais de uma centena de cristãos dispostos a fazer acontecer a conversão pessoal e pastoral na nossa amada Arquidiocese de Braga. Já agendamos, por isso, uma nova etapa do Renovar, a realizar de 18 a 19 de outubro de 2025. Será possível a participação de todas as paróquias? Entretanto, sejam implementados, onde for possível, alguns percursos formativos e de conversão dos processos.

A vida espiritual consiste em viver de acordo com o Evangelho: «por isso, vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus. Seja este o vosso verdadeiro culto, o espiritual. Não vos acomodeis a este mundo. Pelo contrário, deixai-vos transformar, adquirindo uma nova mentalidade, para poderdes discernir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito» (Rm 12, 1-2).

Com efeito, «a Igreja tem já muitos lugares e recursos para a formação de discípulos missionários: famílias, pequenas comunidades, paróquias, agregações eclesiais, seminários, comunidades religiosas, instituições académicas, mas também lugares de serviço e de trabalho com os marginalizados, experiências missionárias e de voluntariado. Em todos estes âmbitos, a comunidade exprime a sua capacidade de educar no discipulado e de acompanhar no testemunho, num encontro que muitas vezes reúne pessoas de diferentes gerações. A piedade popular é também um tesouro precioso da Igreja, que ensina o caminho a todo o Povo de Deus. Na Igreja, ninguém é mero destinatário da formação: todos são sujeitos ativos e têm algo a dar aos outros» (Documento final do Sínodo sobre a sinodalidade, 144).

Rezemos com um hino da Liturgia das Horas, cantando assim: «pois que tudo renovais, / renovai as nossas forças / na paixão de Vos servir». Renovar é ser fiel ao mandato de Jesus: «Ide, fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo quanto vos ordenei» (Mt 28, 19- 20).

Sair, evangelizar e discipular são verbos ativos no nosso caminho arquidiocesano de Páscoa, para passarmos de uma Igreja de cristandade a uma Igreja em missão. Uma Igreja em atitude de oração, formação, renovação e missão, cada vez mais atenta a todas as pessoas e aos sinais dos tempos. Uma Igreja que se faça companheira de viagem dos jovens, atenta aos seus sonhos, anseios e dificuldades, sabendo que os jovens procuram a Igreja, não para se divertirem, mas para se alimentarem interiormente. Uma Igreja que sinta, viva, partilhe e se empenhe a ajudar a resolver os inúmeros problemas que hoje atingem as famílias.

Certamente que temos de buscar novos modos de ser comunidade. Claro que existem muitas ferramentas para promover uma cultura de primeira evangelização. Por exemplo, os cursos Alpha, os Convívios Fraternos, o Renovamento Carismático Católico, os Cursilhos de Cristandade, o Seminário de vida no Espírito Santo..., são um método de primeiro anúncio. Todos somos chamados à criatividade pastoral na fidelidade do Evangelho.

A Igreja renova-se na conversão pastoral missionária, como escreveu São Paulo VI: «A Igreja está hoje mais do que nunca viva! Mas, reparando bem, parece que tudo está ainda por fazer, o trabalho começa hoje e não acaba nunca. É lei da nossa peregrinação na terra e no tempo. É este, Veneráveis Irmãos, o múnus habitual do nosso ministério: tudo o estimula hoje a renovar-se, a tornar-se vigilante e operoso» (Ecclesiam Suam, 68).

O que é que impede a minha paróquia de crescer?

Juntos, temos de repensar a paróquia, qual comunidade de comunidades. A mobilidade das pessoas é cada vez maior, num “território existencial” em que se desenvolve a sua vida. Por isso, a paróquia não está centrada em si mesma, mas orientada para a missão (cf. Documento final do Sínodo sobre a sinodalidade, 117).

São João Paulo II referiu-se de modo eloquente à paróquia: «A comunhão eclesial, embora possua sempre uma dimensão universal, encontra a sua expressão mais imediata e visível na paróquia: esta é a última localização da Igreja; é, em certo sentido, a própria Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas». A Igreja não é um movimento, mas uma comunidade que reúne todos os crentes em Cristo, sem distinção, para que todos celebrem a sua fé, esperança e caridade. A paróquia é a célula base da Igreja; não é apenas uma divisão administrativa da diocese ou inserida numa unidade pastoral, mas um espaço eclesial na qual a Igreja se dá como um todo no fragmento.

A paróquia é gerada pela Eucaristia, sobretudo ao domingo, dia do Senhor, qual momento constitutivo da vida paroquial, o seu bilhete de identidade; ela gera os filhos para a fé e para a vida eclesial através da iniciação cristã; cresce na sua força missionária, animada por uma experiência de comunhão, investindo todo o seu trabalho educativo e pastoral.

A paróquia, comunidade de fé, celebra os momentos importantes da nossa vida, como por exemplo: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Reconciliação, Matrimónio, Unção dos Doentes, Exéquias... e educa nos caminhos da pastoral evangelizadora: catequese paroquial ou da Unidade Pastoral; grupos e movimentos juvenis, formação de adultos, movimentos e associação de fiéis.

Além disso, a paróquia presta muitos outros serviços: ajuda fraterna, atendimento das pessoas, visita aos doentes e idosos, centros sociais paroquiais, cuidado e administração do património, dinamismo social e comunitário da caridade. É uma comunidade de discípulos missionários em que todos os fiéis são chamados a colaborar na vida e na missão de levar Jesus a todos.

A comunidade dos peregrinos tem na Eucaristia a sua própria mesa, sendo a origem e a meta da peregrinação da esperança. «Para muitos fiéis, a Eucaristia dominical é o único contacto com a Igreja: cuidar da sua celebração da melhor maneira possível, com particular atenção à homilia e à “participação ativa” (SC, 14) de todos, é decisivo para a sinodalidade. Na Missa, de facto, ela acontece como uma graça concedida do alto, antes de ser o resultado do nosso esforço: sob a presidência de um e graças ao ministério de alguns, todos podem participar na dupla mesa da Palavra e do Pão. O dom da comunhão, da missão e da participação – os três pilares da sinodalidade – realiza-se e renova-se em cada Eucaristia» (Documento final do Sínodo sobre a sinodalidade,142).

Na dinâmica do primeiro anúncio, em que a Igreja anuncia o Evangelho e desencadeia a conversão pastoral e missionária, lembrou o Papa São Paulo VI: «Evangelizadora como é, a Igreja começa por se evangelizar a si mesma. Comunidade de crentes, comunidade de esperança vivida e comunicada, comunidade de amor fraterno, ela tem necessidade de ouvir sem cessar aquilo que ela deve acreditar, as razões da sua esperança e o mandamento novo do amor» (Evangelii Nuntiandi 15).

Neste itinerário pascal para uma renovação sinodal na Arquidiocese, deve constituir-se, nas paróquias ou unidades pastorais, o Conselho Pastoral Paroquial (cf. Código de Direito Canónico, can. 536§1) onde este ainda não exista, como expressão da corresponsabilidade diferenciada.

4. Que arte para acender a luz?

Arder e iluminar é a inspiração que recebemos do grande arcebispo bracarense, São Bartolomeu dos Mártires, a fim de incendiar os corações para Jesus. Sim, só com corações ardentes, os pés se põem ao caminho. Quem não arde, não incendeia. Com efeito, «se a Igreja visível de hoje não é a Igreja “apostólica”, não continua realmente a missão de Cristo e não é a Sua Igreja» (H. Du Lubac).

A missão não é só dos bispos, presbíteros, diáconos, consagrados, mas compromete todos os cristãos. A comunidade cristã é o lugar onde o Espírito Santo se manifesta (1Cor 14) com a riqueza dos carismas. Estamos conscientes que «a missão é sempre idêntica, mas a linguagem com a qual anunciar o Evangelho pede para ser renovada, com sabedoria pastoral» (Papa Francisco).

De Domingo em Domingo, de Páscoa em Páscoa, a Igreja caminha na história na fidelidade ao Evangelho. A Eucaristia é Vida essencial: nela e a partir dela podemos efetivamente levar Jesus a todos e todos a Jesus.

Que enorme sonho que faz sonhar em grande! O Bispo Hélder da Câmara, de feliz memória, acreditando na utopia de quem se envolve, escreveu: «Nunca se deve temer a utopia. Agrada-me dizer e repetir: quando se sonha só, é um simples sonho, quando muitos sonham o mesmo sonho, é já a realidade. A utopia partilhada é a mola da história».

Muitos não católicos perguntam-nos: «Que fazeis vós mais que nós? Qual o contributo que dais como católicos? Não fazeis, no fundo, as mesmas coisas que nós, talvez até menos do que nós fazemos pela humanidade?».

O célebre teólogo K. Rahner expôs numa conferência que intitulou O concílio – começar de novo: «Um começar de novo – para onde? Naturalmente para o princípio que sempre foi proposto e vivido, para Jesus Cristo, ontem, hoje e em toda eternidade, para a sua graça, a única que salva e que nos abre a porta para o Deus vivo. Começar de novo, de tal forma que Jesus Cristo e a sua Igreja, de hoje e de amanhã, se encontrem verdadeiramente. Isto é, um começar de novo por uma Igreja da gratuidade da graça, por uma Igreja de nosso Senhor e Salvador, por uma Igreja da Palavra de Deus, da fraternidade, da esperança, do amor e do serviço humilde, da alegria no Espírito Santo, de um amor que ultrapassa todo o legalismo; para uma Igreja que no ser mais profundo da sua missão se deixa interpelar pela misteriosa saudade do que há de vir e pelas necessidades do tempo presente; que aprende enquanto ensina, que recebe enquanto dá, que reina enquanto serve; começar de novo de uma Igreja que já era, mas que ainda se está a tornar no que verdadeiramente é, sempre de regresso à sua única origem, princípio e Senhor da história do mundo, em cujo futuro sombrio a Igreja se deixa conduzir por este único Senhor. Para que seja um autêntico começar de novo, ainda falta muito, falta fazer quase tudo» (K. Rahner).

A Igreja é chamada a promover a conversão pessoal e pastoral, para que as comunidades se tornem cada vez mais centros determinantes do encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo ressuscitado e vivo.

Estamos numa grande encruzilhada da história da Igreja e do Mundo, num ponto de viragem. Estamos também conscientes que «não precisamos de um cristianismo como ideologia ou de uma Igreja como poder político. Precisamos de uma escola de sabedoria, da arte do discernimento espiritual» (T. Halík).

A Igreja não existe e não pode viver só para si mesma. Existe para o acolhimento de todos, existe para a missão, ou melhor, para evangelizar com o Evangelho, a partir do qual a própria Igreja sempre se evangeliza.

O grande desafio do Cristianismo na atual pós-modernidade não é o ter as “igrejas vazias”, mas o ter as “igrejas permanentemente fechadas”. Não somos uma Igreja de números, mas de pessoas!

5. A graça do Jubileu 2025

O Jubileu também é “Ano Santo”. A santidade é, por isso, o caminho jubilar de todos os dias. A santidade da Palavra ilumina os nossos passos. São Paulo recorda-nos: «Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação» (1Ts 4,3). A admonição de Paulo na carta aos Tessalonicenses, o primeiro escrito do Novo Testamento, situa a santidade, na vontade de Deus em Jesus Cristo, na vida de todos os dias, na alegria, no trabalho, na oração, na gratidão e na ação de graças (cf. 1 Ts 5, 16-18). Para ser santo não é preciso fazer coisas extraordinárias.

O que posso eu esperar para o próximo Jubileu? Uma forte recu- peração da esperança: “peregrinos de esperança”, eis o lema. Em par- ticular, um encontro capaz de gerar esperança: «Que seja para todos um momento de encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus “porta” de salvação (cf. Jo 10,7.9); com Ele, que a Igreja tem por missão anunciar sempre, em toda a parte e a todos, como sendo a “nossa esperança” (1 Tm 1,1)» (Spes non confundit, 1).

Em 2025 comemoraremos os 1700 anos do I Concílio Ecuménico de Niceia (atual cidade de İznik, na Turquia) realizado no ano 325. Este Concílio foi importante para o combate às heresias que negavam a di- vindade de Jesus, dele surgindo as primeiras formulações do Símbolo da Fé, comummente conhecido por Credo.

Foi também no I Concílio de Niceia que se definiu a data da Páscoa. Felizmente, em 2025 a data da Páscoa, 20 de abril, é a mesma para as Igrejas do Oriente e para as Igrejas do Ocidente, tal como acontecia no séc. IV. Assim, a comemoração dos 1700 anos de Niceia tem levado o Papa Francisco a apelar a que se volte a uma data comum para a cele- bração da Páscoa em todas as Igrejas Cristãs.

Na realidade, «o mistério da Páscoa é Cristo», como já escreveu Melitão de Sardes, no século II. O encontro com o Senhor crucificado e ressuscitado dá segurança: a esperança não desilude, ou melhor, a es- perança não te deixa envergonhado.

Nesse sentido, somos desafiados a pôr em prática as grandes li- nhas do 5.º Congresso Eucarístico Nacional. Permiti que as recorde: 1. Redescobrir que a centralidade eucarística vai para além do Domingo; 2. Manter as igrejas abertas e revalorizar a adoração eucarística; 3. Procurar o equilíbrio entre a Tradição e a necessidade de introduzir novas linguagens na liturgia; 4. Reforçar a Eucaristia como escola de fraternidade e sacramento de unidade; 5. Garantir a autenticidade e coerência entre o que se vive e anuncia; 6. Assumir a sinodalidade a partir da Eucaristia como lugar onde a Igreja se renova na comunhão, na participação e na missão; 7. Ser sinal de Esperança.

A Bula de proclamação do Jubileu, de facto, não se limita a falar de esperança, mas torna-a visível. O Papa Francisco enumera alguns sinais de esperança: a paz, a transmissão da vida, o cuidado com os pre- sos, os doentes, os jovens, os migrantes, os exilados, os refugiados e des- locados, os idosos e os pobres.

A vigorosa insistência nestes sinais impele à esperança como an- tídoto para uma espécie de inércia, para uma certa omissão. A espe- rança, quando circula, desarticula o pensamento que diz “não vale a pena”, “cada um que se desenrasque”. Estas são opiniões que dão voz ao niilismo contemporâneo. O processo jubilar - recolocando em jogo a liberdade reconciliada pelo Senhor e de tomar conta da história e dos laços feridos - quer propor uma cultura da esperança.

A companhia do Ressuscitado é também mediada pela nossa pro- ximidade, pelos laços tenazes e leais, mas também verdadeiros e sérios, que cultivamos. 

O Santo Padre abrirá a Porta Santa da Basílica de São Pedro, no Va- ticano, no próximo dia 24 de dezembro. Em todas as Dioceses do mun- do acontecerá no domingo seguinte, 29 de dezembro, de tarde. Assim, na igreja Catedral celebraremos a Eucaristia como abertura solene do Ano Jubilar, segundo o Ritual preparado para esta ocasião nas Igrejas particulares. Partiremos, em procissão, desde a igreja de São Paulo até à igreja Catedral, como sinal de esperança para viver intensamente a experiência jubilar.

A indulgência plenária é uma graça própria do Ano Santo Jubilar, é o perdão de Deus que não conhece limites, vivendo-a em pleno com frutos abundantes de fé, esperança e caridade.

As condições principais para fruir da indulgência plenária são: confessar-se sacramentalmente; receber a Eucaristia, de preferência durante a própria celebração eucarística; rezar segundo as intenções do Papa. A concessão da indulgência plenária, uma só vez por dia, é para o próprio fiel ou pode também aplicar-se aos defuntos por modo de sufrágio, segundo o Manual das indulgências.

Ao longo do ano jubilar, todos os treze arciprestados peregrinarão até à igreja Catedral, conforme o calendário já decidido e publicado, se- guindo, na medida do possível, o modelo de peregrinação a realizar na abertura do ano jubilar, ou seja, partindo da igreja do Seminário Con- ciliar até à igreja Catedral. Que o impulso simbólico da peregrinação à igreja Catedral seja capaz de manifestar a necessidade ardente de re- novar a conversão e reconciliação pessoal, pastoral e missionária.

Além da peregrinação jubilar à igreja Catedral, indicamos outros lugares sagrados de acolhimento e espaços privilegiados para gerar esperança: as seis Basílicas menores - Congregados, Nossa Senhora do Sameiro, São Pedro do Toural, São Bento da Porta Aberta, Bom Jesus do Monte e São Torcato - e o Santuário Eucarístico de Balazar.

A grande peregrinação jubilar arquidiocesana será no domingo, dia 1 de junho de 2025, da igreja Catedral ao santuário arquidiocesano de Nossa Senhora do Sameiro.

Confiamos o nosso caminho espiritual e pastoral a Santa Maria de Braga que «com o seu amor de Mãe, cuida dos irmãos do seu Filho, que ainda peregrinam e se debatem entre perigos e angústias, até que sejam conduzidos à Pátria feliz» (Lumen Gentium, 62).

Bom caminho, sinodal e missionário, para levar Jesus a todos e todos a Jesus «nossa esperança» (1Tm 1,1)!

 

III Assembleia arquidiocesana, Basílica de São Bento da Porta Aberta, 30 de novembro de 2024, festa de Santo André que levou Jesus a seu irmão São Pedro e levou São Pedro a Jesus.

† José Cordeiro

Arcebispo Metropolita de Braga

 

 

 

 

 

 

 

 

JUNTOS NO CAMINHO DE PÁSCOA

Levar Jesus a todos e todos a Jesus

«Juntos,  em  processo  sinodal  dinâmico,  seremos  capazes de imaginar um futuro diferente para a Igreja Bracarense: alegria  contagiante,  escuta  acolhedora,  portas  abertas,  mãe que busca os seus filhos, centrada no Evangelho, discípula missionária,   formação   permanente,   comunhão   pastoral» (D. José Cordeiro, Carta Pastoral «Juntos, somos Igreja Sinodal Samaritana. Onde há amor, aí habita Deus», 2022).

 

MISSÃO

Levar Jesus a todos e todos a Jesus.

VISÃO

Juntos, em processo sinodal dinâmico e em caminho de Páscoa, seremos capazes de imaginar um futuro diferente para a Igreja Bracarense.

VALORES

Alegria contagiante | Escuta acolhedora | Portas abertas Mãe que busca os seus filhos | Centrada no Evangelho

Discípula  missionária  |  Formação  permanente  |  Comunhão pastoral

JUNTOS NO CAMINHO DE PÁSCOA

  1. 1.Participação ativa e criativa
  2.  

Promover o diálogo permanente entre todos.

Incentivar a participação ativa de todos na tomada de decisões e nas diferentes atividades e iniciativas.

Estimular a criatividade como meio para a renovação constante.

Interpelar à busca incessante de novos caminhos, novos modos de fazer, novas formas de chegar ao coração e à vida de cada um.

Estabelecer plataformas de diálogo aberto e de consulta nos processos de tomada de decisão, envolvendo diversas vozes e perspectivas da comunidade (paroquial e diocesana).

 

  1. 2. Avaliação sobre a missão

Procurar uma avaliação contínua das forças e das fragilidades inerentes a cada realidade eclesial, potenciando os aspetos positivos e tentando superar os menos favoráveis, sempre numa matriz fraterna.

Buscar novos métodos, estratégias e linguagens para evangelizar e formar os membros de cada comunidade.

Implementar estratégias de comunicação eficazes, incluindo a utilização de meios de comunicação modernos, para transmitir mensagens de forma clara e inclusiva, assegurando que todos possam compreender e envolver-se na missão.

 

  1. 3. Servir e acolher a todos

Promover espaços e momentos para ouvir as necessidades, ideias e sugestões dos membros da comunidade, incluindo as famílias, os jovens e os grupos mais vulneráveis, assegurando um ambiente acolhedor para uma comunicação aberta.

Ser Igreja em saída, que vai ao encontro de todos, que a todos acolhe, que se revela, para todos e cada um, rosto de Jesus Cristo, imitando fielmente a sua pedagogia e o seu modo de servir e amar.

Desenvolver programas e serviços de proximidade que satisfaçam as diversas necessidades da comunidade, dando ênfase à inclusão e a um espírito de hospitalidade e acolhimento.

4. Conversão ao Evangelho

Incentivar a colaboração entre todos (pessoas, grupos, movimentos, …), promovendo a comunhão e a complementaridade.

Promover a edificação da Igreja Sinodal Samaritana, configurada a partir da Páscoa e peregrina.

Dar ênfase ao encontro permanente com o Evangelho, encorajando as pessoas a aprofundar a sua compreensão e o seu empenho em viver os valores do Evangelho na sua vida quotidiana, num caminho contínuo de discipulado.

5. Oração e vida espiritual

Cuidar a vida espiritual dos fiéis e valorizar as celebrações litúrgicas para que estas sejam, efetivamente, um momento de encontro com Deus e com os irmãos.

Incentivar a participação ativa e o envolvimento de todos nas diferentes celebrações litúrgicas.

Encorajar e promover o crescimento e o amadurecimento espiritual de cada um.

6. Alargar os horizontes da missão

Focar a pastoral na missão de evangelização, buscando novas formas de comunicar a mensagem de Cristo e de chegar às periferias existenciais da sociedade;

Investir em formação para que os membros da comunidade, juntos, possam ajudar a edificar a Igreja Sinodal, servindo-a com alegria e amor.

 

 

 

 

 

 

 Calendário das peregrinações dos Arciprestados à Catedral

Amares e Terras de Bouro - 9 de março de 2025 Barcelos - 23 de fevereiro de 2025

Braga - 9 de fevereiro de 2025 Cabeceiras de Basto - 23 de março de 2025

Celorico de Basto - 6 de abril de 2025 Esposende - 16 de novembro de 2025 Fafe - 19 de janeiro de 2025

Guimarães e Vizela – 11 de maio de 2025 Póvoa de Lanhoso – 27 de abril de 2025 Vieira do Minho - 23 de novembro de 2025

Vila do Conde / Póvoa de Varzim - 21 de setembro de 2025

Vila Nova de Famalicão - 12 de outubro de 2025 Vila Verde - 26 de outubro de 2025


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