Arquidiocese de Braga -

2 novembro 2024

E agora, Senhor, que posso eu esperar?

Comemoração de todos os Fiéis Defuntos, 2 novembro 2024

Fotografia Francisco de Assis

1. Qual é o primeiro de todos os mandamentos?

Como escutámos na proclamação do Evangelho, a pergunta do doutor da Lei é sobre o que é o fundamento de todos os mandamentos. Jesus está no Templo, onde acontecem alguns encontros ríspidos com as autoridades religiosas de Israel. Jesus a todos responde com grande autoridade.

Jesus recorda o Shemá, a oração que os judeus recitam ao menos de manhã e à noite, que começa com um imperativo: «escuta, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor». A resposta de Jesus é clara: amar. Para amar é preciso escutar. Escutar para amar. Escutar é amar com todo o coração, com toda a alma, com todo o entendimento e com todas as forças. 

Somos criados, chamados, amados e não podemos viver sem amor. Amar «vale mais que todos os holocaustos e sacrifícios».

  1. 2. Alegria e esperança cristãs

A Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos interligam-se. A primeira sublinha a alegria cristã e a segunda alimenta a esperança cristã na vida eterna dada por Cristo ressuscitado e vivo.

Nestes dias tão simbólicos, milhares de pessoas visitaram os cemitérios com manifestações várias de humanidade, de religiosidade, de fé e de esperança. É muito bom cuidar das raízes que nos amparam na vida.

Aqui e agora na Sé primaz, com o Cabido, sufragamos os Pastores de Braga: Arcebispos, Bispos, Presbíteros, Diáconos que exerceram o seu ministério no meio do Povo santo de Deus.

Ao rezarmos por todos os irmãos e irmãs que adormeceram em Cristo, pedimos que, por intercessão dos santos e santas de Braga, sejam acolhidos na plenitude da luz e da paz.

Hoje, imploramos especialmente por todas as vítimas mortais e pelas famílias em luto, da catástrofe ambiental na zona de Valencia.

  1. 3. A minha esperança está em Ti

Este domingo inicia a semana dos seminários com o tópico: «E agora, Senhor, que posso eu esperar? / A minha esperança está posta em Ti» (Sl 39, 8).

O título atribuído ao salmo 39 – enigma e brevidade da vida – refere-se a uma súplica onde se descreve a experiência de dor, retirando a dedução de que a vida é excessivamente transitória sem cair no pessimismo.

O olhar fixo em Jesus abre alicerçada esperança, porque «aqueles que esperam no Senhor, caminham sem se cansar» (cf. Is 40, 31).

Por mais difícil que seja, a morte não pode ser tabu. Por isso, a Igreja anuncia: «A alegria e a esperança, o luto e a angústia dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também a alegria e a esperança, o luto e a angústia dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração» (Gaudium et Spes 1).

À luz da fé cristã ousamos dizer, como São Francisco de Assis, que a morte também é nossa irmã. Ter fé na ressurreição dos mortos não é um comprimido mágico que apaga a saudade e o sofrimento do luto; é uma luz que brilha mesmo nos momentos mais escuros. Assim, a Comemoração de todos os fiéis defuntos leva-nos a olhar a morte à luz da vida eterna que Deus a todos quer dar, porque a nossa vida é peregrinação, é caminho de Páscoa até à cidade eterna, à morada celeste.   

Na verdade, «esperar é voltar-se para o futuro, é recusar ficar bloqueado no imediato, resignando-se com o presente, com as insuficiências do presente. A esperança é sempre coletiva porque nunca se espera sozinho» (François Varillon, SJ).

 

+ José Manuel Cordeiro

Arcebispo Metropolita de Braga