Arquidiocese de Braga -

24 agosto 2024

Ver o céu aberto

Homilia de D. José Cordeiro por ocasião dos votos de Profissão Religiosa das irmãs da Congregação da Aliança de Santa Maria.

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  1. Contemplação e oração

A espiritualidade cristã não se ensina, experimenta-se. No quarto evangelho Jesus começa por perguntar: «que procurais?» (Jo 1,38) e à pergunta do Mestre segue-se a pergunta dos discípulos «onde moras?» (Jo 1,38) Jesus responde com um imperativo e uma promessa: «vinde ver» (Jo 1,39). Esta resposta continua a ser um convite permanente para a comunicação plena e o seguimento definitivo de Cristo na promessa aberta já no sonho de Jacob: «vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem» (Jo 1,51; cf. Gn 28,12). Procurar, ir e ver, são três etapas do itinerário até ao Mistério de Cristo, do qual a Liturgia é sacramento. Com Cristo, o céu está sempre aberto. Ele é a nova casa de Deus. 

A Liturgia é, com efeito, lugar do encontro e este dinamismo da gratuidade litúrgica acontece na circulação dupla: a glorificação de Deus e a santificação do homem. A oração é ação gratuita que entra nas categorias da arte e do jogo, não podendo de nenhum modo ser ideologizada e usada para outros fins (políticos, sentimentais, sociais…). R. Guardini escreveu: «fazer um jogo diante de Deus, não criar, mas ser uma obra de arte, isto constitui o núcleo mais íntimo da liturgia».

         A qualificação própria dos membros da Aliança de Santa Maria é ter «a contemplação e a oração como fonte para a ação apostólica, imitando o Divino Mestre na sua vida pública e inspirados na Mensagem de Nossa Senhora em Fátima» (n. 3, Constituições).

 

  1. Aliadas de Santa Maria

É extraordinário na congregação da Aliança de Santa Maria, que além dos conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência, se professe também o voto de unidade:

«Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, perante a Virgem Santa Maria, os Anjos e os Santos, diante da Comunidade aqui presente, do Presidente desta Assembleia e nas mãos da Primeira Enviada, eu, ... faço voto de Castidade, Pobreza e Obediência Perpétuas na Aliança de Santa Maria.

Faço também voto de Unidade, específico da nossa Congregação, desejando colaborar mais intensamente para que se cumpra a Palavra de Jesus: “Pai, que todos sejam Um”.

Peço humildemente, por intercessão do Imaculado Coração Maria e de São José, a graça de cumprir com fidelidade os votos que neste momento faço, consciente e livremente. Ámen».

Ser uma aliada da Virgem Santa Maria é viver a vida como obra da Santíssima Trindade. O vosso carisma, acolhido em terras bracarenses e ao serviço da catolicidade eclesial, e as suas finalidades apostólicas estão bem expressos na doxologia final da oração Eucarística: «Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a Vós, Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória por todos os séculos dos séculos». 

 

  1. Silêncio fecundo

É muito significativo que nas constituições apareçam 7 números dedicados ao silêncio “pátria dos enamorados” e, imediatamente, se sigam 3 números servidos à alegria.

Santo Inácio de Antioquia escreveu: «Aquele que possui verdadeiramente a palavra de Jesus pode compreender o seu silêncio, porque o Senhor conhece-se no seu silêncio, a fim de poder ser perfeito e agir segundo a sua palavra». Na verdade, só podemos louvar o Senhor com as palavras do silêncio. 

Assim como «Maria santíssima, a mulher do silêncio e da oração» (n. 84, constituições), concebeu Jesus Cristo terreno, também a Igreja é chamada a gerar a Eucaristia. Ela «um “sacramento de Jesus Cristo” e o seu coração é um “Evangelho vivo”» (H. Du Lubac).

            O silêncio ativo conduz à escuta fecunda.

 

Santuário de Fátima, 24 de agosto de 2024

                   + José Manuel Cordeiro
                      Arcebispo Metropolita de Braga