Arquidiocese de Braga -

25 julho 2024

Homilia de D. José Cordeiro por ocasião do 48.º Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica

Mãos do Peregrino

D. José Cordeiro
Fotografia SNL
  1. Mistério em vasos de barro

O que é a Liturgia senão aquela escola primeira da oração? Contudo, a grandeza deste ministério da Igreja em oração traz consigo apertos, tensões e desafios. Por isso, «trazemos este tesouro em vasos de barro» (2 Cor 4, 7). Ou como se expressa a Liturgia no Prefácio Comum IV: «Vós não precisais dos nossos louvores e poder glorificar-Vos é dom da vossa bondade; porque os nossos hinos de bênção, nada aumentando à vossa infinita grandeza, alcançam-nos a graça da salvação, por Cristo, nosso Senhor».

Hoje, sente-se cada vez mais a necessidade da arte da oração. A oração e especialmente a oração litúrgica, é a voz da esposa, a Igreja, ao Esposo, Jesus Cristo. Na liturgia, o mais importante é louvar a Deus. 

É insuficiente na oração a palavra, para o diálogo é absolutamente necessário a escuta. Deus disse uma Palavra eterna – Jesus Cristo – a escuta no silêncio habitado pela Palavra eterna feita pessoa alegra o coração de quem reza.

Sim, «não existe espiritualidade cristã que não esteja enraizada na celebração dos santos mistério. A liturgia é ação que fundamenta toda a vida cristã e, consequentemente, também a oração. (...) Um cristianismo sem liturgia é um cristianismo sem Cristo» (Papa Francisco, Audiência Geral, 3.2.2021).

A fé da Igreja em oração afiança que mesmo se atribulados, confundidos e perseguidos, Deus não nos deixa esmagar, desesperar e nunca nos abandona.

  1. A mão do peregrino

Aprendi que a concha ou vieira, característica do peregrino de Santiago de Compostela, simboliza a mão, sinal do amor cristão e do serviço de fraternidade. As mãos do peregrino servem os outros peregrinos nas obras de misericórdia e na caridade, curando as feridas, tomando a iniciativa e criando a proximidade. As mãos do peregrino são Páscoa cristã da indiferença à compaixão.

O grande teólogo, o Padre Romano Guardini escreveu: «bela e grande é a linguagem da mão! Dela diz a Igreja que no-la deu Deus para “nela trazermos a alma”». 

Seguir Jesus Cristo é, para toda a Igreja, consequência da vocação à santidade de vida nascida do Batismo. 

A santidade na nossa vida e no ministério encontra o seu dinamismo nesta exortação paulina: «Por isso, vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus. Seja este o vosso verdadeiro culto, o espiritual.2Não vos acomodeis a este mundo. Pelo contrário, deixai-vos transformar, adquirindo uma nova mentalidade, para poderdes discernir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito» (Rm 12, 1-2).

  1. Servir e amar

Ao subir para Jerusalém, a imagem da liturgia celeste, Jesus anuncia pela terceira vez o sua paixão e morte. Porém os discípulos estavam noutro registo e até dois deles, Tiago e João, lhe perguntam acerca do poder e imploram lugares de honra.

Jesus responde-lhes: «não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu estou para beber?». Só participando da Páscoa de Jesus Cristo, o coração pulsante da liturgia da Igreja, podemos bem servir e amar. O mistério pascal celebra-se para a vida.

Desde os inícios do cristianismo, o cálice tem um simbolismo pascal, passando a ser o vaso sagrado por sublimidade. Na celebração da instituição de acólitos, e na celebração da ordenação do bispo e dos presbíteros, um dos gestos simbólicos que melhor explicam o ministério é o da entrega do cálice com vinho e água e a patena com o pão.

Como salientou G. Vannucci, na liturgia da vida: «o anunciador deve ser infinitamente pequeno, só assim o anúncio será infinitamente grande».

A Igreja em oração é uma Igreja em missão, peregrina de Esperança.

 

                                        + José Manuel Cordeiro