Arquidiocese de Braga -

30 dezembro 2023

Juntos no Caminho de Páscoa

Levar Jesus a Todos e Todos a Jesus

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Caríssimos irmãos e irmãs:

Ao escrever esta segunda carta pastoral, saúdo-vos com a expressão pascal: A Paz esteja convosco!

No passado dia 2 de dezembro iniciamos juntos o caminho de Páscoa no horizonte de 10 anos. Com efeito, em 2033 celebrar-se-á o bimilenário do mistério da Páscoa de Jesus Cristo. Por isso, propomos um itinerário pastoral arquidiocesano à luz do mesmo e único mistério pascal de Jesus Cristo, «o mesmo, ontem, hoje e sempre» (Heb 13, 8). Ele é a nossa Páscoa e a nossa Paz.

A Igreja existe para levar Jesus Cristo a todos e trazer todos a Jesus Cristo. Não há nada mais importante na Igreja que evangelizar. De facto, «a Igreja existe para evangelizar» (Papa São Paulo VI).

Assim, todos somos convocados no caminho de Páscoa para levar Jesus a todos e todos a Jesus, sendo cada vez mais sinodais, como já declarava o Bispo Santo Inácio de Antioquia (+ 107), na carta aos Efésios: «sois todos companheiros de caminho, portadores de Deus e portadores do templo, portadores de Cristo, portadores do que é santo, ornados em tudo com os preceitos de Jesus Cristo». Eis o grande desafio: antes de fazer sinodalidade, ser sinodalidade.

A Arquidiocese é o sujeito primário da evangelização integral neste território desde a serrania minhota à beira-mar. Na Oração Eucarística V-1 rezamos com esta intercessão de sinodalidade viva: «renovai, Senhor, a vossa Igreja de Braga com a luz do Evangelho. Fortalecei o vínculo da unidade entre os pastores e os fiéis do vosso povo, em comunhão com o nosso Papa, o nosso Bispo e toda a ordem episcopal, de modo que num mundo dilacerado pela discórdia, a vossa Igreja resplandeça como sinal profético de unidade e concórdia».

 

  1. Juntos no caminho de Páscoa

De Páscoa em Páscoa, de Domingo em Domingo, a Igreja caminha na história na fidelidade ao Evangelho da Esperança. O Papa Francisco acentua este dinamismo pascal: «O Ano litúrgico é para nós a possibilidade de crescer no conhecimento do mistério de Cristo, imergindo a nossa vida no mistério da sua Páscoa, na esperança da sua vinda. Esta é uma verdadeira formação contínua. A nossa vida não é uma sucessão casual e caótica de acontecimentos, mas um percurso que, de Páscoa em Páscoa, nos conforma a Ele enquanto esperamos em jubilosa esperança a vinda gloriosa de Jesus Cristo, nosso Salvador».

Assim, «partindo do Tríduo Pascal, como da sua fonte de luz, o tempo da Ressurreição enche todo o ano litúrgico da sua claridade. Ininterruptamente, dum lado e doutro desta fonte, o ano é transfigurado pela Liturgia. É realmente “ano da graça do Senhor”» (Catecismo da Igreja Católica 1168).

O Ano Litúrgico é lugar comunitário do encontro com Jesus Cristo. De facto, desconhecer o Ano litúrgico é ignorar o próprio Jesus Cristo. Ser e fazer sinodalidade na Igreja: é escutar a Palavra, é partilhar o pão, é alimentar a esperança, é caminhar juntos com Jesus Cristo. Com efeito, «Ele passou, para alimentar e nós seguimo-lo, para sermos alimentados» (Santo Agostinho, sermão 103,5).

A todas e a cada uma das pessoas que são o rosto dos organismos pastorais de comunhão já existentes, muito bem-hajam pelo vosso testemunho de fé, esperança e caridade. Prossigamos com coragem e confiança!

Com todos, das crianças, aos adolescentes, aos jovens, aos adultos, aos mais velhos, sejamos peregrinos alegres da esperança, tornando cada vez mais visível que Cristo é a nossa Páscoa e a nossa Paz.

A Igreja é chamada a ser cada vez mais ministerial. No dia 6 de janeiro de 2024 iniciaremos um novo percurso para o diaconado permanente. Também para os ministérios laicais de leitor, acólito, catequista e outros ministérios, gostaríamos de propor em breve os itinerários formativos. 

A partir da escuta ativa nas assembleias sinodais e noutros organismos de comunhão, participação e missão na nossa Arquidiocese, ousamos declinar a palavra Páscoa, propondo seis trilhos para a nossa peregrinação comunitária nos próximos dez anos:  Páscoa – Participação ativa e criativa; pÁscoa – Avaliação sobre a Missão; páScoa – Servir e acolher a todos; pásCoa – Conversão ao Evangelho; páscOa – Oração e vida espiritual; páscoA – Alargar os horizontes da Missão.

Como já o sugerimos na primeira carta pastoral: «juntos, em processo sinodal dinâmico, seremos capazes de imaginar um futuro diferente para a Igreja Bracarense: alegria contagiante, escuta acolhedora, portas abertas, mãe que busca os seus filhos, centrada no evangelho, discípula missionária, formação permanente, comunhão pastoral». Juntos, no caminho de Páscoa, seremos capazes.

Neste Ano litúrgico e pastoral, até porque acolheremos o 5º Congresso Eucarístico Nacional, propomos que se sublinhe o trilho da Oração e vida espiritual: Cuidar a vida espiritual dos fiéis e valorizar as celebrações litúrgicas para que estas sejam, efetivamente, um momento de encontro com Deus e com os irmãos; Incentivar a participação ativa e o envolvimento de todos nas diferentes celebrações litúrgicas; Encorajar e promover o crescimento e o amadurecimento espiritual de cada um; fazer da Paróquia, casa e escola de oração.

Ao comemorarmos os 60 anos da Constituição Apostólica Sacrosanctum Concilium (4.12.1963), é bem recordar: «Da Liturgia, principalmente da Eucaristia, que, como de uma fonte, brota para nós a graça e se obtém com a máxima eficácia a santificação em Cristo e a glorificação de Deus, a que se ordenam, como sua finalidade, todas as outras obras da Igreja» (SC 10).

 

  1. Levar Jesus a todos e todos a Jesus

A Igreja é missão. A toda a Arquidiocese de Braga, na esperança de que a Palavra da Salvação seja uma semente de vida, grito hoje a nossa alegria: Jesus Cristo ressuscitou! Sim, Ele vive para sempre e também por nós. Do útero ao túmulo, acontece a grande escola da vida, onde a Páscoa acontece todos os dias. Como nos relembra o Papa Francisco: «Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo!».

Sentimos a necessidade e um renovado anúncio, mesmo para quem já é batizado. São João Paulo II já tinha advertido na sua exortação Ecclesia in Europa: «Muitos europeus contemporâneos pensam que sabem o que é o cristianismo, mas realmente não o conhecem. Frequentemente ignoram os próprios rudimentos da fé. Muitos batizados vivem como se Cristo não existisse: repetem-se gestos e sinais da fé sobretudo por ocasião das práticas de culto, mas sem a correlativa e efetiva aceitação do conteúdo da fé e adesão à pessoa de Jesus. Em muita gente, as grandes certezas da fé foram substituídas por um sentimento religioso vago e pouco comprometido».

As mudanças culturais e eclesiais que estamos a atravessar são reais e, algumas, estão a acontecer a um ritmo acelerado, qual “radical mudança de época”. Não podemos desvalorizar o surgimento de jovens que estão a aprender a viver sem Deus e sem a Igreja.

Junta-se, agora, o eclipse parcial dos adultos, realidade que se tornou mais evidente em tempo de igrejas semivazias. Talvez sejamos levados a pensar imediatamente no vazio como sinónimo do afastamento da prática dominical. Mas a realidade mais profunda é, todavia, que o vazio espelha a ausência de uma relação adulta e madura de fé. 

Na verdade, temos, segundo Armando Matteo, cristãos que estagnaram numa adolescência de fé e que, à imagem do sempre jovem Peter Pan, não querem ou sentem dificuldade em crescer.

Esta é a desafiante missão da Igreja. Necessitamos de adultos na fé e de uma “conversão da mentalidade pastoral”! 

Há necessidade de, na alegria da fé, criar condições, itinerários e estratégias criativas para, antes de mais, dialogar com os adultos de hoje e, por fim, colaborar no sentido das palavras do apóstolo Paulo: “quando me tornei homem, deixei o que era próprio de criança” (1 Cor 13, 11). 

A Igreja é a casa aberta a todos: «na Igreja há espaço para todos. Para todos. Na Igreja, ninguém é de sobra. Nenhum está a mais. Há espaço para todos. Assim como somos. Todos. (…) Há espaço para todos! (…) «Todos, todos, todos». E esta é a Igreja, a Mãe de todos. Há lugar para todos. O Senhor não aponta o dedo, mas abre os braços. É curioso! O Senhor não sabe fazer isto [aponta com o dedo em riste], mas isto sim [faz o gesto de abraçar]. Abraça a todos. No-lo mostra Jesus na cruz, onde abriu completamente os braços para ser crucificado e morrer por nós. Jesus nunca fecha a porta, nunca. Mas convida-te a entrar: «entra e vê!» Jesus recebe, Jesus acolhe. (...) Deus te ama, Deus te chama. Que belo é isto! Deus ama-me, Deus chama-me. Quer que eu esteja perto d’Ele» (Papa Francisco, Lisboa 3 agosto 2023).

Esta nota não é um slogan, mas sobretudo um caminho de conversão pessoal, pastoral e missionária para cada um de nós e para toda a Igreja. A universalidade da evangelização, isto é, que a Mensagem do Evangelho se dirige a todos, experimentou-se notavelmente na Jornada Mundial da Juventude 2023.

As Paróquias devem ser casas que sabem acolher e escutar medos e esperanças das pessoas, perguntas e angústias e que sabem oferecer um corajoso testemunho e um anúncio credível da verdade, que é Cristo. O acolhimento cordial e gratuito é a condição primeira da evangelização tão antiga e sempre nova.

Somos Peregrinos em missão, para vivermos juntos com Cristo Páscoa. São João Paulo II já nos havia encorajado: «A nova evangelização, dirigida não apenas aos indivíduos, mas a inteiras faixas de população, nas suas diversas situações, ambientes e culturas, tem por fim formar comunidades eclesiais amadurecidas, onde a fé desabroche e realize todo o seu significado originário de adesão à pessoa de Cristo e ao Seu Evangelho, de encontro e de comunhão sacramental com Ele, de existência vivida na caridade e no serviço».

Pensamos, portanto, que é urgente e necessário investir as energias e forças nas quatro colunas da Igreja que os Atos dos Apóstolos recordam: «Eles mostravam-se assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações» (At 2, 42). 

O mundo contemporâneo perdeu o primado da interioridade. Todavia a interioridade é a força que faz despertar a esperança e assumir a responsabilidade de estar à altura dos desafios da vida. O futuro está na interioridade.

 

 

 

  1. 3.Eucaristia, mistério de Páscoa

A Eucaristia é o santíssimo Sacramento, ou seja, o sacramento da Páscoa. A fé que nasce e renasce da Páscoa faz todo o sentido, quando nos torna mais irmãos e cidadãos mais ativos, para se realizar a justiça e a paz, o perdão e o amor.

O 5.º Congresso Eucarístico Nacional (CEN) em Braga, de 31 de maio a 2 de junho de 2024, no centenário do primeiro CEN, será vivido sob o tema: «Partilhar o Pão, alimentar a Esperança. "Reconheceram-n'O ao partir o Pão" (Lc 24,35)». A Eucaristia é o coração do coração da Igreja em oração.

 Até agora, celebraram-se quatro congressos eucarísticos nacionais: três em Braga (2 a 6 de julho de 1924; 7 a 13 de junho de 1974 “50 anos”; 3 a 6 de junho de 1999 “75 anos”) e um em Fátima (10 a 12 de junho de 2016).

Em Braga, no primeiro Congresso Eucarístico Nacional, de 2 a 6 de julho de 1924, cruzaram-se muitas vidas de santidade, cujos processos de canonização estão em curso: Beata Alexandrina Costa; Frei Bernardo de Vasconcelos, OSB; Padre Abílio Correia; Alzira Sobrinho (Irmã São João, Serva Franciscana Reparadora de Jesus Sacramentado); D. Manuel Mendes da Conceição Santos (Arcebispo de Évora) e D. João de Oliveira Matos (Bispo da Guarda).

O Papa Francisco impele toda a Igreja para uma cultura eucarística, onde se evidenciem as atitudes da comunhão, do serviço, da misericórdia: «capaz de inspirar os homens e as mulheres de boa vontade nos âmbitos da caridade, da solidariedade, da paz, da família, do cuidado da criação». A Eucaristia, dom da caridade e mistério de vida eterna santifica a Igreja, ou melhor, “a Eucaristia faz a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia”.

O nosso departamento arquidiocesano para a Liturgia já deu a conhecer um conjunto de informações práticas acerca do modo como a Arquidiocese de Braga se mobilizará para a preparação do 5.º Congresso Eucarístico Nacional e do 53º Congresso Eucarístico Internacional a realizar de 8 a 15 de setembro de 2024 em Quito, Equador, à luz do tema: fraternidade para curar o mundo «todos vós sois irmãos» (Mt 23,8).

Todas as comunidades são convidadas à oração, formação e celebração: cada cristão e cada comunidade são convocados a rezar pelo bom êxito dos Congressos Eucarísticos, seja através da oração pela preparação do Congresso, seja na oração universal dominical com a introdução das preces publicadas no site do Congresso. 

Com início no Domingo de Páscoa, até à véspera da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, haverá Adoração Eucarística contínua em toda a Arquidiocese.

De facto, «apenas na adoração, só diante do Senhor, é que recuperamos o gosto e a paixão pela evangelização. E, curiosamente, perdemos a oração de adoração; e todos, sacerdotes, bispos, consagradas, consagrados têm de a recuperar: recuperar aquele permanecer em silêncio diante do Senhor» (Papa Francisco, Lisboa, 2 agosto 2023). 

A Igreja recebeu a Eucaristia do Senhor Jesus Cristo como o dom por excelência, porque dom d’Ele mesmo, pelo que é verdadeiramente o mistério da fé. Quando o sacerdote proclama estas palavras, «Mistério da fé», a assembleia responde: «Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!». Com estas palavras, a Igreja apresenta Cristo no mistério da sua paixão e, simultaneamente, revela o seu próprio mistério. O seu fundamento é o mistério pascal.

Em Emaús, no dia de Páscoa, os apóstolos reconheceram Jesus ressuscitado, ao partir do pão. Só à luz da Páscoa podemos celebrar e viver a Eucaristia. A partir da Eucaristia a Igreja faz-se sinodal, samaritana e missionária. 

O partir do pão é o próprio Cristo que é partido no pão da Eucaristia, da caridade, no encontro com os pobres, os mais vulneráveis, mais frágeis, com todas as necessidades do mundo em que vivemos para que tenhamos este sentido de plenitude e sejamos capazes, à luz das Escrituras, reconhecê-los em todas as pessoas e situações da comunidade neste tempo tão delicado.

A narrativa de Emaús acontece no dia de Páscoa. Hoje, a Liturgia da Igreja proclama este mesmo texto na tarde do Domingo da Solenidade da Páscoa, apresentando a narração lucana dos discípulos de Emaús, como um autêntico programa para a celebração da Eucaristia, com as bases da liturgia da Palavra e da liturgia eucarística:

  • Procissão de entrada até ao lugar da celebração, «Entrou para ficar com eles» (Lc 24,29);
  • Salmos/Profetas: «E, começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito» (Lc 24, 27);
  • Homilia: «Ó homens sem inteligência e lentos de espírito para crer em tudo quanto os profetas anunciaram! Não tinha o Messias de sofrer essas coisas para entrar na sua glória?» (Lc 24, 25-26);
  • Abertura dos olhos e da mente, «E, quando se pôs à mesa, tomou o pão, pronunciou a bênção e, depois de o partir, entregou-lho. Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no; mas Ele desapareceu da sua presença» (Lc 24,30-31).

Neste escrito evangélico encontramos o primeiro paradigma de toda a Liturgia cristã em seis verbos: proclamar; escutar; revelar; ver; gostar e experimentar. 

Assim, a Liturgia parte o pão da Palavra que é proclamada e escutada na Assembleia reunida em nome de Cristo; Na Eucaristia realiza-se a experiência do único mistério de Cristo que nasce da Páscoa; A Liturgia, e não apenas a Eucaristia, é um todo orgânico que conduz à participação ativa, consciente e frutuosa da obra da Redenção.

 

  1. (Re)conhecer Jesus Cristo no caminho

Na verdade, antes de «partir o pão», Cristo «começando por Moisés e seguindo por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, tudo o que lhe dizia respeito» (Lc 24,27). O sinal luminoso é a celebração da Eucaristia.

A reforma litúrgica do Concílio Vaticano II reintroduziu o ambão como lugar obrigatório do anúncio e com a metáfora da mesa da Palavra, «onde a palavra é como o pão» (Daniel Faria) assinalando o significado teológico do anúncio da mesma Palavra.

O ícone evangélico, segundo a narração lucana, atinge o seu vértice quando o desconhecido peregrino, ou melhor, Cristo peregrino que não reconheceram logo, sentando-se à mesa com os dois discípulos desiludidos com o fim trágico de Jesus de Nazaré, «tomou o pão, pronunciou a bênção e, depois de o partir, entregou-lho. Então, os seus olhos abriram-se e reconheceram-no». Jesus Cristo, o Ressuscitado, manifesta-se vivo com o mesmo gesto (fractio panis), o grande gesto que realizou na noite da instituição da Eucaristia.

Por consequência, a celebração eucarística da ceia do Senhor deve ser o grande momento em que se mostra a alegria do reconhecimento «os seus olhos abriram-se e reconheceram-no» e da visão «vimos o Senhor» (Jo 20,25). De facto, como se exprime na Oração Eucarística V «sois verdadeiramente Santo e digno de glória, Deus, amigo dos homens, que sempre os acompanhais no seu caminho. Verdadeiramente bendito é o vosso Filho, que está presente no meio de nós quando nos reunimos no seu amor e, como outrora aos discípulos de Emaús, Ele nos explica o sentido da escritura e nos reparte o pão da vida». É grande a alegria de “ver” Jesus vivo.

Na celebração litúrgica, a Palavra torna-se presente e opera em nós, graças à abertura da fé: «Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?». É a alegria da Páscoa que arde no coração.

O princípio da presença contínua da Palavra de Deus – nenhuma ação litúrgica sem a Palavra – tem como objetivo restituir ao ritmo antigo «mais abundante, variada e bem-adaptada a leitura da Sagrada Escritura nas celebrações litúrgicas» como nos ensina o II Concílio Vaticano. Outro objetivo é promover continuamente nos fiéis e, em primeiro lugar, nos Sacerdotes, o «amor suave e vivo da Sagrada Escritura de que dá testemunho a venerável tradição dos ritos tanto orientais como ocidentais».

A razão é para se poder ver claramente que na Liturgia, o rito e a palavra estão intimamente unidos. Efetivamente, o que se lê na Escritura é o mesmo que se realiza na Liturgia. 

 

  1. Celebrar o mistério de Jesus Cristo

Todo o texto bíblico proclamado na ação litúrgica é, de facto, Palavra viva, porque está presente Cristo na sua palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura. A Bíblia na Liturgia não é um elemento entre outros, mas o seu elemento essencial, porque a Liturgia é a Bíblia transformada em palavra proclamada e em palavra rezada e atualizada, ou melhor, a Liturgia é a palavra celebrada. Desde os inícios da Igreja a leitura das Escrituras é parte integrante da Liturgia. 

Com extrema inteligência espiritual a liturgia ortodoxa, na proclamação do Evangelho, quer que o diácono, levantando o texto, exclame: «estai atentos à sapiência de Deus», ou: «estai atentos, é Deus que fala».

Felizmente, está ultrapassada a visão redutiva que olhava a Liturgia da Palavra como preparação para a Liturgia eucarística. A Liturgia da Palavra é parte integrante e constitutiva da celebração da Eucaristia, e em relação com a liturgia eucarística forma todo um conjunto.

A Escritura é mistério ou sacramento, ou seja, está cheia de símbolos da verdade, os quais se manifestaram inteiramente em Cristo. Tanto na Palavra como nos outros sinais sacramentais está presente o único e verdadeiro Cristo. Nos Padres da Igreja era muito clara a consciência de que o Evangelho é presença de Cristo no meio da assembleia litúrgica. 

O sepulcro aberto proclama a alegria da presença viva e ressuscitada de Cristo e a Igreja pede-Lhe incessantemente: «Fica connosco, Senhor», para que seja sempre Hoje.

 

  1. A alegria de viver e comunicar o Evangelho

A alegria do primeiro e fundamental anúncio é sempre o mesmo: «“Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” E eles contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho e como Jesus se lhes dera a conhecer, ao partir o pão» (Lc 24, 34-35). O caminho conduz-nos ao encontro com Jesus Cristo e com os outros, com a comunidade cristã e com aqueles a quem somos enviados a testemunhar com a vida, a fé que acreditamos e celebramos.

O tema do caminho está sempre presente na evangelização. A fé dos discípulos nasce no caminho, que não é apenas geográfico, mas é espiritual e atravessa a desilusão, o desalento, as dúvidas, o vazio, a desconfiança da sua peregrinação na história. Na verdade, a fé em Cristo ressuscitado dá origem a uma nova presença cristã, ou seja, um caminho de peregrinação no temor e na esperança, próprio de quem está fora da pátria como estrangeiro residente.

Os discípulos passaram da (de)missão à missão de evangelizar. Este continua a ser o grande desafio! Ensinar o Evangelho, significa apresentar sinais e chaves interpretativas para o viver. Ninguém o pode fazer se o não viver primeiro. 

Na Missa vespertina da Ceia do Senhor, a abertura da celebração do Tríduo Pascal, faz-se o gesto do lava-pés, que João nos transmite como gesto fundante da Eucaristia, sacramento da Caridade evangelizadora.

Jesus, depois de lhes lavar os pés, disse a todos os discípulos: «compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também». E acrescentou ainda: «Garanto-vos: o servo não é maior do que o senhor, nem o mensageiro é maior do que aquele que o enviou. Se compreendestes isto, sereis felizes se o puserdes em prática» (Jo 13, 12-17).

O dinamismo pascal: «depois da gloriosa ascensão de Cristo ao Céu, a obra da salvação continua a realizar-se sobretudo na celebração da liturgia, a qual não sem motivo é considerada o momento último da história da salvação» (Preliminares das Missas da Virgem Santa Maria, 11). É verdade que a Igreja faz a Eucaristia e a Eucaristia faz a Igreja. Celebrar a Eucaristia é, com efeito, reconhecer a centralidade do Senhor quando parte e reparte o pão e para juntos fazermos o mesmo.

A origem da Eucaristia situa-se na última ceia de Jesus com os seus discípulos. Jesus tomou o pão, deu graças a Deus, partiu o pão e deu-o aos seus discípulos, dizendo que o tomassem e comessem, porque aquilo era o seu corpo. Do mesmo modo, depois da ceia, tomou o cálice, deu graças, deu-o aos seus discípulos, dizendo que o tomassem e bebessem, porque aquele era o cálice da aliança no seu sangue. Por fim, Ele disse: «Fazei isto em memória de Mim» (Lc 22,19; 1Cor 11,25b-26). Deste modo, a Eucaristia é a obediência ao mandato de Cristo e a realização daquilo que Ele mesmo fez no cenáculo em Jerusalém.

As narrações do Novo Testamento referentes à Eucaristia na última ceia, descrevem as ações de Jesus que a Igreja deve seguir: 1) tomou o pão; 2) deu graças; 3) partiu-o; 4) deu-o; 5) dizendo...); 6) tomou o cálice; 7) deu graças; 8) deu-o; 9) dizendo.... Este tornou-se o modelo da celebração eucarística.

O pão e o vinho, os elementos constitutivos desta ceia ritual, são especificados pelas duas orações que o acompanham, isto é, a bênção para o pão e a ação de graças para o cálice. Estas orações recitadas por Jesus na ceia são o modelo da oração eucarística ou anáfora da Igreja. 

Desde os primeiros testemunhos, esta Liturgia foi chamada ‘Eucharistía’, termo grego que significa ‘ação de graças’ e que designa tanto a oração de ação de graças que é recitada, à imitação de Jesus, como o pão e o vinho.

«Sine dominico non possumus!» Sem o Domingo do Senhor, sem o Dia do Senhor não podemos viver: assim responderam no ano 304 alguns cristãos de Abitínia, atual Tunísia, quando, surpreendidos na celebração eucarística dominical, que estava proibida. Eles foram conduzidos ante o juiz, que lhes perguntou por que, no Domingo, haviam celebrado a função religiosa cristã, sabendo que isso implicava castigo de morte. Não há Paróquia sem Domingo nem Domingo sem Paróquia.

 

Conclusão

Na exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, o documento pós-conciliar mais importante, segundo o Papa Francisco, somos interpelados por São Paulo VI: «Conservemos o fervor do espírito, portanto; conservemos a suave e reconfortante alegria de evangelizar, mesmo quando for preciso semear com lágrimas!»

Podemos questionar-nos: O que é que tem a ver aquilo que estou a fazer ou a dizer com o Evangelho? Não podemos enfrentar os desafios de hoje com respostas de ontem. Evangelizar é a maior alegria da Igreja, que está sempre em caminho. Na verdade, como escreveu Bento XVI: «não há nada de mais belo do que ser alcançado, surpreendido pelo Evangelho, por Cristo. Não há nada de mais belo do que conhecê-Lo e comunicar aos outros a amizade com Ele». 

Juntos no caminho de Páscoa, queremos ser peregrinos de esperança e construtores de uma pastoral declinada cada vez mais em chave sinodal, samaritana e missionária. Precisamos de novos e/ou renovados evangelizadores para a Evangelização. O método do caminho sinodal é a conversação no Espírito feito de escuta, de silêncio e de esperança pascal. 

Então, como tornar mais sinodal, samaritana e missionária a realidade das nossas estruturas pastorais já existentes? 

Juntos, no caminho de Páscoa, seremos ainda capazes de sonhar uma Igreja diferente?

Para levar Jesus a todos e todos a Jesus não será que a Igreja precisa de se abster de coisas que não funcionam e dificultam a renovação missionária?

Como ser Igreja sinodal em missão?

A Missa leva sempre à Missão! A Missa tem de ser missionária!

A propósito, em muitas comunidades, não será possível celebrar menos missas e celebrar melhor missa? 

De que modo podemos reforçar o Domingo como dia da comunidade e a centralidade da Eucaristia?

Como formar Paróquias e/ou Unidades Pastorais, a partir do desejo e da busca de Deus, mais do que do território e da sua mera assistência religiosa e sacramental?

De que maneira fomentar a escuta, colocando-se à disposição de quem precisa de ser ouvido?

Que a Cruz florida da Páscoa abrace, ilumine e reanime o nosso coração ferido e nos sacie daquela alegria que nasce do encontro com o Ressuscitado.

Ao longo do caminho rezemos juntos e alegres na esperança:

Bendito sejais, Senhor,

que nos saciais com os vossos dons sagrados

e em cada domingo nos convidais a participar

na celebração da Ceia do vosso Filho,

Ele que, como outrora aos discípulos de Emaús,

nos explica o sentido da Escritura

e nos reparte o pão da vida.

Despertai em nós um desejo vivo da Eucaristia,

e tornai alegre, consciente, ativa e frutuosa

a nossa presença na assembleia cristã,

onde Vos queremos louvar, bendizer e adorar,

Deus eterno, Pai, Filho e Espírito Santo.

Fazei com que a preparação e a celebração

do Quinto Congresso Eucarístico Nacional

alimentem a nossa esperança

e levem a uma autêntica renovação espiritual

das comunidades cristãs.

Amen.

 

Braga, 25 de dezembro de 2023

Solenidade do Natal do Senhor

 

+ José Manuel Cordeiro

Vosso pastor irmão

 

 

 

JUNTOS NO CAMINHO DE PÁSCOA

Levar Jesus a todos e todos a Jesus

 

 

«Juntos, em processo sinodal dinâmico, seremos capazes de imaginar um futuro diferente para a Igreja Bracarense: alegria contagiante, escuta acolhedora, portas abertas, mãe que busca os seus filhos, centrada no Evangelho, discípula missionária, formação permanente, comunhão pastoral» (D. José Cordeiro, Carta Pastoral «Juntos, somos Igreja Sinodal Samaritana. Onde há amor, aí habita Deus», 2022).

 

MISSÃO

Levar Jesus a todos e todos a Jesus.

VISÃO

Juntos, em processo sinodal dinâmico e em caminho de Páscoa, seremos capazes de imaginar um futuro diferente para a Igreja Bracarense.

 

VALORES

Alegria contagiante

Escuta acolhedora

Portas abertas

Mãe que busca os seus filhos

Centrada no Evangelho

Discípula missionária

Formação permanente

Comunhão pastoral

 

 

JUNTOS NO CAMINHO DE PÁSCOA

 

1. Participação ativa e criativa

Promover o diálogo permanente entre todos.

Incentivar a participação ativa de todos na tomada de decisões e nas diferentes atividades e iniciativas. 

Estimular a criatividade como meio para a renovação constante. 

Interpelar à busca incessante de novos caminhos, novos modos de fazer, novas formas de chegar ao coração e à vida de cada um.

Estabelecer plataformas de diálogo aberto e de consulta nos processos de tomada de decisão, envolvendo diversas vozes e perspectivas da comunidade (paroquial e diocesana).

 

 

2. Avaliação sobre a missão

Procurar uma avaliação contínua das forças e das fragilidades inerentes a cada realidade eclesial, potenciando os aspetos positivos e tentando superar os menos favoráveis, sempre numa matriz fraterna.

Buscar novos métodos, estratégias e linguagens para evangelizar e formar os membros de cada comunidade.

Implementar estratégias de comunicação eficazes, incluindo a utilização de meios de comunicação modernos, para transmitir mensagens de forma clara e inclusiva, assegurando que todos possam compreender e envolver-se na missão.

 

3. Servir e acolher a todos

Promover espaços e momentos para ouvir as necessidades, ideias e sugestões dos membros da comunidade, incluindo as famílias, os jovens e os grupos mais vulneráveis, assegurando um ambiente acolhedor para uma comunicação aberta.

Ser Igreja em saída, que vai ao encontro de todos, que a todos acolhe, que se revela, para todos e cada um, rosto de Jesus Cristo, imitando fielmente a sua pedagogia e o seu modo de servir e amar.

Desenvolver programas e serviços de proximidade que satisfaçam as diversas necessidades da comunidade, dando ênfase à inclusão e a um espírito de hospitalidade e acolhimento.

 

4. Conversão ao Evangelho

Incentivar a colaboração entre todos (pessoas, grupos, movimentos, …), promovendo a comunhão e a complementaridade.

Promover a edificação da Igreja Sinodal Samaritana, configurada a partir da Páscoa e peregrina.

Dar ênfase ao encontro permanente com o Evangelho, encorajando as pessoas a aprofundar a sua compreensão e o seu empenho em viver os valores do Evangelho na sua vida quotidiana, num caminho contínuo de discipulado.

 

5. Oração e vida espiritual

Cuidar a vida espiritual dos fiéis e valorizar as celebrações litúrgicas para que estas sejam, efetivamente, um momento de encontro com Deus e com os irmãos.

Incentivar a participação ativa e o envolvimento de todos nas diferentes celebrações litúrgicas.

Encorajar e promover o crescimento e o amadurecimento espiritual de cada um.

 

6. Alargar os horizontes da missão

Focar a pastoral na missão de evangelização, buscando novas formas de comunicar a mensagem de Cristo e de chegar às periferias existenciais da sociedade;

Investir em formação para que os membros da comunidade, juntos, possam ajudar a edificar a Igreja Sinodal, servindo-a com alegria e amor.


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