Arquidiocese de Braga -

3 junho 2024

Fermento da mudança!

Homilia de D. José Cordeiro na Celebração do Crisma do Colégio D. Diogo de Sousa em Fátima

Fotografia Colégio D. Diogo de Sousa

Caros diretor, administrador, professores, funcionários e benfeitores do Colégio

Caros alunos que hoje celebram o sacramento do crisma

Caros familiares e demais amigos aqui presentes 

 

1. Ao celebrarmos os 75 anos do Colégio D. Diogo de Sousa é a ocasião para colocarmos a seguinte pergunta: o que distingue uma escola católica de uma escola não-católica? 

De um modo sintético, podemos enumerar seis caraterísticas: ser reconhecida oficialmente pela autoridade eclesiástica; estar em comunhão com os princípios da Igreja Católica; que os seus docentes e colaboradores se pautem por uma postura moral cristã; expressar visivelmente o seu teor católico nas atividades curriculares e extracurriculares; possuir um carácter missionário, não sendo uma comunidade fechada, mas tolerante com os não-católicos e acolhedora dos mais frágeis da sociedade; e não descuidar o elemento central: a referência à pessoa de Cristo, ou seja, além da sua finalidade pedagógica, a escola católica pauta-se por promover este encontro do estudante com a figura de Cristo, «abrindo-o à verdade total (que responde) às questões mais profundas da alma humana». 

E daqui surge uma outra pergunta: o que distingue um aluno de uma escola católica de um aluno de uma escola não-católica? Em síntese, distingue-se num só aspeto: é um aluno que tem a consciência de que o seu maior professor é Jesus Cristo. 

Celebrar o sacramento do Crisma, no fundo, é assumir um compromisso: é dizer publicamente que, na minha plena liberdade, eu professo a fé em Cristo e desejo ser sua testemunha nos espaços que frequentarei. No dia do batismo, foram os vossos pais e padrinhos a assumir essa responsabilidade, mas agora sois vós que o dizeis pelas vossas próprias palavras. Logo, não estamos aqui a fazer um teatro religioso, estamos aqui para transformar a nossa vida, deixando que o Espírito nos enriqueça com os seus dons!

2. Um dos maiores pecados da juventude é-nos dito por Caetano Veloso na música “Oração do Tempo”, em que ele nos diz: (o maior erro da vida) é desperdiçar o tempo, ao ponto de depois termos de pedir mais tempo ao próprio tempo. Eu lamento dizer-vos, caros jovens, mas vós estais a viver, paradoxalmente, o tempo mais belo e o tempo mais exigente das vossas vidas. E das muitas coisas que Jesus nos tem para ensinar, uma delas é esta: tu não vales pelo número de likes que tens no teu Instagram, mas vales porque és uma pessoa única, irrepetível e amada por Deus. Tu és o protagonista da tua história de vida, por isso, não queiras ser uma marioneta dos outros!

Em 1961, no discurso de tomada de posse como presidente dos Estados Unidos da América, John Kennedy deixou esta provocação aos americanos: «caros compatriotas, não perguntem o que o país pode fazer por vós, mas o que vós podeis fazer pelo seu país». Na mesma linha poderíamos dizer hoje: caros jovens, não pergunteis o que a Igreja pode fazer por vós, mas o que vós podeis fazer pela Igreja. Enquanto estudantes de uma instituição católica sois chamados a que, hoje e nas vossas futuras ocupações do amanhã, testemunheis os valores cristãos, não tenhais vergonha de falar de Jesus Cristo, não vos conformeis com um mundo onde ainda há pobreza e violência. Vós deveis ser o fermento da mudança! 

3. A propósito, toda a liturgia da palavra de hoje, que escutamos há pouco, elucida-nos sobre a fonte principal da vida de um católico: a Eucaristia. E porquê? Porque, em cada Eucaristia, Deus faz-se presente em três modos sensoriais: pelos nossos ouvidos, os nossos olhos e o nosso paladar.

Pelos ouvidos escutamos a Palavra de Deus, que se distingue de todas as outras palavras por ser uma palavra vivificante: é uma palavra que dá um sentido ulterior à nossa existência. Pelos olhos contemplamos a presença real de Jesus no pão e vinho consagrados, vendo aí como o efeito da Sua Ressurreição perdura até aos nossos dias. E pelo paladar saboreamos esse pão eucarístico, que nos fortalece.

Assim sendo, daqui chamo a vossa atenção: não é por acaso que a Eucaristia é pão (Mc 14,22; Jo 6,22-57) em vez de ser remédio. Imaginemos que, no nosso quotidiano, nós nos alimentávamos diariamente do remédio farmacêutico e só esporadicamente comíamos pão. O que aconteceria? O nosso corpo rapidamente falecia. Do mesmo modo, a Eucaristia é um pão para ser comungado diariamente ou, no mínimo, semanalmente ao domingo, caso contrário, a nossa vida espiritual desfalece. 

4. Ao celebramos nos próximos dias o 5.º Congresso Eucarístico Nacional em Braga, como seria belo se vos tornásseis em “apóstolos escolares da Eucaristia”, participando com regularidade na Eucaristia celebrada no vosso colégio, dando assim exemplo aos estudantes mais novos do vosso colégio. Já imaginaste como seria belo vós reunir-vos para celebrar a fé, cantardes aquelas músicas litúrgicas juvenis, emprestardes a vossa voz a Deus para que Ele fale aos outros pela leitura da sua palavra, dardes um abraço da paz como sinal de fraternidade? Em verdade, não imaginas o quão pode mudar a tua vida se participares na Eucaristia.

 Para terminar, quando lemos o livro “O velho e o mar” de Ernest Hemingway (escrito na década de 1950), colhemos aí um belo contrato inter-geracional. O livro conta-nos a história de um pescador idoso (Santiago) que há já 84 dias não pescava nada, sendo humilhado pelos outros pescadores. Prestes a desistir, um jovem (Manolim), que antes fora seu aprendiz, insiste com ele para não desistir. Embora contrariado, o idoso vai para a pesca e eis que inesperadamente encontra o maior peixe jamais visto na sua vida. 

Esta narrativa deixa-nos uma grande lição: os mais velhos oferecem a sabedoria aos jovens, e os jovens devem oferecer a esperança aos mais velhos. Portanto, caros jovens, aceitai com benevolência a sabedoria que os vossos pais e professores tanto desejam oferecer-vos e, pela outra via, jamais deixem de oferecer a esperança juvenil aos outros! 

Que os pastorinhos de Fátima sejam para vós um exemplo disso e, como dizia o pequeno Francisco Marto, possamos amar cada vez mais o «Jesus escondido» na Eucaristia!

 

+ José Manuel Cordeiro

30 de maio de 2024, Basílica da Santíssima Trindade - Fátima


 

1 Congregação para a Educação Católica, A identidade da escola católica para uma cultura do diálogo (Instrução), 20.

2 Cfr. Site oficial do património de John Kennedy: https://www.jfklibrary.org/learn/about-jfk/historic-speeches/inaugural-address

3 Cfr. Francisco, Christus vivit, 174.

4 Cfr. Lumen Gentium, 33.

5 Cfr. Memórias da Irmã Lúcia, I, 41