Arquidiocese de Braga -

Este dia é para cada um de vós e para as vossas famílias um momento solene das vossas vidas. Observo aqui da mesa especial do altar, onde colocais todas as vossas esperanças e sonhos, e vejo um olhar jovem, entusiasmado e alegre, significado nas cores dos vossos cursos que identificam as faculdades e escolas. As ferramentas que ganharam ao longo destes anos de estudo e de preparação, permaneçam no mundo, multiplicando-se como pão partido e repartido, para colorir o mundo de humanismo, esperança e paz. A vossa responsabilidade é hoje abençoada pel’O companheiro de viagem de sempre, Jesus Cristo, nossa Páscoa e nossa Paz. 

Nestas pastas que orgulhosamente segurais, colocais como memórias vivas, em Eucaristia permanente, o itinerário que fizestes nesta academia, especialmente na comemoração do cinquentenário da Universidade do Minho, mas ao mesmo tempo de olhos sempre postos no caminho.

 

 

Permanecer com coração de peregrino. Sois peregrinos que, com um curso, quereis apenas servir mais e melhor. Permiti que traga aos ouvidos do vosso coração as palavras que o nosso querido Papa Francisco vos deixou aqui nas jornadas mundiais da juventude, das quais todos de alguma forma fizemos parte:

«Na imagem do “peregrino”, espelha-se a conduta humana, pois todos somos chamados a confrontar-nos com grandes interrogações que não têm resposta, não têm uma resposta simplista ou imediata, mas convidam a realizar uma viagem, superando-se a si mesmo, indo mais além. Trata-se dum processo que um universitário compreende bem, pois é assim que nasce a ciência. E de igual modo cresce também a busca espiritual. Peregrino é caminhar para uma meta ou à procura duma meta. Há sempre o perigo de mover-se num labirinto, onde não há meta, nem saída. Desconfiemos das fórmulas pré-fabricadas (são labirínticas), desconfiemos das respostas que nos parecem ao alcance da mão, das respostas extraídas da manga como se fossem cartas viciadas de jogar; desconfiemos das propostas que parecem dar tudo sem pedir nada». 

 

Ninguém caminha parado. Este dia, a bênção das vossas pastas é um sinal claro que não quereis parar, que colocais os olhos no futuro. Ninguém pede este momento se o objetivo fosse parar. Não, pelo contrário. Vejo no vosso olhar uma vontade de peregrinos, de entrar nesta nova etapa do mesmo caminho, do caminho de sempre, procurando superar-se a si mesmo. A nossa vida é um grande caminho, vivemos num caminhar permanente, eterno. Peregrino é a nossa condição humana. De que modo quero ser peregrino? Permitam que repita: De que modo quero ser peregrino?

 

 

Permanecer, não insensibilizar: Amor dá, quem do amor vive. Guardar os mandamentos, é viver neles. Jesus, no Evangelho, fala de procurar e arriscar tendo estrada para andar, pois há muito estrada para andar. Estrada esta que tem a segurança do caminho delineado, que nos faz ser livres. Neste momento histórico, todos estamos cientes dos enormes desafios que comporta esta terceira guerra mundial, “vivida aos pedaços”, como nos diz Francisco. 

 

Nesta procura de permanecer em Alguém, não desgarrados da realidade, onde o amor é, ao mesmo tempo, o útero da vida e o alimento do crescimento, sede protagonistas desta construção, rasgai caminhos, sem medos. Por isso, tende a coragem de substituir os medos pelos sonhos: “não sejais administradores de medos, mas empreendedores de sonhos!”, grande frase do nosso querido Papa. Mas, estimados amigos, sem saber em quem permanecemos, a que projeto estamos afetos, corremos riscos que sermos riscados do mapa da vida, por caminharmos ao sabor de tudo. 

 

Por isso, permiti que deixe estas perguntas: A quem pertenço? Qual é o meu projeto de vida? Qual o meu lugar?  Onde estás? (primeira pergunta de Deus ao Homem, Génesis 3,9). O texto do Evangelho termina recordando que fomos escolhidos, que bela surpresa de Deus. «Não fostes vós que Me escolhestes; fui eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça». Sim, que o vosso fruto permaneça. Quais são os meus frutos que quero que permaneçam?

 

 

Chamo-vos amigos. Que a vossa Alegria seja completa. «A alegria completa nasceu numa manhã de graça, num lugar improvável: perto de um sepulcro» (J. Aguiar Campos). Na história de namoro de Deus connosco, há uma segunda pergunta que evitamos tantas vezes responder: onde está o teu irmão? Que respondes a esta pergunta? Onde está o teu irmão? Mais do que ninguém, sabeis os momentos que, ao longos dos últimos anos, fostes partilhando uns com os outros e que guardais dentro dessas pastas, separadas por fitas. Lembrais os momentos de alegria nas vitórias, no lazer e no convívio, e de esperança nas contrariedades; nos sucessos e nas aparentes derrotas; nas partilhas de histórias pessoais, na luz e na sombra que nelas existem. 

 

Por isso, não deixeis morrer a família que nasceu nos corredores desta academia, caminhos de peregrinos à procura. Hoje, mais do que nunca, é possível manter estas relações mesmo à distância, que não substitui momentos de convívio que, enquanto partilhais histórias deste tempo, trazeis no fundo esta preocupação que tendes uns pelos outros: onde está o meu irmão? Não deixeis morrer o que foi construído entre vós nestes anos. Para isso, fortalecei a vossa amizade, partilha de ideias de modo interdisciplinar, ajudai-vos mutuamente nas vidas uns dos outros. Gosto muito desta frase de Jesus que ouvimos hoje: «não vos chamo servos, chamo-vos amigos». 

 

Finalistas desta etapa do caminho das vossas vidas, deixar que a bênção de Deus toque este momento, significa tomardes o coração do caminho em Deus, onde não trabalhas por objetivos, mas por um sonho, por um modo de peregrinar: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amei». 

Lembrem-se: Permanecer com coração de peregrino, onde o amor é alimento do caminho e, sem o teu irmão, será apenas quilómetros e não vida. Coragem. Contamos convosco. A vossa alegria é completa em Jesus Cristo! 

 

+ José Manuel Cordeiro

Arcebispo Metropolita de Braga