Arquidiocese de Braga -

24 março 2024

Páscoa com Jesus

Fotografia DACS

Domingo de Ramos na Paixão do Senhor. Homilia de D. José Cordeiro Sé de Braga, 24 de março de 2024

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Páscoa com Jesus
Domingo de Ramos na Paixão do Senhor 2024

1. Limiar da Semana Santa
Duas antigas tradições moldam esta celebração litúrgica, única no seu género, com a proclamação de dois textos do Evangelho: a tradição de uma procissão em Jerusalém e a leitura da Paixão em Roma. A intensidade que rodeia a entrada real de Cristo e o rito solene da entrada na Porta da Sé primaz, cede imediatamente o lugar a um dos Cânticos do Servo Sofredor e à grande proclamação da Paixão do Senhor.

Por isso, como se pode unir, hoje, os numerosos elementos teológicos e emotivos deste dia, sobretudo quando pastoralmente é aconselhável uma homilia breve?

A chave está na segunda leitura, no surpreendente hino da Carta de São Paulo aos Filipenses, que resume de forma admirável todo o mistério pascal, da Encarnação, à Páscoa, ao Pentecostes. Jesus é o servo sofredor (Livro de Isaías), que, sendo Deus, humilhou-se para fazer da Sua vida um sacrifício para os outros, até à morte e morte de cruz. Em Jesus Cristo que enfrenta a paixão, encontramos o modelo a seguir de ser sempre em caminho para a salvação.

Vários usos e tradições locais, especialmente entre nós, levam as pessoas a pensar nos acontecimentos dos últimos dias de Jesus, mas o grande desejo da Igreja, nesta Semana Maior, não é simplesmente mexer com as nossas emoções, mas tornar mais profunda a nossa fé, como nos recorda o diretório de homilética. Nas celebrações litúrgicas da Semana Santa que começa, não nos limitemos à mera contemplação do que Jesus fez, mas mergulhemos no próprio mistério pascal, para morrer e ressuscitar com Cristo.

2. Igreja(s) de portas abertas
O tão antigo quanto belo costume da abertura da porta da Sé primaz com a cruz de Jesus Cristo desafia-nos a ter as portas da Igreja e das igrejas sempre abertas, para escutar e hospedar na alegria da fraternidade do Evangelho.

A Igreja é uma mãe de coração aberto e «a Igreja “em saída” é uma Igreja com as portas abertas. (…) A Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. Um dos sinais concretos desta abertura é ter, por todo o lado, igreja com as portas abertas. (…) e nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer. Isto vale sobretudo quando se trata daquele sacramento que é a “porta”: o Batismo. (…) Muitas vezes agimos como controladores da graça e não como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega, é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fatigante», recorda-nos o Papa Francisco (EG 46-47).

A Igreja não existe e não pode viver só para si mesma. Existe para o acolhimento de todos, existe para a Missão, ou melhor, para evangelizar com o Evangelho de que sempre se evangeliza.

O grande desafio do Cristianismo na atual pós-modernidade não é o ter as “igrejas vazias”, mas o ter as “igrejas permanentemente fechadas”. Não somos uma igreja de números, mas de pessoas!

Como salienta a oração da dedicação de uma igreja: «aqui encontrem os pobres a misericórdia, alcancem os oprimidos a verdadeira liberdade, e todos os homens se revistam da dignidade de filhos vossos, até chegarem à Jerusalém do alto, a cidade do Céu».

3. Peregrinos de silêncio orante
Na dinâmica arquidiocesana da Quaresma-Páscoa propomos: «Silêncio! Diante da dor e do sofrimento, não há palavras que reinem. Por isso, somos convidados ao silêncio. E o silêncio ajudar-nos-á a escutar, a dar primazia ao outro, a gerar verdadeiro encontro. Então, não nos deixemos levar pela doença do palavreado, mas dos gestos que eternizam momentos, tantas vezes vividos em silêncio».

Hoje, à noite, com os jovens seremos peregrinos de silêncio orante na igreja de S. José de S. Lázaro, rezando ao estilo de Taizé. Com os jovens queremos estar sempre em caminho de Páscoa e à mesa com Jesus, para partilhar o pão e alimentar a esperança.

 

+ José Manuel Cordeiro