Arquidiocese de Braga -
2 novembro 2023
O sentido pascal-batismal da morte cristã
Homilia de D. José Cordeiro, proferida na Sé de Braga, por ocasião da Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos.
\n \n1. A comunhão dos santos
A comemoração de todos os fiéis defuntos é proclamada e celebrada pela Liturgia no mesmo horizonte teológico em que se coloca a solenidade de todos os santos, isto é, a profunda comunhão em Cristo entre todos os crentes – a comunhão dos santos.
Tal comemoração terá nascido em ambiente monástico, por volta do século X. No calendário romano já se encontra na época carolíngia. No ano 1915, Bento XV permitiu a celebração de três missas neste dia.
A Liturgia das exéquias na Igreja é uma celebração do mistério pascal de Cristo. De facto, os cristãos confessam na fé e na esperança a sua última Páscoa, ao dizerem no Credo: “espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”. A própria Liturgia o afirma solenemente: “N’Ele brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição: e se a certeza da morte nos entristece, conforta-nos a promessa da imortalidade. Para os que creem em Vós, Senhor, a vida não acaba, apenas se transforma; e, desfeita a morada deste exílio terrestre, adquirimos no céu uma habitação eterna” (Prefácio dos defuntos I).
A orientação da reforma litúrgica para o rito das exéquias cristãs é: “exprimir melhor o sentido pascal da morte cristã» (SC 81).
Todas as culturas tiveram sempre uma atitude de veneração e de respeito pelo corpo dos defuntos, muito mais a cultura cristã, como lembra Santo Agostinho: «se os que não creem na ressurreição da carne cuidam os cadáveres dos defuntos, quanto mais o não devem fazer os crentes?!»
2. Cuidar do Sufrágio pelos defuntos
É muito importante a oração de sufrágio pelos defuntos. Hoje, comemoramos todos os fiéis defuntos, especialmente os pastores nossos antecessores, recordando os nomes dos Arcebispos do século passado: D. Manuel Baptista da Cunha (3 de Fevereiro de 1899 a 13 de Maio de 1913); D. Manuel Vieira de Matos (1 de Outubro de 1914 a 28 de Setembro de 1932); D. António Bento Martins Júnior (28 de Setembro de 1932 a 19 de Agosto de 1963); D. Francisco Maria da Silva (12 de Dezembro de 1963 a 14 de Abril de 1977); D. Eurico Dias Nogueira (5 de Novembro do 1977 a 5 de Junho de 1999).
Além dos Arcebispos e dos capitulares, lembramos todos e todas que serviram do Evangelho na Igreja bracarense. O reconhecimento e gratidão é um ato devido, que encontra muitas expressões: a visita ao cemitério, um ramo de flores, uma vela..., todavia, nada melhor que a oração, como sinal eficaz do nosso afeto e do nosso amor.
Uma nota histórica do Martiriológio Romano relembra: «Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, na qual a Igreja, Mãe piedosa, depois da sua solicitude em celebrar com os devidos louvores todos os seus filhos que se alegram no céu, quer interceder diante de Deus pelas almas de todos os que nos precederam, marcados com o sinal da fé e que agora dormem na esperança da ressurreição, bem como por todos os defuntos, cuja fé só Deus conhece, a fim de que, purificados de toda a mancha do pecado, sejam associados aos cidadãos celestes, para poderem gozar da visão da felicidade eterna».
3. Pão vivo para a vida eterna
Nesta terceira Missa prevista para a comemoração de todos os fiéis defuntos escutamos a Palavra que nos consola na peregrinação da vida: Deus fez cair o maná, com o qual alimentava o povo de Israel para a Terra Prometida e Jesus é o pão descido do Céu que dá a vida eterna; Isaías expressa a amizade e o compromisso do banquete do Reino: «O Senhor destruiu a morte para sempre»; Paulo aos Tessalonicenses confirma o que acontece aos membros da comunidade que morriam: «Estaremos sempre com o Senhor».
O Salmo 22 transmite-nos a luz e a paz ao cantar: O Senhor é meu pastor nada me faltará. Este cântico de confiança fortalece-nos no caminho. Charles de Foucauld dizia: «Quão felizes somos de estar nas mãos de um tal pastor! Ele procura o nosso verdadeiro bem e sabe dar-nos a cada hora o alimento necessário».
O Pastor é muito mais que um guia, é sobretudo um companheiro de viagem para quem as horas do seu rebanho são as suas mesmas horas, os mesmos riscos, a mesma sede e a mesma fome, o sol e a chuva que batem implacáveis sobre o rebanho e sobre o pastor.
Por isso o simbolismo pastoral tornou-se um sinal privilegiado para falar de Deus e dos que são chamados “pastores”. Igualmente o báculo se tornou um sinal de confiança e de segurança para o rebanho. O Bom Pastor tem palavras de vida eterna e segui-Lo é ter a vida eterna.
Jesus identifica-se como o Bom Pastor e o Pão vivo e acaba por dizer: «Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente e Eu o ressuscitarei no último dia». A eucaristia é o pão vivo para a vida eterna.
+ José Manuel Cordeiro
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