Arquidiocese de Braga -
18 outubro 2023
Da alegria do chamamento à alegria de chamar
Assembleia do Clero, 17 de outubro de 2023
\n \nAntes de tudo, gostaria de significar a enorme alegria e gratidão pelo nosso encontro na consolidação da amizade, da ministerialidade e da fraternidade sacramental efetiva e afetiva.
Esta é uma nova oportunidade para sermos sínodo (su,nodoi), como diz S. Inácio de Antioquia, que hoje fazemos memória litúrgica, na carta aos Efésios: «assim, sois todos companheiros de caminho, portadores de Deus e portadores do templo, portadores de Cristo, portadores do que é santo, ornados em tudo com os preceitos de Jesus Cristo». Eis o grande desafio: antes de fazer sinodalidade, ser sinodalidade.
Na comunhão com toda a Igreja rezamos pela paz e pela reconciliação na Terra Santa. Como Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, mestra da Evangelização, escreveu: «só a confiança e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor». E o Papa Francisco comenta na exortação apostólica c’est la confiance: «É a confiança que nos conduz ao Amor e assim nos liberta do temor; é a confiança que nos ajuda a desviar o olhar de nós mesmos; é a confiança que nos permite colocar nas mãos de Deus aquilo que só Ele pode fazer. Isto deixa-nos uma imensa torrente de amor e de energias disponíveis para procurar o bem dos irmãos».
Agradeço cordialmente ao Conselho Permanente do Conselho Presbiteral, à Equipa de formação do Clero, ao IDAC, à Fraternidade Sacerdotal, aos Seminários, aos Arciprestados, às Vigararias episcopais e aos serviços centrais, a preparação e a realização desta nossa assembleia e toda a dedicação na construção do nosso presbitério.
As nossas mãos foram ungidas com o azeite perfumado, o bálsamo da unção, para a missão da alegria no serviço do Evangelho da Esperança. Contudo, a unção não significa que sejam intocáveis, são mesmo o contrário, é para as ‘sujar’. Há que as sujar. Àqueles que não querem sujar as mãos na realidade da Igreja no mundo, avisava Charles Péguy «acabam rapidamente por ficar sem mãos».
O rito explicativo da unção das mãos com o santo crisma indica esta mesma função santificadora: «O Senhor Jesus Cristo, a Quem o Pai ungiu pelo Espírito Santo e seu poder, te guarde para santificares o povo cristão e ofereceres a Deus o sacrifício» e, ainda, na entrega do cálice: «recebe a oferenda do povo santo para a apresentares a Deus. Toma consciência do que virás a fazer; imita o que virás a realizar, e conforma a tua vida com o mistério da cruz do Senhor».
Todos somos necessários na Evangelização de levar Jesus a todos e todos a Jesus. Não podemos enfrentar os desafios de hoje com respostas de ontem, especialmente com os jovens.
Na exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, o documento pós-conciliar mais importante, segundo o Papa Francisco, somos interpelados por São Paulo VI: «Conservemos o fervor do espírito, portanto; conservemos a suave e reconfortante alegria de evangelizar, mesmo quando for preciso semear com lágrimas!» (n. 80).
Evangelizar é a maior alegria da Igreja, que está sempre em caminho, pois «a alegria é missionária» (Papa Francisco). Na verdade: «O desejo do homem é alcançar a alegria do coração» (…) «A verdadeira alegria é irmã da seriedade; onde está uma, encontra-se também a outra» (R. Guardini).
A vocação e a missão andam juntas. Deus chama, consagra, envia e está sempre connosco. Se fomos batizados, crismados e somos participantes da Eucaristia e da Reconciliação já estamos, com efeito, imersos em Deus e chamados à felicidade. Sim à felicidade, isto é, à santidade. Mas atenção porque não há vocações para a mediocridade e não nos iludamos, pois se a santidade é simples, ela não está em saldo; é exigente.
Com razão escreveu o nosso Padroeiro arquidiocesano, S. Martinho de Dume e de Braga, que no Domingo celebraremos a solenidade e na Sé com a ordenação de dois Diáconos (João e Sérgio): «Nunca mostres semblante triste na felicidade de outrem. Sou homem: como evitarei a inveja das prosperidades? Se difundires a felicidade, serás rico com muitos».
A Igreja presente em Braga precisa de novos evangelizadores para a sinodalidade. O Seminário e as casas de formação são comunidades educativas para o seguimento de Jesus, qual escola do evangelho da vocação. Precisamos de discípulos missionários. Quem acredita é chamado para a Missão. «As vocações para o ministério nascem em corações que amam a Deus. Nada é mais urgente do que fazer um Povo de Deus, que tenha coração para Deus, que queira fazer alguma coisa para Ele!» (Y. Congar).
O “Bracarense” Bartolomeu dos Mártires, santo Arcebispo conciliar, encarnou o perfil de Bispo ideal por ele defendido em Trento e escreveu, entre tantas obras um livro Estímulo de Pastores, que se tornou obra referencial. É um programa que abre à coragem da esperança e sublinha no coração do bispo: a caridade, a sabedoria, a retidão e a justiça.
Stimulus Pastorum, é também o nome de uma nova coleção da editora Nova Livraria Diário do Minho, que pretende estar ao serviço da comunhão presbiteral, publicando trabalhos escritos elaborados pelos presbíteros de Braga (tese, tesinas, poesia, outos textos que sejam validados…).
Caros irmãos e amigos Presbíteros, em Cristo Cabeça, Pastor, Esposo e Servo da Igreja, o Presbitério é lugar de comunhão e crescimento; tem origem sacramental, refletindo-se e prolongando-se no âmbito do exercício do ministério presbiteral do mistério ao ministério. Sabemos que não são os Presbíteros que fazem o Presbitério, é o Presbitério que faz os Presbíteros. Estejamos atentos, sendo persistentes na nossa formação permanente e alegres no testemunho feliz do Evangelho da vocação.
Caros Diáconos, encorajo-vos no serviço que realizais nas Paróquias e Unidades Pastorais em que fostes constituídos membros da Equipa pastoral para servir na caridade, na Palavra e na Liturgia.
A Vocação nasce da invocação (in-vocação), segundo o mandato de Jesus: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao Senhor da messe, que mande operários para a sua messe» (Mt. 9, 37-38). A nossa oração tem de ser paciente na esperança. Rezar transforma. Cada pessoa torna-se no que reza, no que contempla com os olhos do coração. Se não há oração não pode haver fé e menos ainda vocação ao seguimento de Cristo. É preciso rezar, pedir e confiar. Só quem reza pode ser discípulo missionário.
Recordamos com viva memória a homilia na oração de Vésperas, a que presidiu o Papa Francisco no dia 2 de agosto de 2023 em Lisboa: «Às vezes podemos sentir um cansaço semelhante no nosso caminho eclesial. Cansaço. Alguém dizia: “temo o cansaço dos bons”. Cansaço sentido quando nos parece que nada mais temos nas mãos além das redes vazias. Trata-se dum sentimento bastante difundido nos países de antiga tradição cristã, atravessados por muitas mudanças sociais e culturais e cada vez mais marcados pelo secularismo, pela indiferença para com Deus, por um progressivo afastamento da prática da fé. O perigo aqui é que entre o mundanismo. Aliás isto vê-se, com frequência, acentuado pela desilusão ou a aversão que alguns nutrem face à Igreja, devido às vezes ao nosso mau testemunho e aos escândalos que desfiguraram o seu rosto e que nos chamam a uma purificação humilde, constante, partindo do grito de sofrimento das vítimas que sempre se devem acolher e escutar. O risco, porém, quando nos sentimos desanimados (cada um de vós pense em que momento sentiu o desânimo), o risco é descer do barco, acabando presos nas redes da resignação e do pessimismo. Ao contrário, confiemos que Jesus continua a tomar pela mão e a levantar a sua Esposa amada. Levemos ao Senhor as nossas canseiras e as nossas lágrimas, para poder enfrentar as situações pastorais e espirituais, dialogando entre nós com abertura de coração para experimentar novos caminhos a seguir. Quando estamos desanimados, mais ou menos conscientemente “aposentamo-nos”, “aposentamo-nos” do zelo apostólico, perdemo-lo pouco a pouco e tornamo-nos “funcionários do sagrado”. É muito triste quando uma pessoa que consagrou a sua vida a Deus se torna “funcionário”, mero administrador das coisas. É muito triste».
Em dinamismo sinodal com a JMJ e o Jubileu 2025, o 5.º Congresso Eucarístico Nacional vai ter lugar em Braga de 31 de maio a 2 de junho de 2024, cujo tema será: «Partilhar o Pão, alimentar a Esperança. "Reconheceram-n'O ao partir o Pão" (Lc 24,35)».
Este grande encontro eclesial pretende que nos voltemos para o essencial, para a fonte e o vértice da ação da Igreja, que é a Eucaristia. Juntos, podemos recuperar a arte de bem celebrar, o silêncio, a adoração e o maravilhamento da Eucaristia. A graça de presidir ao sacramento dos sacramentos, não é mera devoção particular, lucro ou qualquer aparência de simonia, mas o momento fundamental do ministério sacerdotal para a edificação da Igreja, recebido como dom e mistério.
Na Missa Crismal desafiamo-nos: «Juntos e todos, poderemos sonhar um projeto pastoral arquidiocesano até 2033, ano em que celebraremos os 2000 anos da Páscoa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, o coração do Ano Litúrgico?»
Com cordialidade sapiencial, São João Crisóstomo exorta: «Pensa, caríssimo, na grandeza da alegria pascal, dado que até os poderes celestes fazem festa juntamente connosco e connosco se alegram pelos nossos bens... Nem mesmo o Senhor deles e nosso Se envergonha de a celebrar..., mas até o deseja, pois foi Ele que disse: Desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco. Se desejou comer a Páscoa, é evidente que também desejou celebrar a festa... Que te falta então para te encheres de alegria?»
+ José Manuel Cordeiro
Partilhar