Arquidiocese de Braga -

7 abril 2023

Porquê a Cruz?

Fotografia DACS

Homilia - Sexta-feira Santa

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1.Olhar o crucificado

A celebração da paixão do Senhor leva-nos a confiar na loucura da cruz como lugar da salvação que esperamos no mistério central da fé da Igreja: «salve-nos a loucura da tua cruz/ que nos ensine o amor/ e a graça de chamar-te/ Pai, Filho e Espírito Santo» (J. A. Mourão).

E interroga o jovem venerável Bernardo de Vasconcelos: «Conheces a “vida viva”/ que nem a morte cativa?», para confessar na hora da morte: «Jesus, Jesus, sou todo de Jesus».

O amor tem a forma da Cruz. Seremos capazes de olhar a cruz e de acolhê-la no quotidiano da nossa vida?

Junto da cruz, como experimentamos na peregrinação de fevereiro (29.01-03.03.2023) com os jovens na força admirável desta etapa da Jornada Mundial da Juventude: «nem todas as lágrimas são tristezas, nem todos os sorrisos são alegrias» (P. Chiziane).

As cicatrizes de todos os que sofrem são as cicatrizes do crucificado ressuscitado. Com efeito, «se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas de facto Cristo ressuscitou de entre os mortos, e tornou-se as primícias dos que dormem» (1 Cor 15, 19-20).

A oração universal ou dos fiéis tem hoje um tom solene e modelar na liturgia da Igreja. Além das intenções já listadas, queremos também rezar por todas as pessoas vítimas dos abusos de poder, de consciência e sexual.

 

2.Perguntas diante da cruz

Porquê a Cruz?

A paixão do Senhor coloca-se entre dois extremos: a amargura e a solenidade. Santo Ambrósio chama à Sexta-feira Santa, o dia da amargura; Santo Agostinho apelida-a de solenidade da paixão do Senhor.

Na contemplação de Cristo crucificado, vem-nos ao coração os inúmeros crucificados de sofrimento do mundo inteiro e da nossa Arquidiocese e cidade: doentes, vítimas de todo o tipo de violência, idosos, reclusos, migrantes, pessoas com deficiência, pessoas exploradas, pessoas submergidas na droga, pessoas sem abrigo.

Vale mais o que se diz, ou quem o diz?

Vale mais o que nos une, ou o que nos divide?

Vale mais a oferta sobre o altar, ou a reconciliação com o irmão?

Porquê tanta violência na família?

Porquê a violência no namoro?

Porquê a falta de habitação condigna para todos?

A esperança habita em ti?

A Cruz é a porta aberta da Páscoa.

 

3.Silêncio

O silêncio orante e contemplativo é hoje especialmente experienciado. Na verdade, «Quem não sabe calar não sabe escutar. E quem não sabe escutar não reza, mas quem não sabe rezar nunca poderá entender nada do mistério de Deus (…). O silêncio não é um vazio, uma clausura, mas um fluir no Verbo, um abrir-se ao eterno, um dar espaço à escuta Daquele que nos habita (…). Nada tem eficácia quanto o silêncio carregado de Deus, a oração» (A.M Canopi).

A Virgem Santa Maria, Mãe de Deus e de Deus Filha, mãe do céu, é exemplo de escuta da Palavra de Deus em ordem a uma conformação cada vez maior ao mistério da cruz. Ela é a perfeita discípula do Senhor, que O segue até à cruz e nos ensina os remédios: encontro pessoal; escuta; (bem)dizer.

A resposta de Deus ao sofrimento e à dor é Jesus Cristo crucificado e ressuscitado e depois só o silêncio orante e contemplativo.

Aqui na Sé de Braga, experimentamos o silêncio carregado da cruz pascal, como escreveu Maria Ondina Braga: «Muito fresca a Sé nas tardes de verão. A nave escura e imensa de silêncio».

 

+ José Manuel Cordeiro