Arquidiocese de Braga -
6 abril 2023
Desejei ardentemente
Homilia - Quinta-feira da Ceia do Senhor 2023
\n \n1. Plenitude da caridade e da vida: «Amou-os até ao fim»
A partir da fórmula de Jesus antes da última ceia: «desejei ardentemente comer esta páscoa convosco, antes de padecer» (Lc 22,15), o Papa Francisco escreveu uma carta apostólica sob o mesmo título Desiderio derideravi, salientando que a Liturgia não é um conjunto de formulários rituais, mas é a manifestação do Evangelho.
Este texto foi assinado no dia 29 de junho de 2022, dia em que recebi das suas mãos o pálio que uso, e que depois foi entregue aqui na Sé, no dia 10 de julho pelo Núncio Apostólico. O Santo Padre faz um caloroso apelo a favor da formação litúrgica do Povo de Deus. A formação à Liturgia e a formação pela Liturgia é a fonte da espiritualidade cristã.
A Liturgia é o lugar do encontro com Jesus Cristo. De facto: «não nos basta ter uma vaga recordação da última ceia: nós precisamos de estar presentes nessa Ceia, de poder ouvir a sua voz, de comer o seu Corpo e beber o seu Sangue: precisamos d’Ele» (n. 11).
A plenitude da caridade e da vida consiste em amar até ao fim. A Eucaristia é o sacramento, ou seja, é o sinal eloquente do amor. «Na santa Igreja, tudo pertence ao amor, vive no amor, faz-se por amor e vem do amor» (São Francisco de Sales).
2. A pastoral juvenil só pode ser sinodal
Hoje, 14 jovens delegados dos 14 Comité organizador do Arciprestados da nossa Arquidiocese nos dinamismos admiráveis da Jornada Mundial da Juventude, deixaram-se lavar os pés por mim. Os discípulos deixaram-se lavar os pés pelo Mestre. Este gesto não é fácil, pois significa deixar que a Graça entre em nós e deixar que a cruz atue em nós.
O Papa Francisco no fim da exortação pós-sinodal Christus Vivit manifestou um desejo: «Queridos jovens, ficarei feliz vendo-vos correr mais rápido do que os lentos e medrosos. Correi “atraídos por aquele Rosto tão amado, que adoramos na sagrada Eucaristia e reconhecemos na carne do irmão que sofre. O Espírito Santo vos impulsione nesta corrida para a frente. A Igreja precisa do vosso ímpeto, das vossas intuições, da vossa fé. Nós temos necessidade disto! E quando chegardes aonde nós ainda não chegamos, tende a paciência de esperar por nós”».
É de joelhos que lavamos os pés, imitando o gesto extremo de serviço que Jesus realizou.
Braga é conhecida por ser a cidade e a região mais jovem de Portugal. Onde há jovens tem de haver muitos sonhos e críticas. Caminharemos juntos no dinamismo eclesial da JMJ, Lisboa 2023, para construir uma Igreja de portas escancaradas para todos e um mundo melhor. Estamos juntos, caríssimos Jovens!
3. Uma toalha à cintura
No costume do Próprio Bracarense o gesto do lava-pés acontece logo no início da Eucaristia e começa com uma expressiva oração dirigida a Jesus Cristo: «olhai, Senhor, nós Vo-lo pedimos, para este nosso gesto de serviço... tal como lavamos a parte exterior do corpo, assim o nosso coração seja purificado por Vós, que sois Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo».
A toalha ou pano para enxugar é o sinal maior do amor no serviço: «levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tomando uma toalha, atou-a à cintura. Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a secá-los com a toalha que tinha atado à cintura» (Jo 13,4-5).
Em todos os textos da instituição da Eucaristia vemos Jesus a doar-se com toda a sua pessoa, doando-nos o corpo e o sangue e o mandamento novo do amor. Por isso, a Eucaristia é inconciliável com as divisões e as discórdias, sobretudo dentro da Igreja.
A caridade da comunidade cristã modelada na Eucaristia procura aproximar-se concretamente de toda a pessoa que sofre por qualquer motivo de violência e abuso, de cada doente, de cada excluído, drogado, recluso, para ser testemunho do amor de Cristo e companheiro na viagem da vida.
Às vezes estamos mais preocupados com os critérios humanos da eficiência e do sucesso e até nos perguntamos: «que dizem os outros de mim?», em vez de me perguntar: «que pensa Deus de mim?».
Muitas das nossas dificuldades pastorais nascem do cansaço de nos deixarmos conduzir pela lógica da cruz e de lavarmos os pés uns aos outros.
+ José Manuel Cordeiro
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