Arquidiocese de Braga -

22 outubro 2023

Diaconia sinodal com S. Martinho

Fotografia

Homilia na Ordenação de diáconos na Solenidade de S. Martinho de Dume

\n \n

1. Corações ardentes, olhos abertos, pés ao caminho

A mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões, em tempo do caminho sinodal e que hoje comemoramos, inspira-se na história dos discípulos de Emaús, narrada por S. Lucas. De facto, «na narrativa evangélica, apreendemos a transformação dos discípulos a partir de algumas imagens sugestivas: corações ardentes pelas escrituras explicadas por Jesus, olhos abertos para O reconhecer e, como ponto culminante, pés ao caminho». Meditando a peregrinação dos discípulos de Emaús, possamos renovar o zelo pela evangelização do mundo de hoje.

A Missa leva sempre à Missão. Não pode haver Missão sem Liturgia e Liturgia sem Missão. O mesmo alinhamento está a ser preparado para o 5º Congresso Eucarístico Nacional, a realizar em Braga, de 31 de maio a 2 de junho de 2024, sob o tema: partilhar o pão, alimentar a esperança. Reconheceram-no ao partir do pão (Lc 24,35). Estamos todos convidados a participar.

2. Diaconia sinodal missionária

«Desde as origens, o ministério ordenado fui conferido e exercido em três graus: o dos bispos, o dos presbíteros e o dos diáconos. Os ministérios conferidos pela ordenação são insubstituíveis na estrutura orgânica da Igreja: sem bispo, presbíteros e diáconos, não pode falar-se de Igreja» (Catecismo da Igreja Católica n. 1593).

A celebração do Sacramento da Ordem decorre durante a Eucaristia, depois da liturgia da Palavra e antes da liturgia eucarística. A estrutura geral é a mesma para as três ordens e consta de três partes: 1) os ritos de introdução (apresentação e eleição); 2) o rito central (a imposição das mãos e a oração de ordenação); 3) os ritos explicativos.

Aos Diáconos é dito: «crê o que lês, ensina o que crês e vive o que ensinas». Os eleitos empenham-se em: ser consagrados ao ministério na Igreja, a exercer o mesmo com humildade e caridade, a guardar o mistério da fé, a viver o celibato, a rezar fielmente a Liturgia das Horas, a conformar a vida com Cristo. A imposição das mãos, feita só pelo bispo, e a oração transmitem o dom do Espírito Santo para o ministério diaconal. A explicitação deste rito dá-se pela vestição da estola e da dalmática; pela entrega do livro dos Evangelhos e pelo abraço da paz ao bispo e aos diáconos.

Relativamente aos serviços da caridade e da administração, S. Policarpo, Bispo de Esmirna (séc. II) recomendava: «Os diáconos sejam irrepreensíveis na santidade, como ministros de Deus e de Cristo, e não dos homens», e acrescentava: «Não devem ser homens sem palavra, caluniadores ou avaros, mas sóbrios em tudo, misericordiosos, solícitos, procedendo sempre segundo a verdade do Senhor, que Se fez servo de todos».

O Pontifical da Ordenação dos diáconos acrescenta: «Pela ordenação diaconal realizam-se a entrada no estado clerical e a incardinação numa determinada diocese ou prelatura pessoal; pela livre aceitação do celibato perante a Igreja, os candidatos ao diaconado consagram-se a Cristo de maneira nova; na celebração da ordenação é confiado aos diáconos o múnus da Igreja de louvar a Cristo e, por meio d’Ele suplicar ao Pai pela salvação de todo o mundo, de modo que rezem a Liturgia das Horas por todo o povo de Deus, e ainda por todos os homens» (Preliminares).

A visibilidade do ministério dos diáconos aparece sobretudo na celebração da Eucaristia, onde ele proclama o Evangelho e ajuda o Bispo e os presbíteros na distribuição da Eucaristia, especialmente levantando o cálice «sinal da imensa caridade de Cristo». O diácono pode ajudar toda a comunidade a passar da liturgia à vida, ocupando-se dos mais pobres e necessitados.

3. Sabor e sabedoria

A metáfora do Evangelho indica que os discípulos são chamados a dar sabor e a combater a corrupção, como o sal e, ainda, a ser como a luz que ilumina a todos. A Igreja não é o todo da vida e do mundo, mas é chamada a ser sal e luz, isto é, a dar sabor e sabedoria visível da esperança. Jesus sabe que os seus discípulos conhecem bem a carga evocativa destas imagens. O sal conserva os alimentos, usava-se nos sacrifícios antigos, servia de pagamento aos soldados romanos.

Por esta passagem do evangelho segundo Mateus sabemos também que a Lei antiga permanece válida, não foi revogada, mas completada em Jesus. Ele próprio é a plenitude da Lei e dos Profetas, a Palavra em Pessoa.

Caros João e Sérgio, o grande São Martinho de Dume e de Braga, na exortação à humildade, ensina-nos bem o significado de quanto escutámos no evangelho hodierno e indica o perfil do ministro humilde de coração: «Pelo que, quanto maior és, como diz Salomão, tanto mais te humilhas. Porque, governando tu a muitos, não és, contudo, perfeito se naquilo que é maior só tu resistires, sem te poderes governar a ti. Pois só então presidirás aos outros quando primeiro tiveres presidido a ti mesmo».

Ser sal da terra e ser luz do mundo é uma enorme missão para todos os que aceitam a novidade perene de Jesus Criso na sua vida quotidiana. Caminhemos juntos e levemos Jesus Cristo a todos para os trazer a todos a Jesus Cristo.

A Igreja tem como padroeira das missões e mestra da evangelização Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. A tal propósito, o Papa Francisco exorta: «Num tempo que nos convida a fechar-nos nos próprios interesses, Teresinha mostra a beleza de fazer da vida um dom. Num período em que prevalecem as necessidades mais superficiais, ela é testemunha da radicalidade evangélica. Numa época de individualismo, ela faz-nos descobrir o valor do amor que se torna intercessão. Num momento em que o ser humano vive obcecado pela grandeza e por novas formas de poder, ela aponta a via da pequenez. Num tempo em que se descartam tantos seres humanos, ela ensina-nos a beleza do cuidado, do ocupar-se do outro. Num momento de complexidade, ela pode ajudar-nos a redescobrir a simplicidade, o primado absoluto do amor, da confiança e do abandono, superando uma lógica legalista e moralista que enche a vida cristã de obrigações e preceitos e congela a alegria do Evangelho. Num tempo de entrincheiramento e reclusão, Teresinha convida-nos à saída missionária, conquistados pela atração de Jesus Cristo e do Evangelho» (Papa Francisco, C’est la confiance).

 

                                                                       + José Manuel Cordeiro