Arquidiocese de Braga -

30 abril 2023

Só por amor

Fotografia Avelino Lima

Homilia na eucaristia de Ordenação de diáconos

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1. Sou a porta das ovelhas e chamo cada uma delas pelo seu nome

São Gregório Magno, comentou o evangelho de hoje, afirmando: «Eu sou o Bom Pastor; conheço as minhas ovelhas, isto é, amo-as, e elas conhecem-Me». E, Jesus não é só o pastor bom e belo, mas a porta das ovelhas, encontrando e amando cada uma pelo nome. Sim, Ele, o crucificado ressuscitado, o cordeiro pastor, é a única porta do instante para a eternidade.

Na nossa vida são muitas as pessoas que têm o lugar de “porta”. Os nossos pais foram a porta para a vida. Os Bispos, os Presbíteros, os Diáconos, os Catequistas, os professores, os formadores, os amigos, a família, são a porta para o encontro, para a espiritualidade, para a cultura, para a fraternidade universal. Igualmente os pobres, os doentes, os reclusos, os migrantes, os que sofrem, são porta para o mistério na proximidade concreta.

E, eu para quem sou porta? Sou porta para facilitar o chamamento à alegria do Evangelho? Mantenho a porta aberta? Bato à porta dos outros?

Ser chamado pelo Amor e responder com o próprio Evangelho na vida é acatar o que São Bento escreveu na Regra: «Nada absolutamente anteponham a Cristo, o qual todos juntos nos conduza à vida eterna».

Os bispos e os presbíteros, com os diáconos, que tomam Jesus como modelo sabem apascentar o rebanho. Aqueles ministros que não tomam Jesus como modelo não sabem apascentar o rebanho. De facto: «o ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que as minhas ovelhas tenham a vida e a tenham em abundância» (Jo 10, 10).

Jesus Cristo é a porta e chama para a missão e o serviço. Por isso, o Papa Francisco recorda: «Todos os ministérios são expressão da única missão da Igreja e formas de serviço aos outros... Na raiz do termo ministério, destaca-se a palavra ‘minus’ ou ‘menor’. Quem segue Jesus não tem medo de ser ‘inferior ou menor’ ao se colocar a serviço dos outros e, através deles, ao próprio Cristo. Assim, todo o batizado descobre que é chamado a "iluminar, abençoar, animar, aliviar, curar, libertar”».

2. Por amor

Hoje, num tempo tão adverso, o que é que leva um jovem a abraçar o ministério ordenado na Igreja?

Só por amor. É um ato de liberdade e de amor seguir atrás de Jesus Cristo e servir os irmãos e as irmãs sem fingimento, mas na autenticidade e na verdade.

Caríssimos jovens: Frei Pedro Rodrigues, OSB, Pedro Fraga e Tiago Nogueira, com alegria esperançosa irei efetivar o rito essencial da ordenação, isto é, a imposição das mãos em silêncio e a oração própria do ministério que ides acolher na fé da Igreja. É um mistério tamanho, que pelo primor da poesia nos aproximamos: «Nunca conheci terreno mais fértil do que as mãos juntas, festa maior do que as mãos afastadas, prodígio maior do que as mãos impostas» (Daniel Faria).

Jesus Cristo é a beleza da nossa vida.

O salmo 22 que cantamos, consola-nos imensamente, porque o Senhor é meu pastor: nada me faltará: «ainda que tenha de andar por vales tenebrosos, não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo: o vosso cajado e o vosso báculo me enchem de confiança».

3. Trocar o instante pelo eterno

O esperançoso hino da Liturgia das Horas, da autoria de Miguel Trigueiros (1918-1999): “Troquemos o instante pelo eterno / sigamos o caminho de Jesus / a primavera vem depois do inverno / a alegria virá depois da cruz” foi o mote para esta semana de oração pelas vocações.

No Arciprestado de Guimarães e Vizela estiveram nestes dias os formadores e alunos dos nossos Seminários juntamente com o departamento da pastoral vocacional. Aqui foi até testemunhado: «a vocação é um caminho de luta com Deus e não contra Deus».

A celebração da ordenação dos Diáconos, no 60º dia mundial de oração pelas vocações, é uma feliz ocasião para redescobrir que «o chamamento do Senhor Jesus é graça, dom gratuito e, ao mesmo tempo, é compromisso de partir, sair para levar o Evangelho... corações ardentes e pés ao caminho» (Papa Francisco). Somos chamados e enviados. Sim, não há vocação sem missão.

O Senhor Jesus vos confirme na disponibilidade para servir com amor e encanto a Igreja. O amor tem a forma de uma cruz pascal. Onde há vocação, aí há amor e, onde há amor, aí habita Deus!

+ José Manuel Cordeiro