Arquidiocese de Braga -

15 abril 2017

Urgência de um Deus vivo

Fotografia António Silva/DM

Homilia na Vigília Pascal

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Nesta Vigília Pascal, penso na multiforme crise epocal que atinge diversos sectores. Refiro-me, de modo particular, ao plano relacional, social e espiritual. Crises que, em larga medida, estão interligadas e concorrem para um cenário mais complexo. A crise de fé decorre, como sabemos, de um vazio espiritual que, por sua vez, é consequência de uma indiferença em relação a Deus. Quais as razões para uma mudança tão drástica e repentina? Ainda não há muitos anos, vivíamos um período harmonioso e equilibrado de ritmos de vida, relações interpessoais e a fé era uma das chaves de leitura da realidade. Hoje tudo é diferente. A sociedade não quer aceitar a vertente religiosa da vida e, em vigília pascal, é bom que nos interroguemos sobre a razão de todo este mundo diferente. Parecem-me, por isso, razoáveis as palavras de Nietzsche que intuiu este drama da sociedade secularizada. “Para onde foi Deus? Quero-vos dizer. Foste vós a matá-Lo: vós e eu. Somos nós todos os seus assassinos”.

Proclamemos o primado de Deus, opondo-nos ao mal, dentro e fora de nós. Perseveremos no bem, abrindo-nos a todos com gratuidade e sem desconfiança. Demos espaço à diversidade e testemunhemos, com alegria, o espírito de solidariedade e de partilha. Isto é o verdadeiro desafio lançado pela Páscoa. Não desfiguremos o seu significado original. Deus ressuscitou para permanecer vivo. E os cristãos devem mostrá-lo.

Cada cristão é um sinal de esperança e um sinal de contradição. Vive muitas vezes em contracorrente, não aceitando a cumplicidade com o mal que encontramos no silêncio perante tantas situações de injustiça, apatia e indiferença. Sabemos como se deixam correr situações e são encobertas por subtis auto-justificações características de quem diz “não depende de mim”, que “posso eu fazer?”, “que pensem os outros…”. São estratégicas, talvez inconscientes, para encobrir a nossa inércia.

Que Maria nos aponte o Ressuscitado e conduza o nosso entendimento e coração para o projecto de salvação de Deus. A ela, enquanto Arquidiocese de Braga, e em ano mariano, fazemos, nesta noite, a nossa consagração para que sejamos, nas nossas vidas e nas comunidades, testemunho eloquente de um Deus vivo porque passou pela morte para viver na Ressurreição.

Uma Santa Páscoa para todos.

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

 

Pode descarregar abaixo o PDF da homilia na íntegra.


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