Arquidiocese de Braga -

16 setembro 2021

Papa Francisco fala de cardeais negacionistas

Fotografia DR

dacs

Francisco tomou as duas doses da vacina da Pfizer/BioNTech no início do ano, assim como o Papa Emérito Bento XVI.

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O papa Francisco falou ontem, quarta-feira, sobre os cardeais católicos que recusam tomar a vacina contra a Covid-19 e revelou que "um pequeno grupo" não realizou a inoculação. As revelações surgiram em conversa com os jornalistas durante a viagem de regresso a Roma depois da visita à Eslováquia.

"Até no colégio cardinalício há alguns negacionistas e um deles, coitado, está hospitalizado com o vírus. Ironia da vida. Têm medo, é preciso esclarecer com serenidade. No Vaticano, todos estão vacinados, excepto um pequeno grupo que se está a estudar como ajudar", disse aos jornalistas.

Para o Pontífice, a divisão sobre a importância e a eficácia das vacinas "é um pouco estranha" porque a humanidade tem um "histórico de amizade" com as vacinas.

"É um pouco estranho, porque a humanidade tem um histórico de amizade com as vacinas, quando crianças tínhamos sarampo, poliomielite e ninguém dizia nada... Talvez esta virulência seja por incerteza, não só pela pandemia. Há a diversidade de vacinas e também a fama de algumas vacinas serem pouco mais que água destilada, e isso tem gerado medo, alguns dizem que com a vacina o vírus entra nas pessoas, ou que as vacinas não são suficientemente testadas...", explicou.

Francisco tomou as duas doses da vacina da Pfizer/BioNTech no início do ano, assim como o Papa Emérito Bento XVI. O Vaticano também vacinou centenas de sem-abrigo.

Durante a viagem, o Papa falou ainda da importância de a Europa "retomar os sonhos dos seus fundadores" e da sua reunião com Orbán, onde os dois líderes abordaram assuntos como a ecologia e a demografia.

O tema das uniões homossexuais foi novamente abordado por um jornalista no avião papal e Francisco voltou a afirmar que o que já tinha dito anteriormente sobre o matrimónio.

"O matrimónio é um sacramento, a Igreja não tem poder para mudar os sacramentos como o Senhor os instituiu. Existem leis que tentam ajudar a situação de muitas pessoas que têm uma orientação sexual diferente. É importante que os Estados tenham a possibilidade civil de apoiá-los, dar-lhes segurança de herança, saúde e assim por diante, não só aos homossexuais, mas a todas as pessoas que queiram se associar. Mas o matrimónio é matrimónio. (...) Eles são igualmente irmãos e irmãs, o Senhor é bom, quer a salvação de todos, mas, por favor, não façam a Igreja renunciar à sua verdade. Muitas pessoas de orientação homossexual aproximam-se da penitência, pedem conselhos ao padre, a Igreja ajuda-os, mas o sacramento do matrimónio é outra coisa", concluiu.

O Pontífice também foi questionado sobre a "utilização da eucaristia como arma", numa alusão à situação dos Estados Unidos, onde alguns bispos são a favor de negar a comunhão a quem apoia as leis do aborto. 

"O aborto é mais que um problema, é um assassinato, quem faz o aborto mata, sem meias palavras. Pegue em qualquer livro de embriologia para estudantes de medicina. Na terceira semana da concepção, todos os órgãos já estão lá, todo o ADN também... é uma vida humana, essa vida humana deve ser respeitada, esse princípio é tão claro! Aos que não conseguem entender, faria esta pergunta: é certo matar uma vida humana para resolver um problema? É certo contratar um assassino para matar uma vida humana? Cientificamente, é uma vida humana. É justo retirá-la para resolver um problema? É por isso que a Igreja é tão dura nesta questão, porque se aceitar isso é como se aceitasse o assassinato diário", afirmou.

Ainda sobre este tema, o Pontífice revelou que um Chefe de Estado lhe havia revelado que, no seu país, o declínio demográfico tinha começado por existir uma lei sobre o aborto de tal forma que seis milhões de abortos foram realizados, o que levou a uma queda nos nascimentos na sociedade daquele país.

Confessando que não conhece bem os detalhes da situação nos EUA, Francisco afirmou ainda que os verdadeiros pastores também o são "dos excomungados" e que devem seguir o estilo de Deus, que assenta em "proximidade, compaixão e ternura".