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25 Jan 2019
Por um Ecumenismo em "saída"
Reflexão do Pe. Paulo Terroso, reitor da Basílica dos Congregados, na Celebração Ecuménica de 2019.
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  © Ana Marques Pinheiro

Excelentíssimo e reverendíssimo D. Sifredo

Caro Pastor Emanuel 

Caro Pe. Dmitry

Caro Reverendo Sérgio Alves

Caros irmãos e irmãs,

 

Há dias, eu e o pastor Emanuel, encontrámo-nos na Igreja Metodista de Braga para preparamos esta celebração. Antes mesmo de iniciar o trabalho de revisão do texto, distribuição de tarefas, definimos que o local de celebração seria a Basílica dos Congregados e que para o ano alternaríamos e seria de novo na Igreja Metodista. No ano passado, como se recordam, a celebração teve lugar lá. E nesse momento o Pastor Emanuel disse-me: “Padre Paulo, tenho de ser sincero consigo, foi muito bom para a nossa comunidade terem vindo cá para rezarmos juntos”. Confesso que não sabia que tinha sido a primeira vez, mas muito me alegro que assim tenha sido e com toda a naturalidade tivéssemos vivido esse momento de comunhão.

Inicio esta minha reflexão com esta (in)confidência, porque entendo que a nossa oração não pode ser inconsequente. Estamos mais uma vez reunidos para implorar a Deus o dom da unidade e esta celebração só faz sentido se a nossa oração for sincera, verdadeira e consequente. Se Deus não precisa de ser convencido da importância da unidade, creio que nós precisamos. Se é verdade que a unidade dos cristãos é “fruto da graça de Deus” e precisamos que as Igrejas se unam em oração, dirigida ao mesmo e único Espírito, para que nos inspire e impulsione na realização do caminho da unidade, não menos é verdade a necessidade de um coração pronto e generoso para acolher a vontade de Deus.

Ao terminar esta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, cujo tema foi escolhido pelos cristãos da Indonésia, inspira-se nestas palavras do Deuteronómio:  “Pratica a justiça e só a justiça”, penso ser elementar justiça todos tomarmos consciência que em virtude do nosso baptismo estamos incorporados em Cristo, somos seus membros. Neste sentido, os cristãos, nas relações entre si, não se devem ver como irmãos separados, cismáticos ou que não partilham plenamente a confissão de fé, mas a todos nos devemos considerar como membros do corpo de Cristo.

Entendo por isso, que a exortação de Deus “Procura a justiça e só a justiça” é antes de mais dirigida a cada uma das Igrejas. Uma exortação à superação de uma relação conflituosa e/ou competitiva entre as distintas Igrejas cristãs. 

Claro que os cristãos da Indonésia quando propuseram este tema tinham e têm em mente a realidade económica do seu país que deixa a muitos na pobreza, aumentado o fosso entre os muito ricos e os muito pobres. A miséria convive lado a lado com arranha-céus, hotéis imponentes e centros comerciais luxuosos. 

Não tenhamos dúvidas, a parábola do rico opulento e do pobre Lázaro repete-se hoje e à escala mundial. E o maior pecado contra os pobres e os esfomeados é talvez a indiferença, o fazer de conta que não vemos, o passar ao lado, o passar para o outro lado da estrada (cfr. Lc 10, 31).

Como membros do corpo de Cristo somos chamados a partilhar o suspiro de Cristo: “Estou com pena desta gente que anda comigo há três dias e não tem nada para comer”. E a sua missão: «O Espírito do Senhor tomou posse de mim, por isso me escolheu para levar a boa nova aos pobres. Enviou-me para anunciar a libertação aos prisioneiros, para dar vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e para proclamar o tempo favorável da parte do Senhor.»

Se ignoramos a imensa multidão dos esfomeados, dos pedintes, dos sem tecto e sobretudo sem esperança de um futuro melhor — escrevia João Paulo II na encíclica A Solicitude Social da Igreja —  tornamo-nos como o «rico opulento», que fingia não conhecer o pobre Lázaro, que jazia ao seu portão (Lc 16, 19-31).

Procurar a justiça e só a justiça exorta-nos a passar da dimensão orante do ecumenismo à dimensão pragmática, ao ecumenismo de acção. Como bem afirma o doutor João Duque “é na intervenção sobre um mundo problemático e secularizado que mais se relativizam as divisões e melhor se percebem as semelhanças, na construção da unidade”. Só a título de exemplo, em Itália, as Igrejas Evangélicas desempenharam um papel decisivo nas negociações e garantiram o acolhimento a dez migrantes na região de Piemonte, sem que o Estado tenha de assumir qualquer custo.

Igreja “em saída” é uma expressão muito cara ao Papa Francisco. Um termo que ele mesmo gosta de repetir ao falar da missão da Igreja nos nossos tempos. Significa em termos muitos simples ir aos que se encontram nas periferias geográficas e existenciais, rompendo com uma atitude de autopreservação. Parafraseando a expressão do Papa Francisco, eu diria que o futuro do ecumenismo passa por um Ecumenismo “em saída”. Citando de novo o teólogo  João Duque, o “espírito ecuménico torna-se, por assim dizer, mais fácil e mais natural, quando as Igrejas não se fixam em si mesmas ou nos seus problemas internos, mas se viram para o mundo, ao qual foram enviadas. É que o mundo contemporâneo, cada vez mais secularizado, precisa do empenho forte de todas as Igrejas, para que possa escutar a voz credível do Evangelho”.

Caríssimos irmãos, da nossa celebração de hoje deveria sair um compromisso interior forte de todas as Igrejas para que o mundo contemporâneo em geral e a sociedade portuguesa possam escutar a voz credível do Evangelho. 

Peçamos ao Senhor essa graça, abramos o nosso coração às inspirações do Espírito Santo. 

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