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DACS com CRUX | 13 Jul 2018
De presidiário e sem-abrigo a ajudante do Cardeal
Enzo Luciani tornou-se amigo e ajudante de D. Konrad Krajewski. Hoje em dia, já longe da rua, ajuda outros pobres e sem-abrigo.
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Duas vezes por semana, uma carrinha preta cheia de voluntários sai do Vaticano e vai a uma das estações de comboios de Roma para servir o jantar aos pobres. Atrás do volante? Um cardeal vestido com uma simples camisa cinzenta.

Quando a carrinha regressa ao Vaticano, depois de servir refeições a aproximadamente 300 sem-abrigo, migrantes e outros necessitados, o motorista pára, abre uma janela do carro e cumprimenta os sem-abrigo que dormem debaixo da colunata na Praça de São Pedro ou caminham em direcção a um dormitório nas proximidades.

O Cardeal Konrad Krajewski, o Esmoleiro Apostólico, conhece a maioria deles pelo nome.
Há três anos, Enzo Luciani era um dos que dormia sob a colunata. Tinha uma longa barba e, como diz, “cheirava mal como todas as pessoas antes de o Papa construir os balneários”.
Isso foi antes de conhecer “D. Corrado”, a alcunha de Krajewski. Depois de anos de um verdadeiro “caminho para Damasco”, Luciani é o braço direito do Cardeal.

Originalmente de Nápoles, e tendo cumprido várias sentenças de prisão no passado, Luciani agora faz tudo, desde cozinhar para o cardeal e para os pobres que jantam no seu apartamento todos os dias a ajudá-lo a arrumar a carrinha com as refeições que depois são servidas aos sem-abrigo.

Durante o consistório de 28 de Junho, onde Krajewski recebeu o seu barrete vermelho, Francisco disse aos novos cardeais: “Nenhum de nós se deve sentir «superior» a ninguém. Nenhum de nós deveria olhar para os outros de cima. A única vez que podemos olhar para uma pessoa dessa forma é quando estamos a ajudá-la a levantar-se”.

A jornalista Paulina Guzik falou com Luciani sobre a sua vida e o trabalho com o Esmoleiro Apostólico.

 

Como é que saiu de uma vida na rua? Quem o ajudou?

Foi graças a D. Corrado, que tinha uma certa confiança em mim. Eu tenho bastantes registos criminais – muitos, na verdade – e sabe como é… as “pessoas de fato”, as chamadas “boas pessoas” (que, a propósito, muitas vezes já se perderam) nunca confiam em si! Mas D. Corrado é um homem de Cristo e este é o seu papel: confiar nos filhos mais pobres de Deus. Deu-me uma segunda oportunidade. Muitas pessoas diziam-lhe: "mas sabe, o passado dele…”. E ele interrompia-as sempre dizendo: "Eu sei, eu sei". Já passaram três anos e, graças a Deus, estamos a vencer juntos.

 

Quando nos conhecemos, o Luciani disse-me que quando os jornalistas escrevem sobre o Papa deveriam escrever sobre as coisas que ele faz…

O que eu quis dizer é que vocês são responsáveis pelas vossas palavras porque as pessoas moldam as suas opiniões com base no que vocês lhes dizem. E, veja, se há um escândalo na Igreja, vocês pegam imediatamente nele e às vezes parece a coisa mais visível na história da Igreja. Este homem, D. Corrado, está na Igreja há 30 anos! Então, o que eu queria dizer – e acredite em mim, D. Corrado não precisa de mais nenhuma publicidade – é que gostava que as pessoas soubessem que ele não é um cardeal comum. Não é um homem que fica simplesmente atrás da sua secretária. Ele carrega os camiões como toda a gente! Lembro-me de quando ele tinha sido nomeado arcebispo há pouco e estava a transpirar muito ao carregar a comida para os pobres. Disse-lhe que estava todo molhado e ele respondeu simplesmente: “sou um homem como qualquer outro homem aqui, eu trabalho. Eu trabalho para a igreja”.

Ele ensina-nos que quanto maiores nos tornamos, mais humildes devemos ser. Todos nós passamos por uma batalha interior — do estilo “eu sou melhor que tu, tu és melhor que eu”… – e afinal somos todos filhos de Deus! Nenhum de nós voa acima dos outros porque no final do dia somos todos pecadores.

Enzo Luciani

Que trabalho faz para o cardeal?

Eu cozinho para os pobres. Há alguns anos, D. Corrado perguntou-me se lhes podia cozinhar alguma coisa. E veja bem, ele tem irmãs, ele tem os cozinheiros do Vaticano que podem cozinhar para ele! Mas perguntou-me porque queria que eu me sentisse necessário novamente. Aquilo que ele me diz sempre é: “Enzo, os pobres. Precisas de cozinhar para os pobres. És bom nisso, fá-lo por eles!”. Às vezes, quando os pobres ficam perturbados e nervosos, eu levo-os ao Cardeal e a maioria deles, quando o vê, acalma-se. Estou sempre disponível para o Cardeal. E D. Corrado envolve-se com aqueles que não estão disponíveis para ele, mas para Cristo.

 

Recentemente cozinhou para Tomasz Komenda, um polonês que foi injustamente condenado à prisão perpétua por matar e violar uma jovem de 15 anos de idade. Após 18 anos de prisão, foi absolvido de todas as acusações e diz que foi graças à intercessão de São João Paulo II que se descobriu que ele não matou a menina. Quando ele veio ao Vaticano para agradecer a João Paulo II pela sua libertação, foi recebido pelo Papa Francisco e convidado por D. Corrado para almoçar no seu apartamento. Ouvi dizer que ficou realmente comovido com aquela reunião…

Acho que o que ele realmente sentiu naquela prisão foi a dor que Jesus sentiu. Imagina o que ele deve ter passado na seção especial da prisão para violadores e assassinos de crianças? Fiquei verdadeiramente comovido quando nos visitou. D. Corrado disse-me naquele dia: “Enzo, prepara algo que ele nunca tenha comido na prisão!”. Não me consigo lembrar do que cozinhei, mas foi com certeza algo que ele nunca tinha provado atrás das grades. Mas a coisa mais importante naquele dia não foi a comida, foi o facto de podermos estar juntos naquela mesa e partilhar a sua vitória, a sua inocência, que é uma verdadeira vitória cristã.

Papa Francisco com Krajewski no dia da sua incardinação, durante um jantar com os pobres

 

Como relembra o dia em que D. Corrado foi nomeado Cardeal?

Acho que fui o primeiro a vê-lo quando o Santo Padre disse que se tornaria Cardeal. Eu estava aqui, ao lado da colunata, imediatamente corri para o seu sítio e vi o seu rosto calmo. Foi a alegria e a calma de um D. Corrado normal, o humilde. Ele ensina-nos que quanto maiores nos tornamos, mais humildes devemos ser. Todos nós passamos por uma batalha interior — do estilo “eu sou melhor que tu, tu és melhor que eu”… – e afinal somos todos filhos de Deus! Nenhum de nós voa acima dos outros porque no final do dia somos todos pecadores.

 

Sente que as pessoas são melhores hoje do que quando dormia na rua? Houve uma evolução?

Não foi há muito tempo que um casal bem vestido saiu da audiência com o Papa Francisco à quarta-feira. Havia um homem deitado na rua, perto dos chuveiros aqui de São Pedro. Uma senhora, acho que o nome dela era Anna, parou e olhou para o homem. O marido disse-lhe para não olhar! Mas aquela senhora tinha um verdadeiro coração de mãe. Estou muito feliz a trabalhar para D. Corrado, porque ao lado dele podemos realmente ver o coração de um homem. Muitas vezes estás a vestir uma camisa branca e tens um coração negro, mas podes usar uma camisa preta e ter um coração claro e pacífico. No final do dia, todos nós devemos olhar-nos nos olhos e nos corações. Enquanto tivermos esperança em Cristo, superaremos qualquer coisa.

Entrevista de Paulina Guzik publicada em Crux.
Tradução e adaptação de DACS.

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Palavras-Chave:
D. Konrad Krajewski  •  Enzo Luciani  •  Caridade  •  Pobreza  • 
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