Arquidiocese de Braga -

29 março 2020

Domingo da V Semana da Quaresma

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Homilia no Paço Arquiepiscopal

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Começo por vos pedir desculpa por não fazer uma homilia no sentido genuíno do que ela deve ser. Como pastor desta Arquidiocese, parece-me ser necessário deixar algumas ideias sobre como devemos viver o Domingo em família. Podem parecer ideias já conhecidas. A mim parecem-me, na verdade, que estão a ser esquecidas. O terceiro mandamento da Santa Igreja pede, a todos os cristãos, que santifiquem, que honrem e que respeitem o dia Sagrado do Domingo e outros dias santos, dado que, em virtude de ser o Dia da Ressurreição de Jesus, o Domingo é o dia mais sagrado da semana para todos os cristãos.

Por causa dos novos ritmos sociais, há uma tendência a banalizar-se o dia do Domingo, fazendo-o um dia igual aos outros, ignorando a sua sacralidade e utilidade social. Hoje, mais do que nunca, creio tornar-se fundamental voltar a recordar aos cristãos os 4 significados do Dia de Domingo.

Em primeiro lugar, o Domingo é o Dia da Eucaristia.

O dia em que, com a nossa comunidade paroquial, nos reunimos:
- para rezarmos pelas nossas intenções;
- para reavivarmos a amizade com aqueles que vivem na mesma terra;
- para exercermos a caridade junto dos mais carenciados;
- para celebrarmos com mais qualidade a nossa fé em Deus, evitando assim o nosso isolamento, o egoísmo, a solidão e o anonimato. A eucaristia não nos encerra em nó mesmos. O pão eucarístico conduz-nos a momentos de encontro com Cristo e com os outros.

Em segundo lugar, o Domingo é o Dia da Família.

O dia em que almoçamos com mais calma com a nossa família reunida à mesma mesa, com a televisão e a internet desligadas, e os telemóveis em “modo de voo”, bem como o dia de visitarmos os nossos avós, os familiares distantes, os amigos doentes. Deus não nos criou para vivermos sozinhos e isolados, mas no meio de uma família! E se reconhecemos que a eucaristia é sacramento as unidade, não é para nos isolarmos. Se nos reunimos para viver em doce intimidade com Cristo, sabemos que a paróquia é comunidade de comunidades e a família é a primeira dessas comunidades.

Em terceiro lugar, o Domingo é também o Dia da Natureza.

O dia propício para passeares pela natureza, contemplando a parte mais bela deste mundo que Deus criou para nós vivermos e desfrutarmos.

Neste sentido, sabemos que não somos donos deste mundo, mas apenas caseiros a quem Deus confia a chave da sua casa. O Santo Padre recorda-nos que a natureza é a nossa casa comum. Se esta consciência entrasse nos nossos pensamentos, levaríamos a eucaristia para a nossa relação com o mundo. É um imperativo ético e teológico. Cuidar da natureza é sinónimo de contemplar a beleza daquilo que Deus nos ofereceu como dom da sua benignidade. Esta respeito deve depois traduzir-se nas pequenas atitudes do dia-a-dia que contribuem para uma ecologia integral. 

Por fim, e em quarto lugar, o Domingo é ainda o Dia do Descanso. 

O dia para fazermos uma pausa nas nossas tarefas, pois, como diz o provérbio popular, se queres fazer bem uma coisa, deixa de a fazer de vez em quando.

Numa sociedade governada pelo dogma da produtividade e da competitividade, o dia do descanso semanal é cada vez mais um dia crucial e decisivo que nos protege do esgotamento laboral, da idolatria do trabalho, da escravidão dos horários e do consumo descontrolado.

Por tudo isto, resta-nos apenas a pergunta:

Como é que tu tens vivido o teu Domingo?

 

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

 

Introdução

Continuamos a nossa caminhada quaresmal, hoje vivendo o V Domingo da Quaresma. A leitura do Evangelho irá falar-nos da experiência de família de Maria, Marta e Lázaro e da amizade que Jesus tinha por essa família. Necessitamos de reaprender a viver o Domingo em família. As circunstâncias de isolamento social podem ajudar-nos. Desde os primeiros tempos que a família era considerada uma Igreja doméstica. Como tal, tinha o seu centro na eucaristia para uma vivência na comunidade, mas também com repercussões concretas no modo de a família entender o Domingo. Agora, estamos a viver um período de acalmia e de maior liberdade de tempo. Quando a pandemia passar, teremos de ser capazes de manifestar que soubemos aproveitar este tempo. Vamos, por isso, preparando-nos para ouvir a Palavra de Deus e pondo em questão o modo como o Domingo deve ser vivido. Lembremo-nos daqueles que, não agora mas depois, e por razões de trabalho, não podem celebrar em comunidade a fé no Ressuscitado.

Momento da paz

No Evangelho tivemos a oportunidade de ver o amor que circulava entre os três membros daquela família de Betânia. Também Jesus usufruiu desse amor e mostrou como amava a todos, chorando a morte da Lázaro. Todos ficaram impressionados pela profundidade desse amor. E Jesus chorou!

Aí se reconheceu que se Jesus tivesse estado presente, Lázaro não teria morrido. Isto pode ser sinal de que “onde dois ou três estão reunidos no meu nome, Eu estou presente no meio deles”. É isto que falta muitas vezes nas nossas famílias. O amor é meramente humano. Acreditemos que a paz e a felicidade das famílias depende da presença de Cristo no lar. Será utopia? Vamos experimentar. O que Cristo nos ensina é verdadeiro.

Despedida

Todos reconhecemos que o Domingo se foi desvirtuando. Há muitas coisas a que damos prioridade e que vão inconscientemente afastando o sentido cristão deste dia, o Dia do Senhor. A vida moderna é diferente e não vale a pena lutar contra as determinações que a sociedade impõe. Mas, não teremos a possibilidade de semear, no meio das imposições mercantilistas ou consumistas, os valores que o Domingo sempre teve? Creio que não podemos assumir acriticamente o que a mentalidade moderna quer determinar. O cristão foi, desde sempre, um profeta que olhar atento. Pode parecer difícil mas não é impossível. Esta semana é a semana do acreditar. O que nos diz a fé perante estas realidades?


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