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24 Mar 2020
Terça-feira da IV Semana da Quaresma
Homilia no Paço Arquiepiscopal
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A leitura do Evangelho que acabamos de escutar vinca uma afirmação que pode tornar-se uma interpelação. Junto à piscina de Betsatá estava um homem, havia já 38 anos. Esperava a hora da cura, que alguém o mergulhasse na piscina. Mas não tinha ninguém que o introduzisse na piscina. Um facto histórico relatado por S. João que hoje pode ter muitas implicações. 

A vida da sociedade e das nossas comunidades está cheia de pessoas que poderiam ter outra qualidade de vida se houvesse alguém que lhes desse uma mão, que esquecesse as suas ocupações tidas como prioritárias ou, como nos diz o itinerário a que nos propusemos viver esta semana, se alguém fosse capaz de ver. A vida é sempre tão apressada que corremos tanto e não nos apercebemos do que acontece ao nosso lado. Quase que somos distraídos por natureza e permitimos situações de verdadeiro cativeiro das pessoas nos problemas que as afligem diariamente. Até nos consideramos pessoas generosas quando fazemos o nosso exame de consciência. Nada nos acusa e vivemos tranquilos. A nossa sensibilidade humana e cristã está amordaçada pelos nossos problemas e preocupações. E sabemos que, muitas vezes, seria preciso muito pouco para dar alegria e restituir esperança. Permiti uma pergunta indiscreta. Estamos habituados a pensar nos nossos pecados por omissão? Não nos apercebemos que têm a mesma gravidade do que aqueles que praticamos por acções. Repensemos a confissão que rezamos logo no início da eucaristia como condição para a celebrar dignamente.

Nós, os cristãos, procuramos cumprir com os nossos deveres e vamos à eucaristia semanalmente. Este compromisso caracteriza a nossa vida cristã. Só que, verificando um pouco, aquilo que é semeado nas celebrações através da Palavra de Deus e das homilias não passa para o agir do dia a dia. Somos muitos teóricos, para não dizer meditativos. Pensamos nas coisas que ouvimos mas não damos o passo para as concretizações. Há aqui espaço para a nossa conversão que a Quaresma poderá exigir e recordar. As eucaristias e as nossas devoções devem produzir de frutos, ou seja, compromissos muito concretos. O próximo, o outro, assim o espera e a sociedade que nos rodeia é, muitas vezes, um grito que não queremos ouvir mas a quem deveríamos prestar atenção efectiva.

Sejamos honestos, quando participamos na eucaristia pensamos na sua continuidade no dia a dia? Acreditamos que, tal como deve haver um mínimo de preparação, também deve existir um cuidado em a transpor para a vida? Somos muitas vezes criticados pela nossa inércia. Muitos afirmam que as nossas obras não confirmam o que professamos pois existe um dualismo entre o que é professado e o que norteia a vida. São dois caminhos paralelos que parecem nunca se encontrar.

A primeira leitura expressa esta realidade através de uma simbologia muito interessante. Diz-se que do templo devem correr águas que permitirão uma grande quantidade de árvores à margem dos rios que nasceram do santuário e que as águas devem ser salubres. Neste sentido, dão novo alento a todo o ser vivo, fazendo com que apareçam árvores de fruto cuja folhagem nunca murchará e onde os frutos não acabarão.

Será necessário explicar muito esta simbologia? Para mim é muito evidente. Nos últimos anos, ao ritmo do nosso programa pastoral, temos falado da urgência de uma participação activa e criativa. A participação na vida da Humanidade com espírito de uma solidariedade é o modo de mostrar que a água das nossas eucaristias está a chegar às nossas vidas. Estamos muito habituados a uma passividade confrangedora. Há sempre alguém que trabalhe e as coisas acontecerão. Por aquilo que diz respeito às nossas comunidades, dou graças a Deus por tudo quanto realizamos como expressão da nossa fé. Só que fico sempre perplexo perante aquilo que poderíamos fazer. Bastaria um pouco mais da parte de cada um. Sei que os frutos das nossas celebrações se devem ver nos nossos comportamentos que, muitas vezes, são silenciosos. Só que, por outro lado, reconheço que as comunidades poderiam ter um rosto muito mais sinodal, onde poderia existir a alegria de fazer coisas em conjunto: na evangelização, na liturgia ou na acção social. Dizem que sou um permanente insatisfeito. Sejamos honestos. A fé não poderia ser muito mais incisiva?

Neste momento de paragem, pessoal ou em familiar, vejamos como podemos alimentar a nossa fé. Não precisamos de ser activistas mas sim de coerência operativa através do testemunho que age e da acção comunitária que vai tornando o rosto da Igreja mais operativo na caridade. 

 

 † Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

 

Introdução

Quando falamos em comunhão pensamos que é, apenas, o acto de comungar o Corpo de Cristo. Este é o momento central da eucaristia mas ela supõe a comunhão de vida e exige que, precisamente porque nos alimentamos espiritualmente do mesmo pão, vivamos em gestos que mostrem que somos um único corpo. A comunhão na vida pede que nos sintamos em comunhão com todos os discípulos de Cristo, vivos ou falecidos. Sentimos a protecção dos santos e recorremos a eles numa atitude de muita familiaridade e proximidade. Também com os nossos mortos deveremos sentir um vínculo que nada destrói. A morte coloca-nos noutro lugar, passamos apenas uma porta do visível para o invisível. Mas, de facto, somos um único corpo.

À medida que vão falecendo, vítimas deste terrível vírus, pessoas conhecidas ou desconhecidos, avivemos esta dimensão da nossa fé. Vamos rezar por aqueles que já partiram e pelos seus familiares mais próximos que, para além da dor da separação tiveram, a tristeza de um funeral fora dos nossos esquemas habituais pode causar. Confiemos à misericórdia de Deus quantos já partiram.

Momento da paz

Na presença do pão eucarístico que todos comungamos, alguns fisicamente e outros apenas espiritualmente, vamos reconhecer a eucaristia como o pão da vida. Somos discípulos da vida e sabemos que ela tem início mas que se prolonga pela eternidade. Sem medo, pensemos também na nossa morte. Não temamos! Por detrás da cortina está o amigo que nos espera. Uma escritora brasileira dizia que a morte é o dia que vale a pena viver. Ela vai sendo preparada com os nossos actos quotidianos. É uma casa que se constrói nesta terra para viver na outra vida. Vamos ao encontro de Deus amor que nunca se apresentou como justiceiro das nossas debilidades. É pai que, de braços abertos, nos espera para o festim de uma vida que não terá fim.

Temos, ou devemos, ter esta visão positiva. Estes tempos em que alguns portugueses morrem deve levar-nos a uma nova compreensão desta grande certeza da vida. Mas, num grande abraço de solidariedade, testemunhemos quem viveu, está a viver ou viverá a separação de familiares. Somos um único corpo que atenua a sua dor.

Despedida

Neste dia, pensemos um pouco na realidade dos funerais. Estão a ser celebrados de um modo que garante sempre a ausência de aglomerados para evitar possíveis contágios. Esperamos e agradecemos, em sentido de corresponsabilidade, que as juntas de freguesia e câmaras municipais elaborem orientações muito claras. Tudo o que acontece nos cemitérios é da sua responsabilidade. Da nossa parte apenas nos disponibilizamos para cumprir escrupulosamente as suas orientações. Não deixaremos, porém, os mortos sem a conveniente oração e os familiares sem a nossa solidariedade. Pedimos-lhe que acreditem que há muitas formas de expressar os sentimentos. Não são necessários abraços, beijos ou a presença física. Um telefonema, uma mensagem, testemunham que estamos unidos. Os sacerdotes procurarão mostrar a presença da Igreja através de uma cerimónia de encomendação e da leitura reconfortante de uma passagem da Sagrada Escritura. Não precisam de se aproximar das pessoas e devem recordar esta obrigação a todos. Poderão, porventura, fazer uso do megafone para que todos possam ouvir, mesmo os que possam estar espalhados pelos cemitérios.

Continuemos a rezar pelos que já partiram. Vivamos escrupulosamente as nossas responsabilidades.  Não façamos as coisas de qualquer maneira. Estou a construir ou a prejudicar a felicidade de muitas pessoas que não conheço. Repensemos a verdadeira dimensão do nosso trabalho, seja ele qual for.

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