Arquidiocese de Braga -

11 maio 2021

Diocese de Tete inicia processo de canonização de dois Jesuítas

Fotografia Ponto SJ

DACS com Ponto SJ

Pe. Sílvio Moreira e Pe. João de Deus foram assassinados em 1985 na missão de Chapotera, em Moçambique.

\n

A diocese de Tete, em Moçambique, vai iniciar o processo de canonização de dois jesuítas, um deles português, que foram mortos na missão de Chapotera, em 1985.

O Pe. Sílvio Moreira, português de 44 anos, e o Pe. João de Deus Gonçalves Kamtedz, moçambicano de 54, foram brutalmente assassinados no dia 30 de Outubro por um grupo armado. Apesar de os autores morais do homicídio nunca terem sido apurados, D. Diamantino Antunes, bispo de Tete, acredita que os dois missionários foram mortos porque denunciavam as atrocidades da guerra e defendiam a dignidade do povo da Angónia, sendo considerados, por isso, “testemunhas incómodas” dos abusos das autoridades políticas e policiais. A diocese acredita no martírio dos dois Jesuítas e vai propor a canonização num processo que começará a 14 de Agosto.

“O crime não teve motivações religiosas, mas o martírio não é só o ódio à fé, mas também às virtudes ligadas à fé, como a justiça ou a caridade”, explicou ao Ponto SJ D. Diamantino Antunes.

O prelado esteve esta semana em Portugal, onde veio recolher informações e testemunhos para dar seguimento à causa de canonização dos jesuítas. O bispo de Tete esteve na Cúria Provincial, a consultar o arquivo da Província Portuguesa, conversou com vários jesuítas e deu a conhecer os passos do processo que já foram dados, bem como o caminho que é preciso percorrer para elevar os dois sacerdotes à condição de mártires.

D. Diamantino sublinhou as virtudes dos dois missionários, "profundamente empenhados em servir pastoralmente a população e em dignificá-la, mesmo que isso implicasse denunciar o clima de violência que se vivia na região, e, com isso, colocar em risco a própria vida". Os relatos que existem dão conta da  coragem e lealdade ao povo dos dois homemens, que ajudavam a sepultar os mortos (mesmo perante ameaças das autoridades), animavam pastoralmente as comunidades e administravam os sacramentos, por vezes às escondidas, para não atrair a atenção das forças militares.

Os dois sacerdotes estavam em Chapotera há pouco mais de um ano quando se deu o ataque, em 1985.

O Pe. Sílvio Alves Moreira nasceu em Rio Meão, Vila da Feira, a 16 de Abril de 1941, sendo o mais novo de 13 irmãos. Em 1952 entrou no Seminário Menor que a Companhia possuía em Macieira de Cambra e, mais tarde, para o noviciado, em Soutelo. Estudou depois Humanidades e Filosofia em Braga, tendo, a seu pedido, embarcado para Moçambique para fazer o magistério, onde regressou mais tarde, depois de frequentar a Teologia na Universidade Católica de Lisboa. Em 1972 foi ordenado sacerdote e regressou a Moçambique, onde deu aulas no seminário do Zóbué e exerceu actividade pastoral no Matundo. Em 1981 foi para Maputo, onde foi pároco e professor. Depois de um tempo a descansar em Portugal, regressou a Moçambique em 1984, sendo destinado à Angónia, onde foi, juntamente com o Pe. João de Deus, assistir a comunidade cristã da missão de Lifidzi, concretamente em Chapotera.

O Pe. João de Deus nasceu em Vila Mouzinho, na Angónia, a 8 de Março de 1930, filho de pai português e mãe moçambicana. Aí foi baptizado e fez os estudos secundários em Portugal, no Seminário de Macieira de Cambra. Estudou Filosofia em Braga e Teologia em Barcelona.