Arquidiocese de Braga -
12 junho 2016
A alegria do amor – 8
Carlos Nuno Salgado Vaz
O diálogo requer uma longa e diligente aprendizagem
O diálogo é absolutamente indispensável para viver, exprimir e amadurecer o amor na vida conjugal. Só que o diálogo não é algo que se consiga sem esforço. «Requer uma longa e diligente aprendizagem». Isto porque homens e mulheres, adultos e jovens têm maneiras diversas de comunicar, usam linguagens diferentes e regem-se por códigos distintos.
A comunicação pode ficar muito condicionada pelo modo como se pergunta e se responde, o tom utilizado, o momento escolhido, a maneira como se olha e fixa o outro, etc.
Há 5 atitudes básicas a observar para que o diálogo seja frutífero e ajude a crescer e amadurecer no amor: a) reservar tempo de qualidade para escutar o outro; b) desenvolver o hábito de dar real importância ao outro; c) ter amplitude mental e flexibilidade nas opiniões; d) ter gestos de solicitude pelo outro e demonstrações de carinho; e) ter realmente algo para se dizer.
Escutar
Reservar tempo e tempo de qualidade para escutar com paciência e atenção até que o outro tenha manifestado tudo o que tem necessidade de comunicar.
E isto requer o esforço de não começar a falar antes do momento apropriado e de ter escutado tudo o que o outro sente necessidade de comunicar. Para tal, é preciso fazer silêncio interior, não começar a dar opiniões ou conselhos antes de ter escutado tudo o que outro tem para nos dizer.
É preciso despojar-se das pressas e pôr de lado as próprias necessidades e urgências, dando espaço ao outro. Até porque, muitas vezes, um dos cônjuges, mais do que de opiniões e conselhos, tem necessidade de se sentir ouvido e escutado com amor. «Tem de sentir que se apreendeu a sua mágoa, a sua desilusão, o seu medo, a sua ira, a sua esperança, o seu sonho» (números 136 e 137).
Dar importância
Depois, é preciso desenvolver e cultivar o hábito de dar real importância ao outro, não subestimando aquilo que diz ou reivindica, até porque todos têm algo a dizer-nos e ensinar-nos.
Faz-nos bem reconhecer a verdade do outro, a importância das suas preocupações mais profundas e a motivação de fundo daquilo que diz, inclusive algumas palavras agressivas. «Para isso, é preciso colocar-se no seu lugar e interpretar a profundidade do seu coração, individuar o que o apaixona, e tomar essa paixão como ponto de partida para aprofundar o diálogo» (138).
Flexibilidade
Necessita-se ainda de ter amplitude mental para que não se encerrem obsessivamente numas poucas ideias, e «flexibilidade para poder modificar ou completar as próprias opiniões». Só assim será possível que seres diferentes se encontrem, respeitem e apreciem, mantendo matizes e acentos distintos que enriquecem o bem comum.
Solicitude
«Temos de nos libertar da obsessão de ser iguais. É importante a capacidade de expressar aquilo que se sente, sem ferir; utilizar uma linguagem e um modo de falar que possam ser mais facilmente aceites ou tolerados pelo outro; exprimir as próprias críticas, mas sem deixar transparecer ira ou vingança, e evitar uma linguagem moralizante que procure apenas agredir, ironizar, culpabilizar, ferir». O que tantas vezes altera os ânimos é a maneira como se dizem as coisas e a atitude que se assume no diálogo (139).
Além disso, quando nos sentimos amados verdadeiramente por alguém, conseguimos entender melhor o que essa pessoa quer exprimir e fazer-nos compreender. «É muito importante fundar a própria segurança em opções profundas, convicções e valores, e não no desejo de ganhar uma discussão ou no facto de nos darem razão» (140).
Ter algo para dizer
Acrescente-se que, «para ser profícuo o diálogo, é preciso ter algo para se dizer; e isto requer uma riqueza interior que se alimenta com a leitura, a reflexão pessoal, a oração e a abertura à sociedade. Caso contrário, a conversa torna-se aborrecida e inconsequente.
Quando cada um dos cônjuges não cultiva o próprio espírito e não há uma variedade nas relações com outras pessoas, a vida familiar torna-se endogâmica e o diálogo fica empobrecido». A endogamia, aqui, deve ser entendida como uma redução deficiente da vida familiar, porque se confina apenas aos membros da própria família. E isso empobrece.
O diálogo bem entendido é essencial para a convivência familiar, mas não pode ficar restringido apenas aos membros da própria família. Por isso é que é tão exigente e tão importante condição de sucesso de uma vida, não apenas em casal, mas também na vida social.
Muitas uniões familiares rompem-se, porque não há nem se cultiva o verdadeiro diálogo.
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