Arquidiocese de Braga -
15 maio 2016
A alegria do amor – 4
Carlos Nuno Salgado Vaz
Do mistério da Trindade brota todo o amor verdadeiro.
No terceiro capítulo da Exortação Apostólica A Alegria do Amor — Amoris Laetitia (AL) aprofunda-se o olhar positivo sobre a família, primeiro à luz do anúncio essencial da fé cristã, um anúncio de amor e ternura (número 59) e, consequência disso, a indissolubilidade do matrimónio é vista e entendida, primariamente, não como um 'jugo', mas como um 'dom' concedido às pessoas unidas em matrimónio (62).
Revisitando o já afirmado na constituição Gaudium et Spes do Vaticano II, vê-se como o amor é colocado no centro da família, pois aí se afirma: «O verdadeiro amor entre marido e mulher implica a mútua doação de si mesmo, inclui e integra a dimensão sexual e a afetividade, correspondendo ao desígnio divino».
«Na incarnação, Cristo assume o amor humano, purifica-o, leva-o à plenitude e dá aos esposos, com o seu Espírito, a capacidade de o viver, impregnando toda a sua vida com a fé, a esperança e a caridade» (68). Jesus elevou o matrimónio a sinal sacramental do seu amor pela Igreja.
Do mistério da Trindade brota todo o amor verdadeiro. «O matrimónio e a família recebem de Cristo, através da Igreja, a graça para testemunhar o Evangelho do amor de Deus» (71).
Clarifica-se mais profundamente que o sacramento do matrimónio: «é um dom para a santificação e a salvação dos esposos, porque a sua pertença recíproca é a representação real, através do sinal sacramental, da mesma relação de Cristo com a Igreja. Os esposos são, portanto, para a Igreja, a lembrança permanente daquilo que aconteceu na cruz; são um para o outro, e para os filhos, testemunhas da salvação, da qual o sacramento as faz participar. O matrimónio é uma vocação... Por isso, a decisão de se casar e formar uma família deve ser fruto de um discernimento vocacional». (72).
O que é o Sacramento do Matrimónio?
«Não é uma 'coisa' nem uma 'força', mas o próprio Cristo que vem ao encontro dos esposos cristãos». É assim também que se compreende que: «a sexualidade, vivida de modo humano e santificada pelo sacramento, é caminho de crescimento na vida da graça». É o denominado 'Mistério Nupcial'.
Os esposos nunca estarão sós, com as suas próprias forças, a enfrentar os desafios que surgem. «São chamados a responder ao dom de Deus com o seu esforço, a sua criatividade, a sua perseverança e a sua luta diária, mas sempre poderão invocar o Espírito Santo que consagrou a sua união, para que a graça recebida se manifeste sem cessar em cada nova situação» (74).
O belo ideal do matrimónio cristão deve implicar-nos ainda mais no cuidado a ter com as situações difíceis e as famílias feridas, evitando juízos que não tenham em conta a complexidade das diferentes situações, e sem deixar de vincar pela positiva a verdadeira doutrina da Igreja sobre o matrimónio (79).
Um filho é uma dádiva
De lembrar ainda é o facto de que um filho nunca é uma dívida, mas uma dádiva, «fruto do amor conjugal dos seus pais» (80). Posição muito firme sobre a defesa da vida em gestação, pois a vida do bebé que cresce no ventre de sua mãe «de modo nenhum se pode afirmar como um direito sobre o próprio corpo e a possibilidade de tomar decisões sobre esta vida que é fim em si mesma e nunca poderá ser objeto de domínio de outro ser humano» (83).
Proteção também para a vida no seu final, com respeito escrupuloso pelo direito à morte natural, «evitando o excesso terapêutico e a eutanásia». A Igreja rejeita também firmemente a pena de morte (83).
«A educação integral dos filhos é, simultaneamente, 'dever gravíssimo' e 'direito primário' dos pais. Não é apenas um encargo ou um peso, mas também um direito essencial e insubstituível que estão chamados a defender e que ninguém deveria pretender tirar-lhes... A escola não substitui os pais; serve-lhes de complemento» (84).
A família e a Igreja
«A Igreja é família de famílias. É na família que se aprende a tenacidade e a alegria no trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e sempre renovado, e sobretudo o culto divino, pela oração e pelo oferecimento da própria vida» (86 e 87).
Há uma profunda reciprocidade entre família e Igreja: «a Igreja é um bem para a família; a família é um bem para a Igreja. A salvaguarda deste dom sacramental do Senhor compete não só à família individual, mas a toda a comunidade cristã» (87). O amor vivido nas famílias é uma força permanente para a vida da Igreja (88).
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