Arquidiocese de Braga -

15 julho 2021

Líderes cristãos pedem fim da violência na África do Sul

Fotografia Mail & Guardian

DACS com Agência Ecclesia

O grupo de líderes quer garantir que a paz e a calma sejam restauradas.

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O Conselho Cristão de KwaZulu-Natal, uma região da África do Sul, apelou à paz e condenou a violência que afecta o país desde 9 de Julho, dia em que o ex-presidente Jacob Zuma foi detido por desrespeito ao Tribunal Constitucional do país.

No comunicado, os líderes religiosos condenam “nos termos mais veementes possíveis os actos de incêndio de empresas, bem como a de assentamentos informais, a tensão racial típica onde africanos negros são atacados, as ameaças de ataque a estrangeiros ou ataques xenófobos e, com maior veemência, as ameaças de lançamento de violência interracial”.

O grupo de líderes quer garantir que a paz e a calma sejam restauradas e, em encontros recentes com líderes políticos e económico, procuraram encontrar soluções viáveis e duradouras para esta crise”, nomeadamente assegurando que o clero tenha permissão para viajar de forma a prestar cuidado pastoral, mesmo durante os horários restritos à circulação.

Os responsáveis religiosos apelam ainda à solidariedade para ajudar os mais atingidos pela crise alimentar, nomeadamente, a doação de alimentos, e pedem também voluntários entre os líderes das igrejas para serem “monitores de paz”.

O cardeal Wilfrid Napier, arcebispo de Durban, condenou especificamente a violência na província de KwaZulu Natal, que tem resultado na destruição de propriedade, infraestrutura e negócios, na intimidação da população e tem provocado medo e ansiedade generalizados”, considerando que é totalmente inaceitável” e que não pode, em hipótese alguma, ser tolerado”.

Os responsáveis reconhecem que há “diferentes pontos de vista e opiniões sobre as questões sociopolíticas da época”, pedem diálogo e “intervenções práticas” das partes envolvidas em detrimento da violência e acrescentam que a desigualdade “histórica” pede atitudes urgentes, para reduzir “o abismo gritante e imoral entre os ricos e as pessoas marginalizadas”.

“Instamos os nossos líderes políticos, sociais e comunitários a apelar e se posicionar pela paz e tranquilidade, para que as questões do dia possam ser abordadas com a participação de líderes de todos os setores da sociedade”, disse ainda o cardeal Napier.

O bispo Nkosinathi Myaka, da Diocese do Sudeste da Igreja Evangélica Luterana, explicou que “o governo, os sectores religiosos e comerciais e a sociedade civil juntos têm um papel urgente a desempenhar na resposta aos que estão necessitados e famintos; uma situação que só foi amplificada pela pandemia de covid-19 nos últimos 18 meses. A pobreza e a fome terrível não podem ser ignoradas e devem ser tratadas imediatamente. Deixar essas realidades vividas sem solução não é apenas imoral, mas também preparará um terreno fértil para a inquietação”.

A Conferência de Bispos Católicos da África do Sul reuniu de emergência e demonstrou uma “séria preocupação” sobre a violência, os saques e danos sobre a propriedade com um impacto directo “nos negócios, nos meios de subsistência e no acesso aos alimentos” em várias partes do país.

A África do Sul vive uma onda de violentos tumultos e pilhagens desde o dia 9 de Julho, inicialmente como protestos contra a prisão do ex-presidente Jacob Zuma por desrespeito ao Tribunal Constitucional, ao recusar-se a testemunhar por corrupção.

Durante o fim-de-semana a situação degenerou numa onda de saques e vandalismo indiscriminado, de uma magnitude que o presidente do país, Cyril Ramaphosa, comparou com a transição que a África do Sul viveu no início dos anos 1990, após o fim do sistema segregacionista do apartheid.

As províncias mais afectadas pela violência são Gauteng e KwaZulu-Natal, mas a violência alastra às províncias do Cabo do Norte e Mpumalanga, que faz fronteira com Moçambique e com Essuatíni – a antiga Suazilândia.

Cerca de 450 mil portugueses e lusodescendentes vivem na África do Sul. À Agência Lusa, Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, afirmou que os serviços diplomáticos estão focados no apoio à comunidade portuguesa.