Arquidiocese de Braga -
26 fevereiro 2016
Olhares sobre o Trabalho
Discurso no Conferência “Olhares sobre o Trabalho”
\n \nEis-nos na segunda edição da Nova Ágora, organizada pela Arquidiocese de Braga e com o apoio de diversos parceiros. Esta experiência nasceu no contexto e no horizonte das Conferências Quaresmais que, tradicionalmente, tinham lugar no decurso da Semana Santa de Braga.
Ao promover estes encontros, quis abandonar os esquemas tradicionais de um certo protagonismo episcopal, onde o Arcebispo fala e os outros ouvem, para dar espaço a uma dinâmica mais plural nos seus intérpretes e no modo de comunicar. Surgiu, assim, um título empenhativo e sugestivo: “Olhares sobre…”.
Os temas a abordar são do interesse comum e marcados pela actualidade. Os interlocutores, por sua vez, nem sempre coincidem no seu pensamento. É esta diversidade de temas e personalidades que geram a riqueza dos “Olhares sobre…”. A verdade nunca se impõe. Procura-se antes na reflexão pessoal e no diálogo transparente.
No confronto com o diferente, crescemos enquanto pessoas e cristãos. No confronto com o diferente, a sociedade aprende a ser mais tolerante, plural e fraterna.
Não esqueço que estamos aqui como Igreja, mesmo que nem todos os presentes se identifiquem connosco. A todos os que se encontram neste patamar, quero testemunhar-lhes a minha simpatia e manifestar a alegria de podermos caminhar juntos. Na verdade, este é um evento singular e de grande importância para mim. O Papa Bento XVI, no Centro Cultural de Belém, a 12 de maio de 2010, no encontro com os representantes da cultura, desafio eloquentemente a Igreja em Portugal: “A convivência da Igreja, na sua adesão firme ao carácter perene da verdade, com o respeito por outras «verdades» ou com a verdade dos outros é uma aprendizagem que a própria Igreja está a fazer. Nesse respeito dialogante, podem abrir-se novas portas para a comunicação da verdade”.
Não aceitamos o pensamento único nem tão pouco o pensamento débil, e líquido. Somos, ou deveríamos ser, aprendizes humildes que desejam caminhar ao lado de quem procura a Verdade. Um dos grandes problemas da Igreja consiste, muitas vezes, em enclausurar-se na sua visão e pensar que os outros devem dobrar a cerviz para aceitar o que lhes é proposto ou imposto.
Encontramo-nos num Ano especial, o Ano da Misericórdia, no qual nos é proposta a simbologia do Bom Samaritano. Interpelada por este episódio bíblico, a Igreja sente a urgência de se deter com os dramas e as dores da Humanidade, bem como a necessidade de colher as interpelações do divino no emaranhado humano.
Hoje debruçamo-nos sobre a temática do trabalho. É verdade que não nascemos para trabalhar mas, ao mesmo tempo, é também verdade que nada somos sem o trabalho. Custa o drama do desemprego! Chocam-me as desigualdades económicas que, insistentemente, catapultam assimetrias sociais nada condizentes com a dignidade humana. Não será esta uma razão suficientemente forte para nos reunir à volta da mesa e, em conjunto, procurarmos soluções duradoiras ao invés de se promoverem meras discussões e acordos políticos que apenas disfarçam a realidade escandalosa de muitas situações?
Que esta noite nos responsabilize perante o cenário do mundo laboral. Deveríamos, todos, comprometer-nos com a urgência de, pelo menos, atenuar o flagelo da injustiça e precariedade laborais. Espero que a diversidade dos nossos olhares fomente a criatividade e a inovação, grande ou pequena, de todos e de cada um nós.
Muito obrigado pela vossa presença. Participem nas próximas conferências e não tenham receio de interpelar a Arquidiocese. A vossa opinião valorizará, certamente, a nossa missão de evangelizar e de levar a dignidade onde ela falta.
Obrigado a quem nos brindará com as suas reflexões. Estou certo que elas nos irão enriquecer e ajudar-nos, crentes ou não, a viver uma cidadania responsável.
† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz
Download de Ficheiros
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