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Isto acontece depois de o Comité Consultivo Nacional de Ética do país (CCNE) ter decidido que “a assistência activa à morte” poderia ser aplicada em França “sob certas estritas condições”.
Sob a lei actual desde 2016, os médicos franceses podem manter pacientes terminais sedados até à morte, mas o suicídio assistido não é legal.
A eutanásia é actualmente legal sob certas condições na Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Espanha e Suíça.
Membros da Conferência Episcopal da França (CEF) denunciaram planos para a sua legalização no seu país.
O arcebispo Pierre d’Ornellas, de Rennes, líder do grupo de trabalho de Bioética da CEF, disse a Céline Hoyeau, do La Croix, que a legalização do suicídio assistido significaria a “relativização da proibição de matar”.
A pretexto de um pequeno número de casos, o CCNE abre caminho para a relativização da proibição de matar. Aliás, reconhece que é fundamental para a nossa sociedade. Isto cria uma séria reviravolta! Coloca diferentes direitos um ao lado do outro, procurando um “equilíbrio” sem hierarquia. A reflexão é incompleta, sem argumentos éticos reais. Isto afirma que a proibição de matar não é uma “intransigência”, como sugere o CCNE, mas fruto de uma reflexão ética que estabeleceu a prioridade!
O debate anunciado merece o envolvimento de todos, em particular dos profissionais de saúde, daqueles que estão próximos dos doentes e das suas famílias, daqueles que vivem a realidade do fim da vida em toda a sua complexidade. Sobre este delicado tema, somente reflexões fundamentadas, alimentadas por uma visão do ser humano e amadurecidas pela escuta das experiências podem alimentar um verdadeiro diálogo onde todos procurem honestamente o caminho ético correcto para toda a sociedade.
A fé em Deus fornece intuições valiosas. Mas a razão tem argumentos sérios para a proibição de matar e pode iluminar todos os debates. Na questão do fim da vida, apelamos em 2018 à construção da fraternidade. Segundo Paul Ricoeur, essa construção passa pela aliança entre o paciente e o seu cuidador. Se não formos capazes de construir uma aliança com um ser humano frágil e sofredor, a ponto de eliminar a pessoa, a nossa sociedade está em perigo. A razão não aceita a contradição do CCNE quando legitima essa eliminação e, ao mesmo tempo, considera “intolerável” que pessoas dependentes se sintam desvalorizadas e excluídas. Devemos ir até ao fim da sua reflexão quando evoca “a subtil fecundidade inerente à experiência da vulnerabilidade”.
O CCNE ousa escrever que é um gesto de fraternidade. Que abuso de linguagem! Que fraternidade é que o suicídio assistido constrói? Nenhum, já que a vida é retirada. A fraternidade é a construção de uma relação, de um futuro, por mais curto que seja. Provocar a morte ou causar a morte de uma pessoa é uma ruptura permanente de uma relação. Pelo contrário, a intenção de cuidar e acompanhar alguém para que tenha os momentos de vida o mais tranquilos possível, constrói uma fraternidade de vida. Se a compaixão não gera vida, não é compaixão!
Perderíamos a proibição fundamental “não matarás”, que também está incluída no Juramento de Hipócrates. Essa proibição traça uma linha vermelha antes da qual somos colectivamente levados a discernir que esse outro frágil é nosso irmão ou irmã a ser acompanhado. Obrigações positivas surgem disto. Isto traz à tona em nós recursos surpreendentes da humanidade. Sem essa proibição, esses recursos deixarão de surgir e a sociedade será menos humana, mais violenta. Quando visito unidades de cuidados paliativos, fico impressionado com a qualidade de vida, a humanidade surpreendente que se encontra ali. Por outro lado, no acto que causa a morte, não há vida, mas sim uma ferida e menos humanidade. Esse acto é violência, mesmo vestida com qualificadores. A consciência humana não é feita para este acto, nem pessoal, nem socialmente.
O CCNE vislumbra a autonomia numa sociedade individualista, visto que somos seres de relações. O individualismo nunca é o fim da história para um ser humano. Quando fragilizados, vivenciam a riqueza das relações. O dependente, doente, pode exercer a sua autonomia confiando no cuidado do outro. A autonomia só pode ser pensada dentro de uma relação que dê sentido, caso contrário corre-se o risco de prender o indivíduo num absurdo angustiante.
Estão abertos porque são questionados quando estão em boas condições de saúde e porque desconhecem a relevância dos cuidados paliativos. São vítimas da grave deficiência do Estado, que não desenvolveu uma “cultura paliativa”.
Essas decepções fazem-nos duvidar da democracia. Precisamos de lhes devolver as suas cartas de nobreza. Eu ficaria preocupado se a convenção fosse mobilizada por este único pensamento: a lei deve ser mudada porque as pessoas morrem mal em França e há abusos... Que simplismo! Para já, é urgente apostar nos hospitais e lares de idosos para que quem tem a missão de cuidar do próximo seja reconhecido e tenha meios para o fazer da melhor forma possível, em instituições ou em casa.
O parecer do CCNE destaca que o actual sistema legislativo é suficiente para tudo o que diz respeito a prognósticos vitais de curto prazo e que, “antes de qualquer reforma”, os cuidados paliativos devem ser desenvolvidos. A lei Claeys-Leonetti tem apenas seis anos. Não houve avaliação sobre isto. Faltam-nos, portanto, critérios. Seria honesto analisar de antemão a experiência desta lei e compensar o que está a faltar para que possa ser mais amplamente aplicada. Caso contrário, é uma ilusão para aqueles que gritam alto sobre algumas situações. Desde 1999, a lei estabelece que todo o cidadão tem direito a cuidados paliativos. Isto é verdade, estejam eles ou não no final da vida. No entanto, 26 departamentos [dos 101 departamentos administrativos da França] não têm serviços de cuidados paliativos! Todos sabemos que é urgente promover uma “cultura paliativa” em todos os lugares. É altura de o Estado ouvir isto!
Entrevista de Céline Hoyeau, publicada no La Croix a 20 de Setembro de 2022.
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