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DACS com 21 | 22 Dez 2021
Carmen Peña: “Faz falta um envolvimento radical”
A professora de Comillas é a única leiga espanhola que participa na Comissão Teológica para preparar o Sínodo sobre a Sinodalidade, iniciativa que o Papa lançou para promover a participação na Igreja.
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  © DR

Próxima, discreta e sorridente, foi recentemente eleita Presidente da Associação Espanhola de Canonistas. Com a experiência de outros sínodos, esta teóloga põe os pés no chão e reconhece os desafios que existem pela frente.

 

Como se sente e qual é a sua função na Comissão Teológica da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos?

Na Comissão Teológica, a nossa função é fundamentalmente de assessoria, auxiliando a Secretaria-Geral na preparação e desenvolvimento do processo sinodal até à celebração da Assembleia Sinodal em 2023. Especificamente, somos responsáveis ​​por:

a) rever os documentos que orientam este caminho sinodal, como fizemos com o Documento Preparatório e o Vademecum;

b) apresentar propostas teológicas – e canónicas – para o desenvolvimento da sinodalidade. É um desafio importante, já que a sinodalidade é um conceito que ainda precisa de ser aprofundado no meio académico e no discurso teológico e canónico.

c) Da mesma forma, somos chamados a contribuir para a difusão e o esclarecimento da natureza sinodal da Igreja a todos os níveis, visto que é um conceito abstracto e provavelmente incompreensível para muitos fiéis.

Pessoalmente, sinto-me satisfeita por colaborar, ainda que minimamente, numa iniciativa eclesial tão relevante como este processo sinodal. Também me deixa muito feliz a inclusão de vários canonistas nesta Comissão Teológica, o que reflecte a importância de uma colaboração fluida entre teólogos e canonistas. Não só a revisão eclesiológica proposta por este processo tem muitas implicações canónicas; é que qualquer mudança teológica precisará, para ser verdadeiramente eficaz, de ser incorporada em normas canónicas adequadas.

 

Em que contribuíram outros teólogos da Comissão Teológica e os membros das outras comissões sinodais – metodologia, comunicação e espiritualidade?

O trabalho em equipa é sempre enriquecedor ao ampliar a própria visão e complementá-la com outras perspectivas ou visões. Especificamente, o intercâmbio com os demais membros da Comissão Teológica e das demais comissões fez-nos perceber a necessidade de oferecer um quadro teológico e canónico sólido à sinodalidade, levando em consideração as suas múltiplas dimensões.

É preciso ter em mente que estamos diante de um Sínodo explicitamente eclesiológico. Embora todos os sínodos constituam momentos fortes de escuta e revisão da acção e missão da Igreja, costumam referir-se a um tema específico (família, juventude…), ou a uma área geográfica específica. A novidade deste Sínodo é que o olhar dirige-se formalmente para a própria natureza – sinodal – da Igreja, estando ciente da necessidade de continuar a aprofundar a eclesiologia do Concílio Vaticano II e a sua concepção da Igreja como “Povo de Deus” .

Por isso, no intercâmbio com os demais membros da Comissão Teológica, reafirmei a necessidade de aprofundar os “pontos nodais” envolvidos na sinodalidade, como a concepção de autoridade e governo na Igreja, a relação sinodalidade-colegialidade-comunhão, o processo de tomada de decisões, a compreensão dos ministérios, a relação clero-leigos, ministerialidade leiga, o papel da mulher na Igreja, a participação dos leigos e, especialmente, das mulheres, na missão da Igreja, etc. São questões complexas, que requerem tempo de estudo e reflexão, e que seria conveniente aprofundar, tanto na Comissão Teológica como por especialistas de todo o mundo, ao nível das universidades, associações de teólogos e canonistas, etc.

Mas, a par disso, é importante ter também uma atitude de escuta real, próxima, atenta às necessidades e expectativas dos fiéis e em diálogo com o mundo, sem nunca perder de vista que o objectivo último deste processo não é o de resolver os problemas internos do funcionamento eclesial, mas fazer com que a Igreja cumpra melhor a sua missão evangelizadora.

 

Como integrar a corresponsabilidade leiga como algo essencial e não apenas utilitário na Igreja?

A sinodalidade, partindo da eclesiologia conciliar, sublinha a condição dos baptizados e o envolvimento radical de todos os fiéis na missão da Igreja. A forma concreta de colaborar nesta missão dependerá de muitas variáveis, segundo a vocação, as aptidões, a condição eclesial, a idade, as circunstâncias vitais, etc., pois não se trata de todos fazermos o mesmo. Mas seria necessário aproveitar este processo sinodal para aprofundar o “sujeito” eclesial, reconhecendo a corresponsabilidade essencial de todos os baptizados na vida da Igreja e abrindo canais para uma participação mais incisiva dos leigos e das mulheres na funções eclesiais e no desempenho de cargos de responsabilidade.

Esta consciência da ministerialidade dos leigos em sentido amplo deve levar a normalizar a colaboração dos leigos e das mulheres na vida eclesial. Embora o campo principal da evangelização dos leigos seja o mundo, transformando a sociedade e a cultura com o seu trabalho, isso não implica deixar os leigos fora das “coisas da Igreja”, como se estas fossem da competência exclusiva do clero ou dos consagrados.

De facto, o Código de Direito Canónico já contempla numerosos canais de participação dos leigos em todas as esferas da missão da Igreja, incluindo a função de santificação, de ensino e de governo. Mas, infelizmente, essas possibilidades abertas por lei são frequentemente pouco utilizadas ou ignoradas na sua aplicação prática. Pensemos na resistência que ainda se observa a nomear leigos ou leigas como juízes em tribunais eclesiásticos, como professores em faculdades eclesiásticas, ou em cargos de responsabilidade em cúrias diocesanas, apesar da existência de mulheres ou leigos formados e da amplitude com que o direito canónico inclui essa possibilidade. A presença de leigos e mulheres em responsabilidades especificamente eclesiais não se justifica com a ausência de sacerdotes que os possam orientar, mas porque são uma riqueza para a vida eclesial.

Neste sentido, as reformas recentes do Papa, como a abertura de ministérios leigos estáveis ​​de leitor e acólito às mulheres, o reconhecimento do ministério do catequista ou a sua opção decidida de confiar às mulheres cargos de responsabilidade na Cúria Romana, podem ajudar a normalizar o papel de liderança dos leigos e das mulheres na Igreja.

 

A que tipo de conversão nos chama a sinodalidade?

Creio que nos chama a uma dupla conversão: interior e pessoal, pela qual todos os fiéis se dão conta da nossa condição baptismal e da nossa corresponsabilidade na vida e na missão da Igreja, em resposta ao dom recebido; e outra eclesial, a conversão das estruturas de que fala Francisco desde o início do seu Pontificado, para que também a organização eclesial, os procedimentos, o estilo de agir e de tomar decisões... reflictam cada vez mais claramente a realidade da Igreja Povo de Deus, abrindo canais para uma maior participação de todos os fiéis na vida eclesial. E nesta conversão de estruturas, o direito canónico, embora por si só não seja suficiente, é, no entanto, essencial.

 

Como chegar à cultura do consenso?

O Sínodo não é uma consulta sociológica, nem uma negociação entre as partes opostas, mas, como o Papa recordou na abertura, um acto profundamente eclesial, um processo de discernimento à luz do Espírito Santo. Não se trata de chegar a um consenso forçado ou interessado, fruto do “marketing”, mas de tentar, a partir da docilidade ao Espírito, avançar juntos na descoberta da vontade de Deus neste momento histórico concreto. Não é fácil, mas talvez um primeiro passo seja reconhecer e sublinhar o que nos une (a condição baptismal e a preocupação sincera pelo bem da Igreja e pelo melhor cumprimento da sua missão) e não o que nos separa, sem desqualificações gratuitas ou julgamentos de intenção.

Por outro lado, na perspectiva de criar estruturas sinodais gradativas ou um estilo de governo sinodal, seria importante também que, no dia-a-dia, a autoridade eclesial aplicasse correctamente, no processo de tomada de decisão, a função consultiva, promovendo a participação efectiva dos órgãos consultivos já previstos canonicamente.

 

A que reformas legislativas poderia levar a jornada sinodal que acabamos de iniciar?

Como disse o Papa no discurso de abertura do Sínodo, o objectivo deste Sínodo é caminhar em direcção a uma igreja estruturalmente sinodal, na qual a sinodalidade não apareça como algo ocasional, mas sim que todas as estruturas, modos de acção e processos reflictam esta natureza sinodal, isto é, reflictam a concepção da Igreja como Povo de Deus a caminhar e a corresponsabilidade de todos os baptizados na vida e na missão da Igreja.

E, embora o Código abra muitas formas de participação dos leigos, ainda existem áreas em que a intervenção dos leigos está sujeita à ausência de ministros ordenados.

 

Com que ficaria satisfeita quando terminasse o Sínodo sobre a Sinodalidade?

O Sínodo é um instrumento privilegiado de escuta do Povo de Deus e, neste sentido, gostaria que este processo de escuta de todos os fiéis fosse amplamente participativo e que as sucessivas sínteses diocesanas, nacionais ou supranacionais reflectissem realmente os sentimentos de todo o Povo de Deus, mulheres e homens, leigos, religiosos, sacerdotes...

Mas, para além dos resultados concretos a alcançar no final deste caminho, creio que o próprio facto de abrir este tipo de processos, de fomentar uma reflexão sobre a Igreja em que todos os fiéis são convocados, e de pôr em marcha esta forma renovada de proceder representa um passo em frente no reconhecimento da importância de ouvir todos os fiéis, sem reduzir a consulta a especialistas e pastores, nem mesmo quando, como agora, o assunto apresenta certa complexidade.

O Código reconhece, no cânone 212, o direito – e até, às vezes, o dever – de todos os batizados expressarem aos Pastores e aos demais fiéis as suas necessidades espirituais, os seus desejos e a sua opinião sobre tudo o que afeta a acção da Igreja e o cumprimento da sua missão; e isso deve ser feito não de um ponto de vista crítico e externo, mas de uma visão preocupada, envolvida e autocrítica. Esperamos que neste processo sinodal os fiéis tomem consciência da sua condição baptismal e da sua responsabilidade na Igreja, na sua acção quotidiana como cristãos nas suas comunidades e na sociedade.

 

Acha que teremos padres e madres sinodais na Assembleia Sinodal em 2023?

Embora na sua composição o Sínodo se configure como órgão principalmente episcopal, isso não significa que os fiéis que não têm essa condição não participem. Pelo contrário, a mesma lei prevê, há décadas, a possibilidade de que não bispos também possam ser nomeados pelo Papa como membros da Assembleia Sinodal; e, embora costumem ser padres, já na última assembleia um religioso não clérigo interveio com voz e voto.

Desde a Episcopalis Communio que a legislação canónica abre a porta à possibilidade de as mulheres serem nomeadas membros do Sínodo; e, de algum modo, a nomeação de mulheres para desempenharem cargos eclesiásticos que implicam a participação no Sínodo parece indicar que as titulares desses cargos serão reconhecidas como tendo “voz e voto” na assembleia sinodal.

No entanto, apesar do valor simbólico que possa ter a nomeação de algumas mulheres como membros da Assembleia Sinodal, o que é verdadeiramente relevante é que este processo promove o aprofundamento da natureza sinodal da Igreja e o reconhecimento da corresponsabilidade laical derivada do Baptismo.

 

Entrevista de Fernando Cordero, publicado na revista 21 a 22 de Dezembro de 2021.

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Palavras-Chave:
Sínodo  •  Sinodalidade  •  Leigos  •  Corresponsabilidade  •  Baptismo  •  Carmen Peña  •  Comissão Teológica
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