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DACS com CRUX | 4 Mar 2021
“Esta não é uma cena de um filme. Esta é a realidade de hoje em Myanmar”
Irmã Ann Nu Thawng, pertencente aos Missionários de São Francisco Saverio de Myitkyina, ajoelhou-se em lágrimas diante de uma fileira de agentes da polícia e veículos das forças de segurança para implorar que parassem com a violência.
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No passado Domingo, Myanmar teve o seu próprio “momento Tiananmen”, quando uma freira católica impediu as forças militares de avançarem sobre os manifestantes, caindo de joelhos e implorando que se abstivessem de fazer prisões e recorrer à violência.

A cena lembra as imagens de 5 de Junho de 1989, de um homem solitário a bloquear uma passagem de tanques em Pequim, depois de o governo chinês ter reprimido violentamente as manifestações pró-democracia na Praça Tiananmen da cidade.

Neste Domingo, a Irmã Ann Nu Thawng, pertencente aos Missionários de São Francisco Saverio de Myitkyina, ajoelhou-se em lágrimas diante de uma fileira de agentes da polícia e veículos das forças de segurança para implorar que parassem com a violência.

Desde o início do golpe militar de Myanmar, a 1 de Fevereiro, que as ruas do país estão repletas de manifestantes que pedem a reintegração de sua Conselheira de Estado, Aung San Suu Kyi, e do seu partido, a Liga Nacional para a Democracia (NLD).

Em 2015, Myanmar, anteriormente chamada de Birmânia, realizou a sua primeira eleição livre em décadas, resultando na vitória de Suu Kyi. Muitos saudaram esta eleição como um passo notável para o estabelecimento de um sistema democrático sólido em Myanmar, que de 1962 a 2011 esteve sob regime militar.
 

“Como cristãos, o nosso primeiro dever é trazer paz. O ódio não tem lugar em Cristo. Nenhum ódio ganha nada. Durante o último mês, imploramos a todos: a paz é o único caminho, a paz é possível.”


Os militares do país defenderam o golpe de Fevereiro, acusando Suu Kyi e o seu partido de não terem investigado as alegações de fraude eleitoral nas eleições de Novembro de 2020, que o partido NLD ganhou de forma esmagadora.

A polícia tem recorrido cada vez mais à violência para deter os manifestantes, causando vários mortos. O dia mais sangrento foi o Domingo, quando pelo menos 18 pessoas foram mortas depois de os militares terem aberto fogo em diferentes áreas de Yangon, quando outras medidas, como granadas de fumo, gás lacrimogéneo e disparos para o ar não conseguiram dispersar a multidão.

O cardeal Charles Bo, arcebispo de Yangon, postou várias fotos do incidente no Twitter, dizendo num tweet de 28 de Fevereiro que “cerca de 100 manifestantes puderam escapar da polícia” por causa da intervenção da Irmã Nu Thawng.

Charles Bo, que tem documentado o golpe e os protestos na sua conta no Twitter, fez outras publicações a descrever a situação no local, dizendo num tweet acompanhado de fotos impressionantes dos protestos: “Esta não é uma cena de um filme. Esta é a realidade em Myanmar hoje”.

“A polícia usou gás lacrimogéneo para dividir a multidão que protestava. São jovens que lutam contra a mais brutal ditadura militar. Os jovens arriscam as suas vidas para salvar outras vidas”, afirmou.

O Cardeal também afirmou numa publicação que no município de Mongyai, no Norte, a polícia tinha fechado as estradas principais numa tentativa de impedir que as pessoas participassem nos protestos. Como resultado, as pessoas atravessaram um rio para chegar às manifestações.
 

“Oramos para que nenhuma violência aconteça. Sangue inocente não pode ser derramado nesta terra. Já repeti muitas vezes: o ódio nunca afasta o ódio: só o amor o afasta. A escuridão nunca expulsa a escuridão: apenas uma luz pode dissipar as trevas. Olho por olho torna o mundo inteiro cego. Vamos todos acreditar no poder do amor e da reconciliação.”


Representantes da Igreja Católica em Myanmar, que tem defendido abertamente a reintegração de Suu Kyi e um regresso à democracia, também participaram activamente nos protestos, com grupos de padres e freiras a marchar pelas ruas com cartazes: “Salvem Myanmar”, “Paz em Myanmar”e “Diga Não ao Golpe Militar”.

Os bispos de Myanmar têm defendido incansavelmente a paz e o abandono de medidas violentas desde o início do golpe.

Na sua homilia de Domingo, enquanto as manifestações estavam em andamento, o Cardeal Bo afirmou que “lentamente, o ódio pareceu infiltrar-se nas marchas pacíficas”. 

“Oramos para que nenhuma violência aconteça. Sangue inocente não pode ser derramado nesta terra. Já repeti muitas vezes: o ódio nunca afasta o ódio: só o amor o afasta. A escuridão nunca expulsa a escuridão: apenas uma luz pode dissipar as trevas. Olho por olho torna o mundo inteiro cego. Vamos todos acreditar no poder do amor e da reconciliação”, declarou.

Reflectindo sobre a passagem do Evangelho que narra a Transfiguração de Jesus, o prelado disse que uma “transfiguração” também é necessária em Myanmar.

“Esperamos que toda a confusão, toda a escuridão, todo o ódio desapareçam e o nosso país, a famosa Terra Dourada, seja transfigurada numa terra de paz e prosperidade”, disse, insistindo: “precisamos de paz”.

“Como cristãos, o nosso primeiro dever é trazer paz. O ódio não tem lugar em Cristo. Nenhum ódio ganha nada. Durante o último mês, imploramos a todos: a paz é o único caminho, a paz é possível”, continuou, insistindo que aqueles que clamam pelo confronto “não desejam o bem da nação”.
 

A impressionante imagem da Irmã Nu Thawng no Domingo é um lembrete de que não apenas o passado se repete com frequência, mas também de que a Igreja estará sempre presente, defendendo a paz e o diálogo.


Embora gestos como o de Domingo, da Irmã Nu Thawng, sejam impressionantes, não se sabe o impacto que poderão ter no contexto geral.

Na época dos protestos da Praça Tiananmen em 1989, muitos na China acreditavam que o massacre serviria como um catalisador para uma reforma política sistémica e que a China estava à beira de uma grande mudança desse calibre. No entanto, essas esperanças foram amargamente frustradas, já que o Partido Comunista simplesmente esperou até que o alvoroço público diminuísse e então reafirmou o seu poder, regressando mais forte do que nunca.

Ainda não se sabe se Myanmar enfrenta o mesmo destino, mas a impressionante imagem da Irmã Nu Thawng no Domingo é um lembrete de que não apenas o passado se repete com frequência, mas também de que a Igreja estará sempre presente, defendendo a paz e o diálogo.

 

Adaptação a partir do artigo de Elise Ann Allen, correspondente sénior do Crux.

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Palavras-Chave:
Myanmar  •  Golpe de estado  •  violência  •  Igreja  •  Religião  •  protestos  •  paz
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