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18 Jul 2021
Um novo mundo a nascer
Homilia na eucaristia de ordenações presbiterais
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Quero começar a minha partilha com a citação de umas palavras que o Papa Francisco dirigiu aos sacerdotes da diocese de Roma, no dia 31 de Maio de 2020, dia do Pentecostes. 

“Caros irmãos, como comunidade presbiteral, somos chamados a anunciar e a profetizar o futuro, como a sentinela que anuncia a aurora que traz um novo dia (cf. Is 21,11): ou será algo de novo, ou será mais que o normal, muito mais e até pior. A Ressurreição não é apenas um acontecimento histórico do passado para recordar e celebrar; é mais, muito mais: é o anúncio da salvação de um tempo novo que ressoa e já irrompe hoje: «Já começa a brotar, não vedes?» (Is 43,19); é o ad-venire que o Senhor nos chama a construir. A fé permite-nos uma imaginação realista e criativa, capaz de abandonar a lógica da repetição, da substituição ou da conservação; convida-nos a instaurar um tempo sempre novo: o tempo do Senhor. Se uma presença invisível, silenciosa, expansiva e viral nos colocou em crise e nos baralhou, deixemos que esta outra Presença discreta, respeitosa e não invasiva nos chame de novo e nos ensine a não ter medo de enfrentar a realidade. Se uma presença não palpável foi capaz de desconcertar e inverter as prioridades e as agendas globais aparentemente imóveis que tanto sufocam e devastam as nossas comunidades e nossa irmã terra, não tenhamos medo de que seja a presença do Ressuscitado a traçar o nosso percurso, a abrir horizontes e a nos dar a coragem de viver este momento histórico e singular. Um punhado de homens receosos foi capaz de iniciar uma nova corrente, anúncio vivo de Deus connosco. Não temais! («A força do testemunho dos santos está em viver as Bem-aventuranças e a regra de comportamento do juízo final» (Exortação Apostólica Gaudete et exsultare, 109).

Caríssimos neo-sacerdotes, sacerdotes e cristãos,

Este texto é um retrato dos tempos em que vivemos. Estamos cansados de tanta hesitação sobre o que fazer e como fazer. O confinamento fechou-nos e deixamos de sentir os apelos do povo que exige permanente dedicação. Hoje não é momento para cruzar os braços e esperar que tudo mude. O nosso povo está a precisar de uma presença da Igreja mais visível. Necessita de saber que não está sozinho nesta hora de desorientação.

Poderemos não ter capacidade para lhes mostrar tudo o que devem fazer. Bastará que saibam, por obras e palavras, que não estão sozinhas. Juntos experimentaremos a presença de Cristo que será a luz. Porventura não tão clara como todos queriam. Coloquemo-nos a caminho com o povo. 

E caminhando se faz caminho. Sejamos audazes e criativos nos nossos projectos. Um novo tempo nascerá.

Ele está vivo. Não nos deixa sozinhos. Com Ele teremos de continuar a caminhar. Não isoladamente, mas sinodalmente. A sinodalidade não é uma opção pastoral entre tantas outras que uns podem ou aceitar ou negligenciar. Ontologicamente a Igreja é sinodal. Sem este processo não será ela própria. Será um produto histórico que muitos desconhecem e a quem negam credibilidade e razão de ser. Teremos de anunciar e profetizar o futuro. Não com a repetição, substituição ou adaptações. É um tempo novo. É o Ressuscitado que o cria.

O Evangelho de hoje relata um momento, entre tantos, em que os apóstolos voltaram juntos para junto de Cristo. O cansaço invadia-os. A vontade do descanso era incontornável. Mas as ovelhas sem pastor não permitiram interromper as actividades. Outra aventura evangélica começa como se tudo fosse novo. E S. Paulo aos Efésios sugere as motivações. O povo é um só e importa um único corpo para o servir e amar. Um só povo, com todas as culturas e raças, um único corpo numa multiplicidade e intérpretes e um só homem novo a servir. 

Como conseguirá o único corpo sacerdotal servir o único povo? Só sendo um só homem novo. Cada um, sacerdotes e leigos apostando numa aventura de santidade, a renascer quotidianamente pelas interpelações sempre originais da Palavra e pelos direitos do povo de ser amado com o mesmo amor que Cristo dedicou às multidões. Ser um só homem onde todos e cada um são um único homem novo.

Precisamos de uma santidade colectiva. É a única forma da nossa realização e a certeza de ser resposta credível às esperanças do povo.

Caríssimos diáconos Pedro, Paulo, Miguel, Francisco, Cristo quer contar convosco para servir o seu povo. Acredito que tenhais muitos sonhos e projectos. Permiti que vos peça. Tratai quotidianamente a vossa vida espiritual. Acreditai seriamente que antes de serdes padres realizadores de tarefas pastorais, tereis de ser seguidores de Cristo. Ele não retirou a cruz do seguimento. Garantiu a Sua graça e presença. Hoje sois padres novos. Procurai ser sempre homens novos e sabei que isto acontece na comunhão com o bispo, com os sacerdotes e com o povo. Tende alegria em ser um só homem novo.

Na Quinta-feira Santa apontei o exemplo de S. José como alguém que viveu a sua missão com coração de Pai. Hoje precisamos de ser padres (pais) com coração indiviso onde só more Deus e n’Ele toda a Humanidade e a Igreja. Ser padres com coração indiviso. O Papa Francisco, na Cristo Vive, quase no fim, deixa uma questão sugestiva para um quotidiano exame de consciência. Poderei andar preocupado sobre “quem sou eu” procurando um estatuto a defender. Deveria antes interrogar-me “para quem sou eu?”. O Papa responde por nós. “És para Deus, sem dúvida. Mas Ele quis que também sejas para os outros, e pôs em ti muitas qualidades, inclinações, dons e carismas que não são para ti, mas para outros”.

Padres com coração indiviso a questionar-se permanentemente para quem sou eu. Se aí coloco Deus, Ele irá lembrar-nos o programa pastoral para o próximo ano. “Onde há amor nascem gestos”. Gestos são o caminho a percorrer. Não bastam boas intenções. Um amor com gestos, visível, concreto, em coisas fáceis ou difíceis permanentes. E, caros amigos, se Deus e só Deus enche o coração, iremos percorrer o caminho dos últimos, daqueles a quem ninguém liga, que não são capazes de retribuir.

Este é o retrato do homem novo capaz de interpretar uma pastoral convincente para estes tempos novos. O Papa Bento XVI diz que tudo deve acontecer por atracção e o Papa Francisco vai mais longe quando fala da pastoral por transbordamento. O que temos no coração passa para as pessoas. Se temos Deus, é Deus que passa. Se o coração está possuído por realidades inadequadas, a pastoral não só não convence quanto afasta. Habituemo-nos a fazer diariamente um exame de consciência interrogando-nos sobre o que enche o nosso coração e o que motiva o nosso fazer pastoral.

Despossuídos de nós mesmos e apaixonados pela única missão, somos um povo que caminha juntos norteados pelo sonho de Deus de uma Humanidade unida e feliz

A sinodalidade não é uma nova estrutura ou moda pastoral. Se não conduz ao encontro com Cristo capaz de gerar paixão pelo Reino, só cansa e desanima. É aqui que entra o Ressuscitado naquilo que o Santo Padre recordava aos seus sacerdócios. Não somos nós que realizamos a sinodalidade. Caminharemos juntos na comunhão com todos e com o mundo assim como nos serviços paroquiais desde que seja Cristo o verdadeiro pastor e líder.

O que nos é pedido hoje?

O Papa Francisco diz que “se alguém pensa que se trata de fazer melhor o que já fazíamos está enganado. É um grande “desafio cultural, espiritual, educativo” (L.S. 202). O que aconteceu e está a acontecer, em tempo de pandemia, não pode ser interpretado como um parêntesis. Tem de ser uma graça. Trata-se de uma verdadeira mudança de época onde teremos de discernir um novo desígnio de Deus que nos fará mudar o modo de compreender, viver, exprimir, incarnar e, sobretudo, anunciar a fé. Só quando formos um só povo, um único corpo e, sobretudo um só homem novo estaremos a ser Igreja para este tempo. 

Que a Senhora do Sameiro nos conceda o dom da alegria, do encontro, do enamoramento. Não estamos sós. Acreditemos que o mundo novo está a nascer.

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