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Dom Jorge Fereira da Costa Ortiga | 5 Abr 2004
Testemunho e Evocação de D. António Monteiro
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D. António Homem da comunhão para esperança do mundo A Exortação Apostólica Post-Sinodal Pastores Gregis do Sumo Pontífice João Paulo II apresenta os Bispos como homens que, reflectindo no próprio ministério a “eclesiologia de comunhão, são verdadeiramente motivo de esperança para o seu rebanho”. Em Igreja, não pretendo elaborar um elogio fúnebre. Basta-me fazer memória duma vida dedicada a Deus e aos outros e situar-me no âmbito de acção graças por quanto Deus realizou através duma entrega incondicional ao Reino. D. António Monteiro, na pobreza interior, de si e das coisas, nas pegadas de Francisco de Assis como sacerdote Capuchinho desde 15 de Abril de 1951, percorreu, pessoalmente, uma espiritualidade de comunhão, edificando, por isso, uma Igreja-comunhão sempre ao serviço do mundo. Consciente de que “Fui eu, o Senhor, que te chamei, tomei-te pela mãe” acolhe o desafio “Eis o meu servo”, “Sobre ti fiz repousar o meu espírito” e gastou-se percorrendo os caminhos da auto-doação. Recorda-nos o Papa: “Se no Baptismo cada cristão recebe o amor de Deus através da efusão do Espírito Santo, o Bispo pelo sacramento da Ordem recebe no seu coração a caridade pastoral de Cristo. Esta caridade pastoral tem como finalidade criar a comunhão. Antes de traduzir em directrizes de acção este amor-comunhão, o Bispo deve esforçar-se por torná-lo presente no seu coração e no coração da Igreja através duma vida autenticamente espiritual”. Diante do seu cadáver teremos de aceitar este seu legado e testemunho. Para ele a comunhão não era uma mera atitude de amizade a alguns, mas um gesto de dedicação universal e multilateral. Soube, por isso, como Capuchinho, Reitor do Instituto Internacional de S. Lourenço de Brindes, Presidente da Conferência Nacional dos Institutos Religiosos de Portugal, Professor na Universidade Católica de Lisboa e no Instituto de Ciências Humanas e Teológicas do Porto e, particularmente, como Bispo de Viseu desde 1988, estabelecer uma rede de relações, pessoa a pessoa, e nunca como simples expressão de trabalho em equipa ou aposta num funcionalismo utilitário. Recordemos que, na linha da mensagem do S. Padre para esta Quaresma, a comunhão exige e supõe o acolhimento incondicional de Cristo nos outros e, situando-nos no ritmo da Semana Santa, a dimensão pascal do amor Cristão que é sempre morrer pelos outros para ressuscitar com Cristo. Acolher Cristo em todos e perder-se nos outros para os ganhar para Cristo foi o percurso espiritual e episcopal percorrido pelo D. António Monteiro. Esta comunhão para esperança do mundo é construída quotidianamente. Não basta considerá-la num plano teológico. Exige um dinamismo que compromete a vida toda. Quase sempre se corre o risco de a exigir realizada ou pretender que sejam os outros a efectuar esta missão. Sintomática e paradigmática a figura de Judas no Evangelho de hoje. É curioso verificar, numa dimensão material que podemos transpor para outros espaços, que ele “tirava o que nela se lançava”. Nunca o cristão poderá aceitar esta lógica. Por isso, Isaías recordava, na primeira leitura, que o serviço e amor que realizam a comunhão não têm tréguas. Quem se apaixona por ela “não desfalecerá”. Gosto de reler uma carta do D. António onde referia que estava a “concretizar a fase conclusiva do meu serviço a Deus e à Igreja”. “Não quero duvidar que esta situação está a fazer parte também do meu ministério sacerdotal e episcopal”. Não é só o activismo que constrói a comunhão. A dor abraçada é o melhor preço e aí o silêncio anuncia o amor de Deus. Mais, a cruz acolhida é a raiz da mesma comunhão. Com ela, as intempéries não vencem. Apaixonado pela comunhão D. António Monteiro quis concretizá-la em muitas dimensões. Recordaria três. 1.1. Com os leigos e consagrados, e porque não há comunhão sem formação, proporcionando-lhe condições para um crescimento na fé, em ambiente de fraterno convívio e condições condignas. “Nos fiéis leigos, que constituem a maioria do Povo de Deus, deve tornar-se cada vez mais visível a força missionária do Baptismo. Para tal, necessitam do apoio, estímulo e ajuda dos seus Bispos, que os guiem para realizar o seu apostolado segundo a índole secular que lhes é própria, sustentados pela graça dos sacramentos do Baptismo e da Confirmação. Para isso, será necessário promover específicos itinerários de formação que os habilitem a assumir responsabilidades na Igreja quer em estruturas de participação diocesanas e paroquiais, quer nos diversos serviços de animação litúrgica, catequese, ensino da religião católica nas escolas, etc.”(PG, 51); 1.2. Com os sacerdotes nos contactos quotidianos e na solicitude persistente que se expressa no carinho que, para uns e para outros, colocou na construção do Centro Sócio-Pastoral Diocesano. “Este afecto privilegiado do Bispo pelos seus sacerdotes manifesta-se sob a forma de acompanhamento paterno e fraterno das etapas fundamentais da sua vida sacerdotal, a partir dos primeiros passos no ministério pastoral”. “O outro momento é quando um sacerdote, por causa da idade avançada, deixa a guia pastoral efectiva duma comunidade ou os encargos de directa responsabilidade. Nestas circunstâncias e análogas, o Bispo tem o dever de fazer com que o sacerdote sinta quer a gratidão da Igreja particular pelas lidas apostólicas até então desempenhadas, quer a especificidade da sua nova colocação dentro do presbitério diocesano: é que ele conserva, antes vê aumentada, a possibilidade de contribuir para a edificação da Igreja através do testemunho exemplar duma oração mais assídua e da generosa partilha, a bem de seus irmãos mais jovens, da experiência adquirida”. (PG 47). Como o amor ao presbitério se inicia na estima e solicitude para com os seminaristas louvemos o Senhor pelas obras de restauro, quase completas, do Seminário Maior de Viseu. A comunhão eclesial manifesta-se dum modo feliz neste empenho pastoral que D. António não teve oportunidade de ver concluído. 2. Possuído por esta expressão da Vida Trinitária, oferece-nos, como Presidente da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé, um testemunho de diálogo ecuménico e de relações inter-confessionais. Recordo quanto à comunicação Social referia no primeiro encontro que tivemos com os Irmãos do Conselho Português das Igrejas Cristãs. “Hoje reiniciou-se o degelo” entre cristãos e protestantes. Tratava-se duma vertente da comunhão vivida em sintonia com os sinais dos tempos. 3. Com os Irmãos no Episcopado, a eloquência do trato e a simplicidade de vida, encontro-as expressas na carta que nos dirigiu quando iniciou a caminhada de maior fidelidade a Cristo na dor. “Quando me vejam ausente do vosso meio, certamente por impossibilidade, estarei unido em comunhão”. Só a impossibilidade a demovia mas nem esta destruía a certeza duma comunhão sincera. A partir deste testemunho de comunhão teremos de percorrer idêntico caminho para que o mundo hodierno reencontre a esperança e o sentido da vida. Alguém dizia que o amor é como o perfume. Ninguém o vê mas todos sentem a sua presença. Que terá a Igreja para oferecer ao mundo? Mergulhados num individualismo atroz, gerador de violências e terrorismos, o caminho da Igreja é a comunhão vivida como testemunho e oferecida como amor. Trata-se do “perfume de nardo puro e de alto preço”. É a oferta que Jesus aceita e que o mundo moderno espera. Não são as palavras que a propõem. Só as vidas a elucidam e delineiam como único futuro da Igreja. O mundo verá uma Igreja credível que apresenta um projecto audaz e convincente. A Trindade “descerá” em novo mistério de Incarnação para, através das mortes que o amor autêntico exige, apresentar um esboço duma sociedade mais justa e fraterna. O Bispo é ministro e servo da Comunhão para a esperança do mundo. D. António não defraudou a confiança que Deus nele depositou. Procurou ser o Servo do homem para que a fraternidade universal resplandece. Agora tem Cristo a acolhê-lo como “servo bom e fiel” e a dizer-nos “como ele fez, fazei vós também”. + Jorge Ortiga
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