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D. Jorge Ferreira da Costa Ortiga | 30 Dez 2006
«A pena de morte como o aborto são crimes abomináveis»
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Entrevista da Agência Ecclesia ao Senhor D. Jorge Ortiga Ao avaliar o ano de 2006, o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, apela à defesa da vida e é contra a aplicação da pena capital a Saddam Hussein Agência ECCLESIA (AE) - O mundo hodierno parece sem esperança e o desencanto apoderou-se dos portugueses. O que poderia ter sido feito para que esta falta de confiança fosse ultrapassada? D. Jorge Ortiga (JO) - Uma leitura superficial da sociedade portuguesa provoca um sentido de contrastes evidentes. Por um lado, nota-se uma ostentação e desejo de felicidade imediata; por outro, reconhece-se uma consciência de crise preocupante. Exteriormente somos iguais aos países mais ricos e somos forçados a reconhecer que a situação é grave. AE – Perante esta situação é urgente tomar medidas? JO - Parece-me que a sociedade portuguesa necessita, com urgência, da promoção dum humanismo integral. Trata-se duma redescoberta do sentido da felicidade, aceitando que só os valores podem construir um futuro de segurança e tranquilidade. O relativismo promete muito e oferece muito pouco. Só a coragem de recentralizar a nossa história num projecto de fidelidade ao passado, adaptando a nossa cultura às interpelações da modernidade, permitirá que caminhemos rumo ao verdadeiro e autêntico progresso. AE – Esse «autêntico progresso» foi uma das conclusões da Semana Social promovida pela CEP. Uma iniciativa importante onde se abordou uma «Sociedade criadora de emprego»? JO – Mergulhámos, com a ajuda de personalidades provenientes de vários quadrantes, na problemática do trabalho, como direito de todos, e das diversas situações que ele provoca. As opiniões foram elaboradas num clima de liberdade e profundidade dignas dum grande Congresso. As Actas, que estão a ser ultimadas, serão um instrumento de trabalho maravilhoso para regressarmos ao tesouro da Doutrina Social da Igreja. Com elas poderemos encontrar um itinerário para começarmos a pensar na celebração do 40.º aniversário da «Populorum Progressio» e no 20.º da «Sollicitudo Rei Socialis». Divulgar a Doutrina Social da Igreja AE – Este Património da Doutrina Social da Igreja deverá ser mais divulgado para não cair no esquecimento? JO – Temos um património que os cristãos mais empenhados e comprometidos devem conhecer. Só deste modo criaremos as condições necessárias para um mundo mais justo e mais humano. Quando tomamos consciência dos conteúdos da Doutrina Social da Igreja, sentimo-nos forçados a reconhecer a incapacidade de os comunicar. Quando os anunciamos e propomos, provocamos admiração nos chamados vanguardistas. Trata-se, por isso, dum compromisso pastoral sério a assumir: anunciar uma Doutrina Social que não é conhecida. AE – Tal como fizeram algumas figuras históricas da Igreja que este ano foram recordadas. Caso de D. António Ferreira Gomes, D. Sebastião Soares de Resende e o Pe. Américo. JO - A história de Portugal é rica de personalidades que não passaram para os anais do passado. Continuam vivas e deveriam ser recordadas. Trata-se de referências que nunca podem ser esquecidas. Estas e outras não são meros objectos de orgulho para a Igreja. São profecias vivas com as quais teremos de aprender a servir o homem. Foram profetas no seu tempo e continuam a ser luzeiros. Assim sejamos capazes de dar continuidade ao seu testemunho e testamento. A Igreja será sempre uma promotora da Vida AE – Ao fazermos uma revisão do ano podemos dizer que a problemática da vida esteve sempre presente nos trabalhos da Conferência Episcopal Portuguesa. O mote esteve e está centrado na vida? JO - A Igreja foi e será sempre uma promotora da Vida e da Vida com qualidade. Sabemo-nos enviados para que todos tenham a vida e motivados por este dever não deixamos de denunciar situações que consideramos erróneas e continuaremos a estar presentes com a palavra e com o testemunho duma caridade operativa. Publicámos documentos onde pretendemos usar uma linguagem muito clara e acessível a todos. AE – Publicaram os documentos e apelaram à participação dos movimentos nesta causa? JO - Motivamos os nossos leigos e movimentos para uma participação numa campanha que deve ser serena e objectiva. Queremos que as comunidades cresçam na sensibilidade para acolher e responder a todos os «casos» oriundos desta problemática. Resumindo, o empenho na causa da vida significa que acreditamos num valor humano inviolável que ninguém pode desconsiderar. Sempre preocupados pelas causas humanas, queremos dar ao cristianismo um rosto de atenção aos problemas com respostas que transmitam tranquilidade e serenidade a todos. Desejos para 2007 AE – Com o ano de 2007 à porta há desejos concretos para a igreja portuguesa? JO - A paz, como sinal da felicidade, está na raiz das nossas pretensões. Sabemos, porém, que ela resulta da promoção e da defesa da dignidade da pessoa humana. Espero, por isso, que, nas nossas opções pastorais nos comprometamos nesta aventura de dar dignidade a toda a Vida – desde a concepção até à morte – e à vida de todos com um carinho e atenção particular aos mais débeis. O Santo Padre falava duma «ecologia social», articulando a ecologia, como respeito pela natureza, com a ecologia humana numa atenção a todos. Bento XVI recorda ainda que a dignidade da pessoa passa pelo reconhecimento de direitos. Quero sublinhar particularmente, dois: o direito à vida e à liberdade religiosa. Acolho esta mensagem e gostaria de a ver concretizada entre nós. Daí que peço licença para fazer duas citações que assumo como desejos particulares para este ano 2007. Vejo aqui interpelações que os portugueses devem assumir como suas e a que as autoridades deveriam dedicar uma atenção especial. 1 - «Quanto ao direito à Vida, cabe denunciar o destroço de que é objecto na nossa sociedade: junto às vítimas dos conflitos armados, do terrorismo e das mais diversas formas de violência, temos as mortes silenciosas provocadas pela fome, pelo aborto, pelas pesquisas sobre os embriões e pela eutanásia. O aborto e as pesquisas sobre os embriões constituem a negação directa da atitude de acolhimento do outro que é indispensável para se estabelecerem relações de paz estáveis» (Mensagem, n. 5). Urge que os que acreditam no homem continuem a sua reflexão serena sobre a maravilha do dom da vida e se empenhem num anúncio digno e respeitoso desta verdade inviolável. 2 – No campo da liberdade religiosa, o Santo Padre sublinha que se trata dum direito humano fundamental “com graves repercussões sobre a convivência pacífica”. Daí que seja justo constatar: “Existem regimes que impõem a todos uma única religião, enquanto regimes indiferentes alimentam, não uma perseguição violenta, mas um sistemático desprezo cultural quanto às crenças religiosas”. Nesta linha peço para que trabalhemos na promoção duma cultura e mentalidade que, em perspectiva religiosa, favoreça a paz e o encontro das culturas e religiões. Só num diálogo inter-religioso, sério e profundo, se alimentará a alegria de vivermos num mundo de fraternidade universal onde Deus une as consciências e respeita a variedade dos cultos e religiões. A pena de morte como o aborto são crimes abomináveis AE – A defesa da vida deveria ser um princípio fulcral mas, recentemente, saiu a notícia que Saddam Hussein seria condenado à morte. Se tal vier a acontecer, será um atentado à vida? JO - As notícias internacionais trazem-nos a casa problemáticas em alguns países, a nós, que vivemos a atmosfera de alegria e paz do Natal e nos preparamos para celebrar o Dia Mundial da Paz. Uma das notícias que mais nos preocupa e faz sofrer é a situação do Iraque, terra de nascimento de Abraão, o Pai dos crentes, venerado pelas religiões monoteístas – judaísmo, cristianismo e Islamismo. A eventualidade da execução, por enforcamento, de Saddam Hussein, faz-nos pensar e, vivendo nós, em Portugal, uma luta empenhada pela Vida, não podemos calar-nos ou sermos indiferentes face a alguém que enfrenta a morte. No respeito integral pela legitimidade dos tribunais internacionais e pelo exercício do poder judicial de qualquer país, não resistimos, inspirados em gestos proféticos de João Paulo II e de Bento XVI, um na oposição negociada à guerra no Iraque, outro na audácia de visitar como pastor a Turquia, não podemos ser indiferentes ao que se está a passar. AE – Mas Saddam era considerado um tirano? JO - Defendemos o valor sagrado da vida, seja do inocente indefeso seja do tirano sujeito à injustiça. A nossa memória guarda a de inocentes condenados, a de tiranos absolvidos e também a de ditadores injustiçados no patíbulo da vingança popular. A Igreja é a favor da vida toda, em qualquer circunstância e em qualquer etapa. A pena de morte como o aborto são crimes abomináveis que contradizem a opção pela vida. O memorável Papa da Vida, João Paulo II, na sua «Evangelium Vitae» e no Catecismo da Igreja Católica, no meio de polémicas mais sentimentais do que racionais, defende que “não matarás” é um mandamento apolítico que não consente excepções. Espero que Deus, o Deus de Abraão, de Jesus e de Maomé, suspenda a espada da justiça humana e impeça que a justiça se transforme numa hipotética mas real atitude de vingança que nunca terá fim. AE – Suspenda a espada e envie a paz JO - Nas palavras de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz que triunfe a ecologia da Paz. Invocamos S. Francisco de Assis, o homem da natureza e da fraternidade, para “onde houver ódio” os homens de boa vontade, os amados de Deus, os crentes no Deus único levem e semeiem a Paz, a Shalom. Que o mundo inteiro seja uma cidade da paz, incluindo a Terra Santa e o Iraque, a Nigéria, Somália, Darfur, Sri Lanka e outros locais onde acontecem tragédias. in "Agência Ecclesia"
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