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ANO PASTORAL
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15 Nov 2015
A identidade do seminarista missionário
Discurso na Abertura Solene do novo ano dos Seminários
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A abertura solene do novo ano dos seminários encontra-nos plenamente comprometidos na dinâmica  de um novo Ano Pastoral. Isto leva a que todos os anos procure deixar uma palavra sobre a responsabilidade do Seminário na consciencialização e concretização daquilo que a Arquidiocese propõe como compromisso para os cristãos e para as comunidades. Na verdade, o seminário deve ser referência e estímulo que nunca pode ser negligenciado. Referência enquanto modelo para as implicações concretas a nascer ou a confirmar. Estímulo para quem ainda não despertou para este agir sinodal de uma Igreja que caminha de mãos dadas. 

A Arquidiocese dá e tem muito mais a dar ao seminário. O seminário tem muito a dar à Arquidiocese. Isto não manifesta qualquer tipo de juízo negativo, afirmando ou supondo que o seminário não está a dar um contributo positivo às comunidades. Antes pelo contrário. Está a ser comunidade aberta e presente nas paróquias e nos arciprestados. Agradeço este trabalho renovador junto das comunidades.

Mas desejo, ao mesmo tempo, e através de algumas ideias, que o seminário e os seminaristas interiorizem as missões, em sintonia com o que está delineado para este ano da fé anunciada, e que, nas suas comunidades, sejam agentes capazes de animar os desencantados e de incutir um novo ardor missionário que desinstala os cristãos e gera alegria na missão evangelizadora. 

A fé continua a ser algo a redescobrir nos seus conteúdos e nas implicações da vida. Durante muito tempo vivemos enclausurados numa visão restritiva e monolítica da fé. Hoje sabemos que as pessoas vivem a fé com diferentes ritmos e modalidades. Algumas dessas modalidades, mais epidérmicas, seguramente devem ser purificadas, mas outras, por serem válidas, necessitam do nosso acompanhamento e promoção.

Como fazer isto? Creio que nos preparamos todos, e particularmente vós, queridos seminaristas, para tão nobre desafio através, em primeiro lugar, da nossa conversão pessoal e, depois, por meio de uma preparação exigente. O nosso programa pastoral não poderia ser mais explícito neste domínio. Todo o cristão, e com maior propriedade o seminarista e o sacerdote, deve ser um discípulo missionário preparado para as exigências da nova evangelização. Os tempos são genuinamente novos e requerem, da nossa parte, um novo modo de estar em Igreja, um novo modo de estar com as pessoas e uma nova linguagem. Se somos incompreensíveis, se expulsamos as pessoas ou não estamos em comunhão com a Igreja, quem se apaixonará por Cristo? Não nos podemos esquecer que a experiência de fé é, muitas vezes, mediada por cristãos, sacerdotes e seminaristas. Somos instrumentos nas mãos de Deus. Esta é a primeira linguagem que a Igreja deve adoptar. 

Partindo do espírito do nosso programa pastoral, e antecipando o itinerário litúrgico que faremos na nossa Arquidiocese, gostaria de vos indicar cinco características da fisionomia do discípulo missionário, que é o grande objectivo deste ano pastoral e, sublinhando, do seminarista ou presbítero missionário.

Encontro. O termo paróquia deriva, como sabemos, do grego paroikía (pára–oikía)e significa literalmente junto da casa. Em consonância, o pároikos (pároco) era, para os clássicos, aquele que estava próximo da casa das pessoas, próximo das suas vidas. Disse ainda recentemente o Papa Bento XVI, na encíclica Caritas in Veritate, que «a sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos» (CV 19). Como é possível estarmos juntos das pessoas, numa vizinhança instrumental, sem sermos afectivos e próximos delas? Quando, por exemplo, falamos da importância de viver nas residências paroquiais é precisamente para sermos próximos, para sermos genuínos pároikos que criam oportunidades de encontro. Este encontro dá-se na visita aos doentes, nas conversas informais, nos sacramentos, na amizade. Se assim não for, em vez de sermos párocos seremos meros funcionários do sagrado. O tempo de seminário é uma graça para aprender – praticando – esta arte de verdadeiro encontro com todos. 

Discipulado. Creio que o primeiro capítulo do Evangelho segundo S. João deveria ser, este ano, de leitura e aprofundamento obrigatórios. Conta o evangelista que, certo dia, algumas pessoas, presenciando o baptismo de Jesus, ficaram admiradas com as Suas palavras. «Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus. Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: “Que pretendeis?” Eles disseram-lhe: “Rabi - que quer dizer Mestre - onde moras?” Ele respondeu-lhes: “Vinde e vereis”» (Jo 1, 37-39). O ano propedêutico que iniciamos recentemente pretende ser precisamente isso: dar a oportunidade, a quem se maravilhou com as Palavras de Cristo, de ir e ver, de fazer a experiência de Cristo e a experiência de viver fraternalmente em comunidade. Não é o tempo da preparação técnica para o governo da paróquia. É, antes, o tempo do discipulado. Saúdo, por isso, a equipa formativa, e de modo particular o P. Daniel, por esta decisão estruturante e encorajo-os a prosseguirem. Mas, e isto é fundamental, todos os seminaristas têm o dever de crescer diariamente nesta aventura de sair de si para ir a lugares e momentos que permitam ver Jesus.

Conversão. Um seminarista e um padre é credível e missionário quando, ele próprio, se deixou previamente converter pela Palavra de Deus. Outrora usaram-se meios rígidos de penitência em busca da conversão e do controlo pessoal. Mas, como escreveu Paul Gallagher, temos de ser Livres para acreditar, isto é, temos de nos con-verter, de nos transformar junto de Cristo. E transformarmo-nos junto de Cristo só pode ser um acto de profunda liberdade. Seria interessante, é uma simples ideia, se o seminário promovesse uma subida pelos escadórios do Bom Jesus, demorando-se longamente pelas fontes da purificação dos sentidos. A conversão é isso mesmo: a transformação da nossa identidade e do nosso corpo, como sinal de relação, para vivermos mais próximos de Cristo.

Missão. Os tempos, como disse anteriormente, são novos. Consequentemente a missão é nova. Estamos ainda à procura do modo mais eficaz para o fazer. Uma coisa é certa: a missão nasce da docilidade aos movimentos do Espírito Santo. Não é afinal Ele quem toca o coração das pessoas? Quando um seminarista se prepara para a missão, prepara-se, por conseguinte, para ser dócil ao Espírito. Dito ainda de outro modo. O seminarista e o padre estão ao serviço da missão e não a missão ao seu serviço. Indico-vos alguns traços da docilidade: simplicidade para ver com olhos novos, desprendimento para uma pobreza interior, exigência pessoal para irmos mais longe, estudo para uma melhor compreensão de Deus e do mundo, e piedade como a alma de tudo o que fazemos.

Comunhão. Aquela que é a última característica da fisionomia do seminarista ou do presbítero missionário poderia, muito bem, estar logo à cabeça. Sem comunhão, com Deus e com a Igreja, não vamos a lado nenhum. De que interessa atingirmos os nossos objectivos se chegamos à meta sozinhos? De que vale sermos os melhores se deixamos para trás pessoas que, de outro modo, poderiam chegar connosco à meta? A comunhão foi a principal descoberta do Concílio Vaticano II e, de modo particular, do Sínodo dos Bispos de 1985. Um tesouro tão precioso não pode ser desperdiçado. Gostaria, por isso, que todos vissem no Arcebispo este vínculo da comunhão, este carisma de unir as diversas partes e sensibilidades e que me ajudásseis a ser permanentemente elo de comunhão com todos, particularmente com os sacerdotes. Da minha parte podeis estar certos que não me furtarei a esta missão. Vivei afectivamente próximos de mim que eu vivo, desde já, próximo de vós.

Peço-vos, por fim, que dediqueis toda a vossa vida a uma pastoral de saída marcada por quatro características: 

– Saída das rotinas: procurai descobrir caminhos novos;
– Anúncio coerente: ousai, desde já, usar a linguagem do Evangelho através da vossa vida;
– Presença profética no mundo contemporâneo: não tenhais medo de estar no mundo como alternativa;
– Educação para os valores do cristianismo: o relativismo não é critério para progredir na vida humana e cristã.

Termino, pedindo a cada um: não percais nenhum dia nesta aventura de, aqui e agora, nesta Igreja de Braga e de Viana do Castelo, serdes discípulos missionários cheios de alegria.



Braga, 15 de Novembro de 2015

+ Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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