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30 Mar 2016
O suave perfume de Cristo
Homilia na Vigília Pascal, às 21h, na Sé Catedral de Braga.
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  © Avelino Lima

Caros irmãos e irmãs, eis-nos chegados à Vigília Pascal, aquela que é considerada, nas palavras de Santo Agostinho, “a mãe de todas as santas vigílias”. O dia vai longo, o céu escureceu, mas entrevemos, desde já, a alba do Domingo da Ressurreição.

Esta vigília é rica em simbologia e imagens. Configura-se como uma espécie de catequese mistagógica onde, por um lado, visa robustecer a nossa fé baptismal e, por outro, abrir a nossa inteligência às exigências de ser discípulo hoje. O fogo aceso no início simboliza o esplendor de Cristo ressuscitado que dissipa as trevas do pecado. Desse fogo acendemos o Círio Pascal e essa chama permanece acesa ao longo de todo o ano litúrgico (baptismo, crisma e funerais) para nos lembrar que Cristo é a “luz do mundo” (Jo 8, 12). Ao entrar na Igreja, segundo o antiquíssimo rito do Lucernário, o sacerdote leva consigo o círio pascal e aclama três vezes Lumen Christi (Luz de Cristo), ao qual a assembleia responde Deo Gratias (Graças a Deus). À medida que a Luz de Cristo avança, a escuridão diminui.

A simbologia de Cristo luz do mundo é particularmente significativa no Ano da Misericórdia. Nesta mesma Catedral, no passado dia 13 de Dezembro, abrimos solenemente a Porta Santa, isto é, a Porta do Sol. Ela é, como tive oportunidade de explicar, “símbolo de Cristo que nos convida a entrar no seu coração misericordioso entregue pelos outros até ao derramar da última gota de sangue […]. Ao escolhermos a Porta do Sol estamos a reconhecer que a sociedade hodierna vive mergulhada numa terrível noite que gera apreensão. Acontecimentos à escala mundial, como o terrorismo e o fundamentalismo, manifestam isso mesmo”.

Quando nos reunimos em oração, neste momento e em todos os momentos da nossa vida, estamos a desenvolver uma acção em favor da Humanidade. Poderão alguns considerar que é um gesto inócuo. Nada mais longe da verdade. Sempre que um cristão se recorda da Humanidade, a integra na sua oração e a eleva a Deus, está, efectivamente, a cumprir um gesto proactivo. A ausência da memória e da oração revela, isso sim, um desinteresse pelo bem comum. A título de exemplo, após os atentados da passada terça-feira, a frase mais partilhada nas redes sociais foi Pray for the world (Rezar pelo mundo), um indicativo do quanto a oração pode ser o motor que reconcilia a Humanidade e cura as feridas da violência insensata.

A nossa oração eleva-se a Deus como um agradável perfume de incenso. “Suba junto de ti a minha oração como incenso, e as minhas mãos erguidas como oferenda da tarde”, lê-se no Slm 141, 2.

Gostaria, neste momento, e na sequência das anteriores reflexões da Semana Santa, de enaltecer a importância do olfacto. Rezar com o sentido do olfacto espiritual é respirar Deus, porque ele nos faz perceber a profunda e complexa intimidade que nos liga a Ele. O olfacto comunica-nos aquilo que os outros sentidos são incapazes de comunicar. Ele não toca, mas é tocado; não vê, mas percebe; não escuta, mas reconhece. Esta diferença e complementaridade introduz-nos na beleza da relação. Sabe distinguir entre aquilo que é pessoal e impessoal ou impróprio. Ao percepcionar os diversos odores da vida, intui ao mesmo tempo as diferenças, as chamadas nuances.

Permitam-me a analogia: creio que os carismas, ou seja, os Movimentos e Congregações Religiosas na Igreja, são precisamente este olfacto que percepciona à distância aquilo que os outros sentidos não conseguem. Os carismas, dito de outro modo, são a dimensão profética da Igreja. Rasgam novos caminhos e impelem a transformação da Igreja. O apóstolo Paulo dizia que Cristo era um perfume “de agradável odor” (Ef 5, 2) e que a Sua fragrância era espiritualmente atractiva. Mas ao mesmo tempo, os seus discípulos são “o bom odor de Cristo, para aqueles que se salvam e para aqueles que se perdem” (2 Cor 2, 15). Agradeço publicamente aos Movimentos e Congregações da nossa Arquidiocese por perpetuarem nas paróquias, instituições e ambientes humanos este perfume agradável de Cristo. A vossa ajuda é indispensável à construção do Reino de Deus e ao fortalecimento da nossa identidade baptismal. Peço-vos que vos revitalizeis, convocando novos membros para a missão do anúncio de Cristo ressuscitado.

Há certos dias que não devem ser esquecidos na vida pessoal dos cristãos. O dia em que fomos baptizados é um desses dias. É com grata memória que recordo que faz hoje 72 anos em que fui baptizado.

É também com grande e sincera alegria que acolho o pedido destes sete nossos irmãos para serem baptizados. Fizeram-no após uma caminhada catecumenal, devidamente enquadrada num itinerário de iniciação cristã. Após o baptismo, serão chamados, com toda a propriedade, cristãos ou discípulos de Cristo. O seu pedido revela já o desejo de amarem a Cristo e de se integrarem na Igreja como missionários. A experiência que estão a viver esta noite não pode terminar. Deve ser replicada e anunciada a tantos outros que, infelizmente, ainda não tiveram a oportunidade de sentir o quanto Deus é bom. 

É consolador verificar que pessoas adultas aderem livremente a Cristo. Não ignoramos, todavia, e por muito que nos custe, que outros abandonam a Igreja. Sabemos que no passado os baptismos eram feitos – permitam-me um certo exagero de linguagem – por pressão social. Os tempos mudaram e verificamos que o baptismo resulta cada vez mais de uma escolha livre, consciente e desejada. Este novo quadro eclesial é, por isso mesmo, mais exigente e responsabiliza os neo-cristãos na construção de uma realidade eclesial e social evangélica. Caros irmãos e irmãs, não permitais que o fogo que esta noite arde no vosso coração se extinga com o passar do tempo. A vossa presença é, para mim, razão de esperança. Que o vosso testemunho comunique a alegria de ser cristão a muitos que deixaram esmorecer a sua fé.

Quando nos predispomos a um compromisso tão radical quanto este, significa que aceitamos Deus como o Senhor da nossa vida. O senhorio de Jesus é entendido na linha da presidência, da preferência, e não da exclusão. Jesus não rouba as relações com as nossas famílias, amigos, namorados ou esposos. Bem pelo contrário. Quando Jesus é elevado ao grau do Senhor, então torna- se referência e modelo, o que imprime uma exigência e uma doação que, de outro modo, não imaginaríamos. O perfume de Deus é a suave fragrância do amor. Assim como o perfume permanece mesmo após a pessoa se ter ausentado, assim a nossa entrega aos outros deve perpetuar-se para sempre.

Que Cristo ressuscitado permaneça sempre vivo nos nossos corações.

 

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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