Arquidiocese

ANO PASTORAL
"Juntos no caminho de Páscoa"

[+info e Calendário]

 

Desejo subscrever a newsletter da Arquidiocese de Braga
8 Jun 2015
Quatro pilares para construir a sociedade
Homilia do Sr. Arcebispo, dia 7 de Junho, na conclusão da peregrinação diocesana ao Sameiro.
PARTILHAR IMPRIMIR
 


Ninguém ignora, assim o creio e espero, que a Arquidiocese de Braga, através das suas comunidades, encontra-se a aprofundar as diversas exigências e dimensões da fé. O que significa e o que implica, hoje, ser um crente? Em que se diferencia a Igreja de outras instituições? No poder, tal como no passado, ou na responsabilidade eclesial e social?

Este ano, esperamos que os católicos reaprendam a vincular a fé à sua vida quotidiana. Em Outubro passado, inaugurámos um Ano Social e pedimos às comunidades que os cristãos vivessem a fé segundo o itinerário delineado nas 14 Obras de Misericórdia. Quisemos um maior empenho social por parte dos cristãos, dos movimentos e das estruturas, a fim de mostrarem este compromisso da Arquidiocese, promovendo a necessária dignidade dos mais carenciados e débeis. 

Viver a fé comporta consequências para a nossa vida. É um compromisso pessoal, reflectido e assumido, que se inspira em diversos valores evangélicos para depois os gravar na identidade cultural dos povos. A Igreja não vive para si mesma. Ela existe para o mundo e este, na complexidade das suas situações estruturais, necessita daquilo que alguém apelidou “suplemento de alma”. Recordámos várias vezes, neste sentido, que a fé deve, através dos cristãos, chegar às empresas, à economia, à política, aos serviços públicos da saúde, ensino e segurança, aos momentos de lazer ou de trabalho, à arte e valores patrimoniais, assim como à relação com a natureza e à ecologia.

Ao celebramos hoje a Festa do Corpo de Deus, estamos a reconhecer que a Incarnação de Cristo não foi algo efémero. Ela tem, na eucaristia, uma presença singular, real e permanente. Só assim compreendemos a razão do Corpo de Cristo ser adorado e, uma vez comungado, ser, para nós, alimento e força. A eucaristia é, de verdade, este momento de comunhão com Cristo que se prolonga em tantos gestos evangélicos na nossa vida. 

A partir da vivência da eucaristia, como momento inspirador de vidas de fé, sabemos que o nosso quotidiano deve estar norteado pelos valores sociais que promovam e favoreçam o desenvolvimento integral da pessoa. Gostaria de realçar quatro palavras que são pronunciadas com frequência mas nem sempre estão presentes na vida eclesial e social. Temos a responsabilidade de as descodificar e de reconhecer que a sociedade nunca será justa sem a sua vivência concreta. O Compêndio da Doutrina Social da Igreja enumera-as e explica-as sumariamente. A saber: a verdade, a liberdade, a justiça e o amor.

Onde está a verdade nos diálogos pessoais e nos discursos políticos ou, quem sabe, nas nossas homilias? Viver, respeitar e testemunhar a verdade é suficiente para construir um verdadeiro projecto universal. Neste tempo de pluralismo ideológico, não é correcto que os partidos camuflem as suas verdadeiras intenções. Quanto dualismo e quantas máscaras a esconder o que se é ou se pretende.

A liberdade, como sinal da verdadeira dignidade, deve ser redefinida e devidamente entendida. Assistimos, infelizmente, em nome da liberdade, a verdadeiros atentados à dignidade e liberdade humanas. A liberdade, enquanto valor, começa a exigir uma conveniente interpretação do seu estatuto para ser capaz de recusar “tudo o que é moralmente negativo”, num consenso de todos para uma sociedade evoluída.

A justiça tem uma importância primordial no actual contexto, uma vez que é ameaçada frequentemente. Ela não é apenas determinada pela lei mas insere-se no âmago “da identidade profunda do ser humano”, isto é, aquela realidade que nos faz reconhecer que todas as pessoas têm necessidades e direitos muito explícitos. Nunca se falou tanto da justiça como hoje e nunca é tão importante redescobrir a sua abrangência. A doutrina da Igreja sublinha que importa “superar uma visão contratualista” para a abrir ao “horizonte da solidariedade e do amor”.

A vida da caridade é o valor por excelência do cristão. Os valores da verdade, liberdade e justiça nascem do amor e estes não se compreendem na ausência da caridade. As relações humanas não podem ser regulamentadas, como muitos pretendem, sem a caridade. Só a caridade consegue “plasmar o agir social”. Ela deve ser o princípio motivador que leva aos outros valores e faz com que eles existam. Nos tempos que correm, pode ser oportuno reconhecer a importância da caridade no social e na política. No amor relacionamo-nos uns com os outros; na dimensão social colocamos todas as instâncias, incluindo a política, a agirem por critérios de amor ao bem comum e nunca de interesses individuais e pessoais.

Reconhecer a verdade do mistério da presença de Cristo na eucaristia levou-me a sublinhar a importância destes quatro valores estruturantes da sociedade. Mas importa que tudo seja assimilado em ambiente de estudo e de oração. Esta é uma tarefa imprescindível para a missão da Igreja. Só na oração compreendemos a profundidade destas verdades e o estudo facilita a compreensão lógica destas verdades. Daí que, nesta peregrinação Arquidiocesana, sinta a necessidade de pedir à Senhora do Sameiro que suscite nos cristãos esta dupla paixão. Mais ainda, a doutrina deve ser conhecida em ambiente de sadia convivência fraterna de irmãos que também se encontram para o lazer retemperador.

Penso que teremos, como Arquidiocese, de redescobrir a graça que o santuário do Sameiro pode proporcionar à Igreja e, por esta, a todo o mundo. Existem na Arquidiocese muitos santuários com a sua vida própria, e é bom que assim seja. O Sameiro, todavia, sintetiza o amor a Maria de todos os diocesanos. Daí o facto desta peregrinação ser considerada arquidiocesana. 

No Sameiro temos condições para orar num santuário maravilhoso que inspira a intimidade com Deus diante da belíssima imagem, de timbre minhoto, da Senhora do Sameiro. O Centro Apostólico deve ser aproveitado como espaço de descanso e, particularmente, de estudo e de reflexão para os movimentos e cristãos. Os espaços envolventes oferecem a tranquilidade para o convívio familiar e, quem sabe, paroquial.

Coloquemos diante de nós Maria, a Mulher que viveu intensamente a fé, e façamos por sentir este apelo a levar as convicções religiosas para os diversos ambientes humanos. Voltemos aqui mais vezes e reconheçamos a prioridade e a responsabilidade de trabalhar a fé. Invistamos para que a qualidade da vida cristã se demarque de tanta superficialidade que vai conduzindo o mundo para um beco sem saída.

Maria, Senhora do Sameiro, suscita nos nossos corações o desejo de sentir e experimentar o amor de Cristo para o levar alegremente ao coração do mundo. Como Maria, e alimentados pela eucaristia conscientemente vivida, ofereçamos Cristo ao mundo. Que a Mãe do Céu nos abençoe e nos faça acreditar naquilo que tem verdadeiro valor. 

Quero concluir com uma oração do Papa Francisco.

Ó Maria, fazei-nos sentir o teu olhar de Mãe,

guiai-nos para o teu Filho,

fazei que não sejamos cristãos “de vitrina”,

mas saibamos “meter mãos à obra”

para construir com o teu filho Jesus,

o seu Reino de amor, de alegria e de paz.


Sameiro, 7 de Junho de 2015


+ Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz


PARTILHAR IMPRIMIR
Departamento Arquidiocesano para a Comunicação Social
Contactos
Director

P. Paulo Alexandre Terroso Silva

Morada

Rua de S. Domingos, 94 B
4710-435 Braga

TEL

253203180

FAX

253203190