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24 Abr 2020
Sexta-feira da II Semana da Páscoa
Homilia no Paço Arquiepiscopal
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Continuemos a olhar para a vida da primeira comunidade de cristãos, fazendo com que se torne referência para nós. Não nos contentamos em saber mais algumas coisas. O seu dia a dia deve tornar-se inspiração para aquilo que hoje deveremos ser.

Na primeira leitura, tirada dos Actos dos Apóstolos, é-nos relatado um momento muito curioso. Sabemos que Jesus foi perseguido pelos judeus e morto pelas autoridades romanas. Tinha dito que os discípulos não seriam mais do que o mestre. Também os Apóstolos, que cumpriam a sua tarefa de anunciadores da ressurreição e de uma nova doutrina que estava a nascer, foram questionados e impedidos de pregar. Em muitas ocasiões passaram pelo Sinédrio e experimentaram as dores das duras prisões, típicas da cultura romana. Mais uma vez, o sinédrio reuniu-se para decidir o que fazer dos cristãos. Sem receio, aparece um fariseu, doutor da lei e venerado por todo o povo, de nome Gamaliel. Ergue a voz e suscita a reflexão. Recorda que era hábito naquela altura surgirem grupos de homens conduzidos por alguns chefes iluminados. 

Gamaliel diz que eles conseguiram juntar um pequeno grupo e que após a morte do chefe tudo tinha desaparecido. Convida o sinédrio a pensar dizendo-lhe que não se incomode. Se este novo grupo vem dos homens também desaparecerá. Mas se vem de Deus não poderá destruí-la e corre o risco de lutar contra Deus. Aceitaram este raciocínio e permitiram que os Apóstolos saíssem da sua presença em liberdade. Sairam da sua presença e continuaram a ensinar e a anunciar a Boa Nova. Sabiam que deveriam obedecer a Deus e não aos homens.

As palavras de Gamaliel devem robustecer a nossa fé na Igreja. Acreditamos em Deus Pai, Filho e Espírito Santo mas também acreditamos na Igreja. Acreditamos como exigência para sermos cristãos a dizer-nos que não o poderemos ser se não aceitarmos a comunidade dos fiéis como presença real de Cristo ao longo da História. Hoje, mais do que nunca, devemos reavivar esta fé e não ter medo de tudo aquilo que isso possa implicar. Não podemos ser cristãos sem a Igreja e teremos de crescer no seu seio com grande convicção e motivação interior.

Se acreditar na Igreja é um acto de adesão de fé, também significa que olhando para a história de dois mil anos não podemos duvidar que ela continuará. Passaram muitos impérios, culturas e civilizações. A Igreja no meio de um mar, muitas vezes tremendamente agitado, foi ultrapassando todos essas adversidades. Foram muitos os momentos de crise e mesmo de contra testemunho. Os valores evangélicos foram negligenciados e a coerência não estava em muitos cristãos. Afastaram-se do ideal cristão muitos irmãos na fé mas também os papas e membros da hierarquia. Surgiram seitas, cismas, divisões, separações. Mas Deus continuou sempre a guiar o Seu povo. Hoje sentimo-nos fruto de uma longa história como não há outra.

Depois, se olharmos para os tempos de crise, verificamos que foram momentos para regressar às fontes da autenticidade evangélica e caminhar numa profunda renovação. Ninguém ignora que também hoje nos encontramos em tempos conturbados. Não precisamos de entrar muito nos meandros da Igreja. Sabemos que há uma ânsia de renovação e o Espírito está a apontar para caminhos novos. Verificamos um Papa empenhadíssimo que não está só a dizer coisas bonitas e tomar algumas atitudes proféticas, mas que, em nome de Cristo e de um modo sinodal que envolve a muitos, está a pedir a renovação da Igreja. 

A certeza de que a Igreja não desaparecerá não nos dispensa de acreditar que a reforma tem de acontecer e que ela passa por cada um de nós. Há aqui responsabilidades diferentes. Não se pede o mesmo a um bispo, a um sacerdote ou a um leigo. Fundamental é que todos ouçam a voz do Espírito  e não impeçam que uma Igreja nova vá surgindo com a colaboração de todos. Daí que esta hora não possa ser momento para reclamar renovação se cada um não a quer interpretar na sua vida. A conversão é caminho obrigatório e ninguém se pode sentir dispensado. Interessante é verificar que, se eu me empenho numa vida nova de fidelidade ao Evangelho, outros, vendo que é possível um novo modo de vivar, não deixarão de começar a dar o seu contributo. As palavras paralisam. Os exemplos arrastam e, em tempo de tantas palavras que são ditas de variadíssimas maneiras, só a conversão de cada um conseguirá dar um rosto novo à Igreja. Muitos dirão que a Igreja está a travessar um momento de crise. Poderemos dizer que sim. Só que este tempo pode tornar-se certeza de uma nova Primavera eclesial onde a doutrina se conforma com a vida. Demos graças a deus por vivermos nestes tempos desafiantes. Não desiludamos e acreditemos que a Igreja não passará mas terá de interpretar uma renovação para caminhar sempre fiel ao Espírito.

 

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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