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8 Dez 2019
Imaculada Conceição, amor que dá vida
Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria
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  © DM | Sameiro

O dogma da Imaculada Conceição significa um privilégio único de Maria que lhe foi concedido em ordem ao nascimento de Cristo. Deveria ser mãe e, por isso, foi preservado do pecado original.

Esta verdade convida-nos a descobrir a maravilha do Natal como acontecimento a celebrar festivamente dentro de dias. A proclamação e representação desta verdade histórica traz à nossa mente o presépio. Conhecemos a sua história e a sua riqueza. Não quero afastar-me do espírito de advento que devemos viver com a sua espiritualidade própria. A Imaculada Conceição recorda-nos como Maria se preparou para viver o nascimento de Cristo. Antes, na Anunciação, abriu o coração para que Cristo o ocupasse. Com o Natal oferece-nos o seu filho como dom de Deus que veio para transformar o mundo numa casa onde os homens se amam entre si e trabalham para que todos possam viver com a dignidade de que estão revestidos.

Com Maria, queremos preparar o Natal. Este ano quero deixar uma proposta muito concreta. O presépio tem uma carga simbólica muito grande. Teremos de o preparar e acolher todas as suas lições, convertendo-nos e aproximando-nos mais de Maria, a toda pura, a primeira cristã.

Há dias, o Santo Padre assinou uma Carta Apostólica no local onde o presépio foi criado por S. Francisco de Assis. Com esta carta, o Santo Padre quer que o presépio não só não desapareça, mas que seja redescoberto e revitalizado. Sabemos como a sociedade do consumo o vai retirando das decorações do Natal e que quase não aludem ao nascimento de Cristo. Basta percorrer as ruas das cidades, vilas e aldeias, assim como das aldeias e casas particulares, para verificar que o que importa são as luzinhas com desenhos estranhos a esta época. Como cristãos, teremos de impedir que ele desapareça, solicitando às autoridades civis que o coloquem de novo nas praças e nas artérias como um dado cultural característico deste período. Por outro lado, teremos de assumir a tarefa que nos compete de os colocar nas nossas casas, em local bem visível, assim como nas grandes superfícies comerciais e montras das lojas. Compramos o que os interesses comerciais preparam. Deveríamos, cristãmente, ser mais coerentes com o mistério que celebramos. Não será, também, que os armadores, os decoradores das nossas cidades e praças deviam aceitar o espírito de Natal, propondo-o com imagens elucidativas e evocativas?

Se não tivermos uma intervenção activa, poderá acontecer que lentamente fique nas colecções particulares ou nos espaços dos museus. Não é, apenas, uma reprodução histórica a evocar um acontecimento do passado. Tem um significado muito actual que nunca poderemos esquecer.

Para além desta campanha familiar e social, para que não desapareça, necessitamos de o redescobrir no seu verdadeiro significado de evocação do nascimento de Jesus numa simples e humilde gruta, com Maria que no-lo oferece e S. José que o protege e acompanha. É o nascimento de Cristo que evocamos e, como em todos os aniversários, festejamos deste modo tão peculiar. Cristo nasce e muda o ritmo da história. Inicia-se uma nova época através da vinda de Cristo para caminhar com os homens. Cristo nasceu mas a Sua vida ainda não se realizou totalmente pois continua presente naqueles que se deixaram tocar pelo Seu amor, assim como nas comunidades que mostram a verdadeira fisionomia da família de Deus. 

No presépio há todo um conjunto de simbologias, que o Papa explica, e que devem ser acolhidas nas suas variadas interpelações. Nada é morto. Tudo pode falar e trazer interpelações para uma vida cristã. Daí que os cristãos e as comunidades deveriam ser capazes também de o revitalizar dando-lhe manifestações diferentes que não podem ficar só no domínio da arte ou da piedade popular. São linguagens claras que devem ser acolhidas. Gostaria de interpelar à criatividade dos nossos artistas para que ousem dar vida à simples mensagem de uma manjedoura que serve de berço.

O Santo Padre diz que o presépio deve ser “uma forma genuína de repropor, com simplicidade, a beleza da nossa fé”. Quantas maravilhas poderiam ser criadas para ficarem nas nossas casas ou nas montras, mas também para serem oferecidas como as prendas mais adequadas para este tempo!

A interpretação que o Santo Padre faz das diversas simbologias pode ajudar-nos a redescobrir e revitalizar o presépio. Quero referir uma que aparece quase sempre: o céu estrelado, na escuridão e no silêncio da noite. “Pensemos nas vezes sem conta que a noite envolve a nossa vida”. Nesses momentos, “Deus não nos deixa sozinhos, mas faz-se presente para dar resposta às questões decisivas sobre o sentimento da nossa existência”. A sua proximidade traz luz onde há escuridão e ilumina a quantos atravessam as trevas do sofrimento.

Este pensamento não nos dará alento e vontade de viver? O Natal é isso mesmo. Uma fonte de energia que renova e transforma, que dá força nas desilusões e resposta nas interrogações.

Este ano, na festa da Imaculada Conceição, façamos o esforço por compreender o presépio. Coloquemo-lo diante de nós, em casa e em tantos outros lugares, para que retiremos lições concretas para a nossa vida de discípulos. “Não é importante a forma como se arma o presépio; pode ser sempre igual ou modificá-lo cada ano. O que conta é que fale à nossa vida” (Papa Francisco). Que as nossas construções sejam capazes de nos recordar situações onde o Natal aconteceu por nossa iniciativa e responsabilidade.

Uma das lições mais significativas que podemos tirar do presépio é o cuidado e a salvaguardar dos mais frágeis. Penso, por exemplo, no crescente número de casos de violência doméstica que acabam, inevitavelmente, por ofender a vítima a título individual mas também a estrutura familiar num sentido mais amplo. É necessária uma legislação mais restritiva, uma vigilância cuidada dos vizinhos e familiares mais próximos, assim como a intervenção efectiva, quando necessária, das forças de segurança. Ao mesmo tempo, abemos que a solução não passa apenas pela legislação e intervenção da polícia. Precisamos de uma atmosfera educativa e cultural que promova a sadia convivência, mesmo em momentos de conflito, e o respeito incondicional pela vida e liberdade individuais. 

Isto não se impõe de fora nem nos períodos avançados da nossa vida. A violência doméstica desaparecerá quando as crianças nascerem e crescerem em ambientes que respeitem a individualidade das pessoas. Não é com atitudes de cada um vive como quer que a família será um lugar de paz. Urge reconhecer que faltam valores e que importa que reformulemos as nossas convivências tornando o amor uma experiência que abrange todas as dimensões da vida e não apenas uma. Que este Natal seja uma oportunidade para repensar o amor e que o tornemos alegria de fazer os outros felizes e não simples companheiros que convivem juntos sem laços que estruturam cada momento, muitas vezes com sofrimentos e dores. Muitas vezes o amor não é amado. Se o fosse, a violência e tantos outros dramas familiares não existiriam ou seriam ultrapassados.

A Imaculada Conceição e o presépio ensinam-nos, por isso, que o trabalho pessoal é, sobretudo, de ordem interior. Deveríamos ter um programa de vida que nos levasse, todos os dias, a confrontar-nos com o que fazemos. A vida é tão apressada e, muitas vezes, não temos tempo para reconhecer o que deveria mudar em nós. Mas este é, sem dúvida, o tempo favorável.

Olhando para os pequenos gestos que humanizam, Maria diz-nos que teremos de continuar a oferecer Jesus ao mundo. Precisamos de nos encontrar verdadeiramente com Ele, mas temos também, o dever de o oferecer aos outros e ao mundo. É o que a Igreja tem, não tem mais nada. Tudo o que faz orienta-se para esta finalidade.

 

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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