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28 Mai 2017
Ariana Grande e os cristãos coptas
Quem quisesse saber alguma coisa sobre o que sucedeu numa estrada egípcia teria de comprar o Correio da Manhã, a ovelha negra da imprensa portuguesa ou o bode expiatório de todos os males jornalísticos nacionais, ou o Jornal de Notícias, onde se encontrava a notícia mais completa sobre o massacre.
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por Eduardo Jorge Madureira Lopes

O início de um destaque incluído nas páginas de agenda do Público de quinta-feira sobre uma iniciativa prevista para esse dia oferece, inadvertidamente, uma adequada ilustração de um conflito entre modos de encarar a missão do jornalismo.
Dizia o texto: “É bem conhecida aquela afirmação que identifica a efemeridade do trabalho do jornalista: depois de lido, um jornal destina-se a embrulhar o peixe na manhã do dia seguinte... Mas não tem que ser sempre assim, e, de vez em quando, surge alguém a inventar destinos menos desprestigiosos para os jornais. É isso que os portuenses poderão hoje experimentar se se aproximarem, a meio da tarde, da Faculdade de Belas Artes do Porto. No programa da exposição ‘Do It’ – que é como quem diz, ‘Faça você mesmo!’ –, inaugurada no final de Março, o Público vai conhecer um destino diverso do esquecimento diário.”

No dia seguinte, uma fotografia, pomposamente intitulada “Público sculpture for strolling nas ruas do Porto”, documentava o que se tinha passado de tão memorável para resgatar o prestígio dos jornais em geral e do Público em particular: um indivíduo empurrava pelo chão portuense uma bola construída com edições do Público. Era a tal “escultura para passear”, much more appealing, se referida em inglês. Com a ocorrência, o jornal trocava um destino útil, “embrulhar o peixe”, por uma futilidade pretensiosa, o envolvimento numa manifestação artística sem relevância.

Também o jornalismo prefere, não raras vezes, o enfatuamento em detrimento do serviço, secundarizando, desse modo, a sua principal tarefa, que consiste em recolher e tratar informação, verificando devidamente a sua veracidade e apurando a sua utilidade, seleccionando, segundo critérios perceptíveis, a que deve merecer atenção e cuidando de a hierarquizar, também com alguma regra entendível.

As primeiras páginas dos jornais nacionais destacavam, na quarta-feira, um trágico acontecimento: um atentado terrorista que provocou, em Inglaterra, 22 mortos e 59 feridos, sobretudo adolescentes, que tinham ido assistir a um concerto de Ariana Grande. Ontem, os mesmos jornais não dedicavam qualquer espaço na primeira página a outra tragédia: um ataque terrorista que causou, no Egipto, a morte de 28 cristãos coptas (incluindo crianças) e o ferimento de 25.

Quem, na quarta-feira, tivesse lido a imprensa poderia ter ficado a saber minuciosamente quem é Ariana Grande – que tem 23 anos; mede 1,55 metros; é da Florida; deve o nome a uma personagem da banda desenhada, Oriana, a princesa cantora do filme Gato Félix; tem uma família, com origem italiana, da classe média; tem um meio-irmão, chamado Frankie, assumidamente homossexual – e quem a lesse nos dias seguintes conheceria abundantes detalhes sobre as vidas das vítimas. Mas lendo-a ontem nada se encontraria que ajudasse os que quisessem esclarecer-se sobre quem são os coptas.
Como os assassinos de Inglaterra e do Egipto tinham as cabeças forradas com as mesmas ideias, o número de vítimas era semelhante e nos dois locais havia crianças e jovens, é incompreensível que um jornal como o Público dedique, ao que aconteceu em Inglaterra, o espaço principal da primeira página, seis páginas de destaque, um editorial, e o cartoon e o texto de opinião que ocupavam a última página e, ao sucedido no Egipto, dez linhas. Ontem, para o Público, o privilégio dos destaques era concedido a dois temas: os filmes de Cannes “que nos vão ficar na memória”, dando-se, de resto, o caso, de, após a leitura das sinopses, se perceber que é improvável que fiquem na memória, e os resultados de mais um estudo académico, este da Universidade de Lisboa, sobre os custos da frequência do ensino superior.

É verdade que o que está mais próximo de nós é susceptível de nos interessar mais, mas isso não impõe que se seja indiferente ao que se passa mais longe. Por isso, a notícia do assassinato dos cristãos egípcios esteve nas primeiras páginas de jornais da Europa e dos Estados Unidos da América (El Mundo, Le Figaro, Corriere della Sera, Frankfurter Allgemeine, The New York Times). Por isso também, não se esperaria que, entre nós, o assunto ocupasse quase integralmente uma primeira página, como sucedeu com o jornal egípcio Al Akhbar, que fazia notar que “O terrorismo persegue os coptas”, mas é bizarro que o Diário de Notícias não tenha dedicado uma linha num canto inferior de uma página ímpar à carnificina no Egipto. “Um dia na estrada com os Moonspell”, título da manchete do jornal, pode ser muito palpitante, mas o que se passou na estrada por onde seguia a camioneta com cristãos coptas a caminho do Mosteiro de São Samuel, interceptada e alvejada por cerca de uma dezena de atiradores, não deveria ter ficado sem menção.

Quem quisesse saber alguma coisa sobre o que sucedeu numa estrada egípcia teria de comprar o Correio da Manhã, a ovelha negra da imprensa portuguesa ou o bode expiatório de todos os males jornalísticos nacionais, ou o Jornal de Notícias, onde se encontrava a notícia mais completa sobre o massacre.


Fonte: Diário do Minho, 28_05_2017, p. 2

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